A luz se acendeu. Carlos se deparou com um ambiente totalmente revestido de veludo vermelho, cheio de algemas, chicotes, correntes e outros equipamentos estranhos, e uma cadeira, misteriosamente posicionada no centro do quarto. O estranhamento inicial se transfigurou numa expressão de agradável surpresa em seu rosto.
- Gosta de brinquedinhos, né, safada? - falou. - Tu é dessas que gosta de uns tapas, umas parada meio sadomasô, hein!
Ela, ainda perto da porta, deixou escorregar, suavemente, o casaco de pele pelo corpo, deixando à mostra o sensual conjunto de espartilho preto.
Os olhos de Carlos brilharam. Pensou na sorte que teve em uma mulher como aquela ter lhe oferecido uma bebida naquele bar.
O barulho da tranca da porta o tirou de seus pensamentos. A mulher o olhava, agora, de um modo um tanto enigmático.
- Gosta de bater em mulher, não é?
A pergunta o surpreendeu.
- O que...?
- Gosta de bater em mulher, né, machão? - ela reforçou.
- Uns tapinhas, umas maldadezinhas... - respondeu tentando dar um tom descontraído à conversa, entendendo que assim estaria 'entrando no clima'.
- Nilze! - interrompeu ela.
- Ahn? Que?
- Nilze. Conhece esse nome? - questionou a mulher com veemência na voz.
- Não sei do que tu tá falando. - agora já sério e um pouco desconfortável com a situação - Deve estar havendo algum engano...
- Nilze não é o nome da rua esposa? Nilze! Não tem engano nenhum. Ela me contratou pra dar um jeito em um covardão que bate em mulher. É tu por acaso?
- Eu... eu...
- "Eu, eu..." - imitou ela de maneira ridícula e completou - É o que eu faço: quando o 180 não funciona, eu dou um jeito em macho prevalecido que não respeita mulher. Ela me prometeu me pagar uma boa grana pra cuidar de ti, mas depois que ela me contou o que tu faz com ela, me mostrou fotos de como tu deixou ela, eu resolvi fazer de graça. E, olha vou fazer com prazer. - disse essa última frase com um sorriso quase sádico no rosto.
- Sua puta desgraçada!
Num despertar de ira, abandonou definitivamente a postura defensiva e precipitou-se para cima da musa de lingerie à sua frente.
Ela, confiante, apenas deu um passo para trás. Ele, em meio à investida, cambaleou, levou a mão à cabeça, apertou os olhos...
- O que você fez comigo, sua vadia?
- Nunca te disseram pra não aceitar bebida de estranhos? Devia desconfiar de uma mulher bonita se interessar por um cara como tu.
- ... eudimato! - foi o que conseguiu pronunciar, com dificuldade, entre os dentes cerrados pelo maxilar semiparalisado.
- Mata nada! - rebateu ela, bem descontraída enquanto escolhia algum daqueles instrumentos na parede.
Do chão, olhando para ela com o canto dos olhos, sem conseguir mexer a cabeça, ele viu a justiceira se aproximando com um instrumento tão estranho que nem conseguia imaginar como aquilo era utilizado, muito menos o dano ou a dor que aquilo poderia causar, onde quer que fosse usado em seu corpo.
Calçando as luvas cirúrgicas, e com aquele sorriso lindo que o desarmara naquele bar, poucas horas antes, aquela torturadora sexy, de espartilho e cinta-liga, anunciou com indisfarçável e sincera satisfação:
- Bem, vamos começar a brincadeira...
Cly Reis
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