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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

cotidianas #659 - A grama do vizinho sempre é mais verde



O gramado da casa do Sr. Motta era uma maravilha. Todos os vizinhos invejavam aquela grama. Verdinha, limpa, plana, aparada... não havia como não admirar. Mas não era à toa que aquele jardim frontal era tão perfeito: todo o santo dia, sábado, domingo, feriado, dia chuvoso, frio ou quente, o Sr. Motta estava lá, cuidando de seu belíssimo gramado. Não é preciso nem falar que crianças e animais não eram nem um pouco bem-vindas àquele tapete verde cuidadosamente aparado, e com frequência eram enxotadas com veemência dos limites do vizinho rabugento. Havia casos, inclusive, de bichinhos que nunca voltaram a serem vistos depois de pisarem no gramado do Sr. Motta, não havendo, contudo, como provar que ele tivesse alguma coisa a ver com os desaparecimentos. Aos questionamentos e reclamações dos donos dos animais sumidos ou dos pais de alguma criança ferida ou assustada, o Sr. Motta simplesmente dava as costas e entrava em casa sem dar atenção ou satisfações ao reclamante. E a propósito de se trancar em casa, chamou atenção o fato de que fazia dias que o Sr. Motta não aparecia para cuidar do jardim. Um dia, vá lá..., a ausência até foi inevitavelmente notada, considerando a assiduidade quase mecânica do vizinho, mas ninguém deu muita importância num primeiro instante. Mas dois, três dias... Já se passava uma semana e os sinais da ausência do velho já podiam ser observados no jardim. A grama, outrora impecável, agora era alta e desordenada. Em poucos dias, o mato já começava a avançar pelos degraus da varanda da casa, mais alguns dias depois, subia pelas paredes e em menos de uma semana tomava a casa por inteiro engolindo-a num volume verde minimamente identificável.
Os vizinhos, num primeiro momento ficaram curiosos, depois passaram a preocupados e agora estavam muito perto do pânico e alguns  já cogitavam mesmo a hipótese de se mudar dali. O mato começava a invadir os terrenos vizinhos. Aquela grama, ou fosse lá o que fosse aquilo, não parava de crescer e se alastrar.



Cly Reis

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