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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Luiz Melodia - "Pérola Negra" (1973)





"Também tinha essa outra novidade,
 um negro recém-chegando no mundo musical
 com um estilo 
completamente pop,
 e misturando tudo:  rock, samba.
 Isso deixou confuso principalmente
 os mais tradicionais, conservadores. 
Teve criticas de jornalista que falava:
 'mas como esse Luiz Melodia desce o morro lá de cima,
 e a pele é negra e ele não faz samba.
 Qual é a dele?'.
 Coisas desse tipo, que entrava por um ouvido
 e saia pelo outro, logicamente."
Luiz Melodia



Sempre gostei de "Pérola Negra", de Luiz Melodia, mas com o passar do tempo esse disco foi crescendo cada vez mais na minha preferência até tornar-se, hoje, um dos queridinhos da minha discoteca. É, certamente, para mim um dos discos mais prazerosos de se ouvir da música brasileira. A elegância das interpretações de Melodia, a singeleza poética das letras, o ecletismo e a variedade sonora, fazem de sua audição um prazer quase indescritível.
Melodia transita entre ritmos com naturalidade, com leveza e beleza mantendo uma unidade mágica, coerente e encantadora no conjunto do álbum.
Abre com um choro, "Estácio, Eu e Você", declaração de amor ao bairro de origem, abrilhantado por ninguém menos que o mestre da flauta brasileira, Altamiro Carrilho; emenda com "Vale Quanto Pesa" que começa como uma balada melancólica, vira um jazz compassado, ganha cores de Beatles para enfim culminar numa espécie de rumba no refrão. O clássico "Estácio, Holy Estácio", outra reverência ao bairro onde nasceu, é um samba canção charmoso, um primor e certamente uma de suas canções mais marcantes. O disco segue com o rock "Pra Aquietar"; depois com o blues de letra sombria "Abundantemente Morte"; e vai adiante com aquela que dá nome ao disco, a excepcional "Pérola Negra", um número musical de bar esfumaçado, com sua letra apaixonadamente conflitante e marcante linha de metais. A balada "Magrelinha", cheia de alternativas sonoras e influências, traz mais uma interpretação daquelas inesquecíveis do cantor; para logo em seguida uma guitarra blues anunciar "Farrapo Humano" que vem com seu vocal funk, base soul e metais típicos de bandas de jazz de New Orleans. "Objeto H", um, rock charmoso, encaminha o final do disco que, finalmente fecha com um animado ritmo bem brasileiro do Nordeste, "Forró de Janeiro", com participação do experimental e lendário Damião Experiência, que colabora com brados, urros, guinchos e gritos numa performance que transita no limite entre o esquisito e o hilário.
Disco cujo nome não poderia ser mais apropriado, uma pérola da música brasileira concebida por um homem negro. Um negro do Morro de São Carlos, no Estácio, no Rio de Janeiro. Mais um dos grandes homens negros que ajudaram a tornar ainda mais rica a cultura deste país. E a capa, genial, concebida por Rubens Maia, com aqueles feijões todos e o artista com o mundo nas mãos, já sugere que ali dentro, com muitos temperos, temperos de todos os tipos e de todos os lugares, você poderá ser encontrado um prato perfeito para apreciadores da boa música.

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FAIXAS:
  1. Estácio, eu e você
  2. Vale quanto pesa
  3. Estácio, Holy Estácio
  4. Pra Aquietar
  5. Abundantemente morte
  6. Pérola Negra
  7. Magrelinha
  8. Farrapo Humano
  9. Objeto H
  10. Forró de Janeiro

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Ouça:




por Cly Reis

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