cotidianas #735 - Nada Poderá Detê-lo
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foto: D.S. Sanchez |
Adu não entendia, absolutamente, o que os símbolos desenhados em seu torso significavam mas tinha plena confiança no velho Mafoh. Embora fosse conhecedor de práticas místicas e dono de métodos estranhos à compreensão comum, chamar aquele homem sagrado de feiticeiro não seria correto. Mafoh era antes um homem sábio com entendimentos de terra e além. Por isso Adu não contestou, quando ao expôr seu plano de fuga da fazenda, que o ancião lhe fizesse uma "proteção", como o próprio ancião definira. Aquela pintura em seu corpo e as palavras mágicas pronunciadas pelo velho Mafoh - rezas tradicionais carregadas com ele, provindas de seu povo, lá da África - tornariam o jovem invisível aos olhos de qualquer um que pretendesse lhe fazer ou causar mal. "Eu sinto cheiro de negro", dizia o Capitão do Mato sem, contudo conseguir encontrar qualquer escravo fugitivo à sua volta. Os cães se alvoroçavam, latiam, mas nem sinal da caça. E, no entanto, Adu estava ali, a não mais que cinco metros do grupo de busca. Mafoh lhe dissera que a condição para que a proteção funcionasse era que o jovem acreditasse. Se realmente acreditasse, estaria também acreditando nas tradições, nas origens de seus antepassados, em suas raízes. Adu acreditava! Ele sabia que naquele momento os deuses de seu povo estavam com ele e sua jornada seria iluminada.
Cly Reis
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