a vida passou como um
morcego
como um morto o cego
que ralenta
remora este acordar
cotidiano
sem memória
desmemoria cotidiana
que naufraga
entre o exit e o êxito
zerada
pelo saber-se nada:
nem jacto nem projeto
a poesia
pensada como um ponto (puctum)
cego na retina
sob um sol selvagem
a poesia
a ponta que rebenta desta corda
fragilizada pelo assédio do
diário afazer do real:
executivos gineteando
o cavaleiro das noites de overnight
onde o pulsar dos lêmures insones
rateia como um zero
zero e ratos-fatos
neste domingo de primeiro de ano
quarenta anos de poesia são um bloco
inútil de rasuras
garbage lixo basura
ouvi a fonte
uma vez
e o murmurar da fonte:
queimou-se a mão
desfigurou-se a escrita
na queimadura deformou-se o rosto
fechou-se-me o horizonte
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"poema qoelético 1: ano bom dia um"
Haroldo de Campos
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