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sexta-feira, 27 de maio de 2016

cotidianas #435




O sol brilhava. Quero-queros planavam e desfilavam pelo verde gramado. Era uma bela tarde de inverno. Distante, um grupo de pessoas, visivelmente contristadas, se reuniam em torno de algo. Era um caixão. Alguém havia morrido. Um breve olhar na expressão dos que ali estavam era o suficiente para compreender quem um dia foi aquele corpo. Havia gente que há pouco entrara na meia-idade, uns jovens com seus vinte e poucos anos e algumas crianças. A matriarca da família descansava sobre os olhos dos familiares. O significado das expressões era diverso. Porém, todos guardavam a mesma semelhança: a indiferença. Por ela ser uma avó distante? Por ser uma mãe que mais feriu do que amou? Ninguém pareceu profundamente abalado por perdê-la. Exceto uma. A especial. A com deficiência mental. A doentinha. A louquinha. A que não era bonita. Aquela que os primos ridicularizavam e não tinham paciência. Ela era a única que chorava. A única que pranteava como aquelas velhas senhoras de um tempo que não existe mais. Não era falso. Ela sentia a partida da avó. Cada vida era especial, para a mulher com quase quarenta anos que tinha a mente de uma menina de dez. Cada um era digno de todo seu amor.



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