- Dolores, mas que demora parece que você foi fabric...
Jim foi abrindo a porta sem ver quem era imaginando que fosse a dona da espelunca trazendo a garrafa de uísque que já pedira fazia meia hora, mas calou-se abruptamente diante do que viu no corredor.
- Você...? - foi tudo o que conseguiu dizer.
O homem na porta, todo de preto, com o chapéu baixo quase na altura dos olhos e polegares pousados no cinturão que acomodava uma pistola de cada lado, o encarava fixamente. Parado ainda fora do quarto continuou encarando Jim York por alguns segundos num silêncio angustiante, e então, em seguida, lentamente, sem esperar ser convidado, foi adentrando o quarto.
Sentou-se na cama. A quietude sinistra continuava imperando dentro daquele pequeno aposento empoeirado como eram todos os que a Dolores alugava para viajantes no andar de cima de sua cantina.
- Você deve saber quem eu sou, não? - disse o estranho finalmente quebrando o silêncio.
- S-s-sim... - confirmou o outro em meio a seu indisfarçável pavor.
- E deve saber como sou conhecido...?
Sim, Jim sabia. E sabia também que quem recebia a "visita" daquele homem estava irremediavelmente condenado. Mas como o encontrara? Não deixara rastros. Bom, diziam que ele sempre encontrava quem queria. E pelo visto, era verdade.
Desta vez apenas o olhar terrificado serviu de resposta.
- Então deve saber que acabou.... - disse com voz tranquila o forasteiro.
Jim engoliu seco. Assustado, correu rapidamente os olhos pelo quarto. A mala com o dinheiro, o chapéu, as botas... Num relance avistou seu coldre. Estava numa cômoda, não muito longe de seu alcance. E se num movimento ágil... Sempre fora um dos mais rápidos por aquelas bandas...
O estranho parecendo adivinhar-lhe os pensamentos, o advertiu:
- Eu não tentaria isso se fosse você.
O conselho travou qualquer tipo de intenção.
- Ora, vamos lá. ambos sabemos que é inevitável. - exclamou aquele homem tentando transmitir um tom amistoso.
- E se... nós negociássemos. - especulou Jim olhando para a maleta de dinheiro tentando um último recurso.
- Você sabe que isso é impossível. Eu sempre cumpro o combinado. Eu nunca deixei de completar um serviço.
Desesperado, percebendo que seu destino era inevitável, o pobre Jim pôs se a chorar. Chorava como uma criança.
Numa atitude pouco comum, aquele mercenário aproximou-se dele, passou-lhe o braço por sobre os ombros e apertou-o com firmeza contra-si.
- Ora, vamos lá, vamos lá. O que é isso? Fique calmo. Tome um pouco disso. - oferecendo um pequeno cantil prateado com uísque que trazia por dentro do casaco.
Jim, precisando daquilo, deu uma boa golada.
- Tem um baralho aí? - perguntou o pistoleiro.
O outro assentiu nervosamente com a cabeça.
- Pegue pr'a gente. A gente joga uma partida enquanto conversa e você se acalma, certo?
Novo assentimento, desta vez parecendo mais tranquilo.
- Você tem mais uísque aí? - quis saber o mercenário enquanto tomava assento e ia embaralhando as cartas.
- N-n-não, mas a Dolores vai trazer.
- Não vai, não. Acredite em mim. - afirmou o homem entre um olhar sugestivo.
(Bem que Jim havia estranhado o silêncio no saloon lá embaixo)
- Bom, vamos beber o resto do meu cantil e depois a gente vê o que faz. - completou o homem.
O forasteiro deu as cartas. Jogaram algumas partidas. O matador ainda deixou que Jim ganhasse algumas só para que se sentisse um pouco melhor.
Cly Reis
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