Enfiou a lâmpada mágica dentro da mochila (não queria que nenhum dos colegas de trabalho a visse) e tocou-se pra casa. Desejava coisas que talvez até nem suspeitasse, mas naquele momento achava que desejava de fato fortuna.
Mal abriu a porta do apartamento e já se dirigiu para a sala. Esperançoso em estar prestes a mudar seu destino, esfregou a lâmpada e, embora com certa demora, o gênio saiu. Perguntou ao rapaz num tom de voz sem resquícios de gratidão e em legítima má vontade, a título protocolar:
- O que desejas, meu amo?...
Mal começou a tentar responder e foi interrompido pelo gênio:
- Tu tem alguma coisa pra comer aí? Caralho, tô morrendo de fome! Tipo coxinha, salgado, docinho... E Coca-Cola, tem?
Não precisou fazer as vezes de anfitrião, pois, bastante à vontade na casa de seu novo libertador, o gênio atacou a geladeira e serviu-se por si próprio. Aplacou uma fome de séculos de cárcere. Comeu de tudo que encontrou, lambuzando-se e emporcalhando a casa toda de farelos, cobertura de chocolate, pedaços de frango frito, cascas de frutas, merengue de bolo. Também bebeu refrigerante, vinho, água tônica, uísque e arak – para lembrar os velhos tempos de antes de ser aprisionado numa lâmpada exígua e idiota.
Cantou, dançou e gritou palavrões pela janela. Jogou cerveja para cima em gesto de brinde, tomou uma parte, vomitou outra, e depois seguiu comendo e bebendo de tudo até saciar-se. Até cansar.
Bêbado e estufado, pisoteou o que comera sobre o chão e deitou-se exausto no tapete da sala.
- Tu ia me pedir uma coisa, né? Desembucha. – lembrando-se, enfim, do que porventura fora fazer ali.
- Sim! Sim! – animou-se o rapaz, que começou a enumerar-lhe os desejos, todos não menos do que grandiosos.
Pedidos totalmente em vão, visto que o gênio, incapaz de realizar qualquer desejo dele próprio, quanto menos dos outros, já dormia profundamente, roncando sobre os restos do que havia comido e vomitado.
Ao rapaz, sem alternativas nem maiores aspirações, restou ficar ali sentado diante do gênio embriagado aguardando o momento em que ele despertasse.
Daniel Rodrigues
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