Na mesa, relembram, primeiro, a história do árbitro comprado, vivido magistralmente por Otávio Augusto, que além de marcar um pênalti inexistente, fez o jogador bater até acertar, e como não acertou nenhuma, ele mesmo, o juiz, encarregou-se de trocar o batedor. Depois alguém puxa a do ex-craque Paulinho Majestade, idolatrado por um repórter que quer fazer uma matéria sobre ele e descobre que o ex-craque encontra-se numa péssima situação, muito mal de vida, mas ao encontrá-lo para a entrevista, surpreende-se com a excelência que ainda desfila e com a reverência que ainda lhe prestam aqueles que o conheceram em seus bons tempos. Outro na mesa, ex-jogador do São Paulo e que dirige uma escolinha para crianças, conta a história do garoto que apareceu por lá, olhando o jogo, grudado na cerca, um moleque pobre, sujo, maltratado, mas que, chamado a jogar, mostrara-se muito melhor do que os garotinhos classe alta da escolinha. Muito talento mas que, por conta, provavelmente, das complicações na "quebrada" onde morava, não apareceu mais por lá.
Alguém lembra do Azul, jovem promessa, candidato a craque, enrolado com a mulherada e disputado por entrevistas nos programas esportivos, que, depois de um episódio de racismo que sofrera numa batida policial, possivelmente, acelerara as negociações para jogar na Itália.
Um fala em lesões, médicos, rezas, simpatias, outro lembra do caso do Caco, jogador do Corinthians que nunca se curava de uma lesão no joelho, até o dia em que o cunhado do craque o levou para um curandeiro lá na "área" deles, o Pai Vavá, interpretado hilariamente por André Abujamra.
Na última, o mais novo da mesa, um recém aposentado do futebol, conta aos demais o dia em que teve que dormir no terraço do hotel da concentração para deixar o quarto livre para a estrela, e o mãos bonitão do time, Fabinho Guerra, receber uma bonitona que conhecera no saguão, para desespero do técnico, brilhantemente interpretado por Lima Duarte, que exigia que todos os jogadores dormissem cedo.
A maioria das histórias é engraçada, algumas, são um pouco mais tristes, como a do garoto da escolinha, outras comoventes como a do Paulinho Majestade, outras trazem uma reflexão como a do craque abordado pela polícia por ser negro num carrão, mas em todo o papo, todas as lembranças está presente o vazio que fica na vida daqueles homens depois que a carreira acaba. É exatamente o que é expressado e torna-se marcante na fala de Naldinho, numa atuação esplendorosa de Flávio Migliaccio, no final do filme. A sensação de ser aplaudido por multidões, ser reconhecido na rua, parado pata fotos, autógrafos, e, de repente, não se sentir ninguém, sentir-se um nada, não saber sequer quem realmente é.
Em uma época que os programas de bate-papo com boleiros estão na moda, "Boleiros" é uma gostosa resenha com boas risadas e algumas coisas interessantes para se pensar.
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