O mundo é pequeno pra caramba
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
cotidianas #848 - "O Mundo"
O mundo é pequeno pra caramba
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
Música da Cabeça - Programa #374
Qual é a música? Vocês já devem ter adivinhado: a da cabeça, óbvio. Na semana em que Silvio Santos atravessou de vez a porta da esperança, a gente abre aqui nosso baú da felicidade recuperando mais um programa antigo, desta vez o de nº 280, rodado há exatamente 2 anos e no qual sorrimos e cantamos com André Abujamra, entrevistado da edição. O MDC vem aí, às 21h, na televisiva Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues la, la la la la, la la...
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sábado, 26 de agosto de 2023
ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial de 15 anos do ClyBlog - "Simple Pleasures", Bobby McFerrin (1988)
O Daniel Rodrigues me pediu pra eu escrever sobre um dos discos que eu gostaria de falar e um deles é o “Simple Pleasures”, do Bobby McFerrin. A primeira música, "Don't Worry, Be Happy", quando eu escutei, eu fiquei tão apaixonado, porque foi uma música que tocou muito nas rádios em 1988, e é muito legal. O arranjo, a harmonia, a melodia. É uma música muito fofa e muito bonita. Uma harmonia simples, maravilhosa. E dizem que essa foi uma das mais tocadas naquele ano e que, por isso, bateu um recorde mundial para uma música que não tem instrumentos. E é hiper pop! "Don't Worry, Be Happy”, para mim, me remete a muita alegria, felicidade, e dizem que as músicas que te fazem lembrar de coisas boas, fazem você lembrar de uma época boa da sua vida. O que não acontece com música triste - ou até uma música triste pode te lembrar coisa boa, né?
A seguinte desse disco é “All I Want”. Eu cheguei a ir a dois shows do Bobby McFerrin,e fiquei impressionado, porque só tinha ele e um microfone no palco. É algo inacreditável! E ele tem um grave e uma extensão, uma tessitura de voz maravilhosa. E uma coisa que me impressiona muito nessa música é o contrabaixo que ele faz. Além de ser uma extensão muito grave, tem um timbre muito louco. Parece que tem uma distorção no baixo. Essa música é genial: “All I Want”.
Esta outra também tem essa coisa do grave, que é “Drive my Car”. McFerrin tem uma coisa dos harmônicos, que ele faz com a voz, no agudo, pois ele está cantando em falsete. Quando o homem não consegue cantar muito agudo, ele faz uma coisa chamada “falsete”. Só que o falsete do Bobby McFerrin é tão maravilhoso, que tem uns harmônicos inacreditáveis! Eu soube que o McFerrin sabe tocar clarinete, que é um instrumento que tem muito harmônico e uma extensão muito grande. Então, eu comparo a extensão vocal do Bobby McFerrin com a de uma clarineta. Essa, “Drive my Car”, é realmente uma bênção! E a batera, tudo que você escuta é tudo ele que faz com a voz e o corpo. Para a bateria, ele bate no peito para fazer o bumbo. É uma coisa muito maravilhosa.
Bem, a próxima música é “Simple Pleasures”, que dá nome ao disco. Nesse disco inteiro, como ele gravou todas as vozes num overdub dele mesmo, ele faz uma coisa interessantíssima, que é a harmonia que ele faz para as coisas. É uma coisa muito louca, porque é muito natural. Mas com certeza, tem um estudo por trás de cada nota que esse cara canta. Outra coisa também é a interpretação dele. McFerrin é praticamente um ator quando canta, porque o timbre, a variação de colocação, o sotaque, enfim. Essa música é quase uma ópera.
A próxima música, "Good Lovin'", que me faz lembrar muito de quando eu fui para Nova York uma vez numa igreja evangélica e vi uma banda de gospel. Aquilo é uma coisa que faz ferver o coração de se ouvir! Essa música é mais ou menos isso: "Good Lovin'" é uma coisa de banda evangélica. E é muito louco, porque a única coisa que a gente precisa num lugar desses é um: "good lovin'", como a letra diz. Eu fico muito emocionado quando escuto sempre. Estou escutando e me sentindo feliz. Afinal, é muito legal você transformar uma coisa que não existe em coisas que existem. Essa é a função do artista para mim, e o Bobby McFerrin é um dos grandes artistas, um dos grandes compositores, um dos grandes músicos que existem. E dizem que ele agora é maestro também.
A seguinte faixa é “Come to Me”, que tem uma harmonização de quatro vozes! É muito inacreditável o que ele faz. Existe uma coisa em música que é fazê-la em bloco. Joe Pass fazia isso na guitarra, por exemplo. Como ele tocava muito sozinho, ele tocava toda a melodia e harmonia da música ao mesmo tempo. Essa música aqui é mais ou menos isso: McFerrin pega quatro vozes e canta inteiro e ainda faz harmonização junto. “Come to Me” é uma música que, para quem gosta de estudar harmonia, é realmente um é arroz, feijão, bife e batata frita.
"Susie-Q". Ele tem nessa música aquela coisa que eu falo de timbre. Tem um baixo sempre impressionante, mas tem uma questão de harmonização no timbre, que é inacreditável! Realmente é “chover no molhado” falar desse disco, porque é um disco que eu escuto há muito, desde 88. E ele ainda dobra uma voz em "Susie-Q", fazendo a voz do homem e da mulher numa oitava acima com falsete. É inacreditável, pois nessa época não tinham tantos recursos no estúdio para afinar voz - afinal, ele nem precisava afinar. É um presente ouvir esse disco.
“Drive”, a próxima música, ele faz um grave numa linha de baixo incrível. Chega a ser um walking bass, mas numa música pop. Também, ele faz uma harmonização com as vozes agudas em “Drive”. Praticamente se escuta ele dizer palavras no baixo, mas não têm palavras. Se você tira a cabeça, e fica imaginando que nesse disco não tem nenhum instrumento além da voz dele, e se você o ouve inteiro, você se fala: “não é possível!”. Ele transforma a voz dele em vários instrumentos. E ele canta “Drive” como a anterior, "Susie-Q": ele faz a voz aguda é a voz grave dobrado. E tem uma coisa de articulação também, pois não é muito fácil você dobrar a voz, ainda mais em oitava, assim, desse jeito. Essa música é foda!
Depois tem "Them Changes", que é maravilhoso também. Essa música tem novamente a questão da extensão. Tem alguns instrumentos, por exemplo, como eu já falei da clarineta, que vai de um grave até um agudo muito agudo. Tem uma brincadeira que a gente fala, que a clarineta é um instrumento alienígena, porque quando você toca oitava, não é a oitava que você está tocando: é a décima quinta, justamente para ter uma extensão maior. E o McFerrin tem uma extensão absurda! Nesta música ele tem o grave fazendo o baixo e depois ele dobra esse baixo com uma oitava acima. É outra inacreditável , que dá pra dizer que é uma música “instrumental”!
E a última de “Simple...” é "Sunshine of Your Love", que é um Jimi Hendrix, né? Ele imita uma guitarra na voz, mas é lindo, porque ele não imita para parecer o instrumento. Parece, sim, que o instrumento é que está imitando a voz dele, de tão lindo que é.
por A N D R É A B U J A M R A
★★★★★★
clipe de "Don't Worry be Happy", dirigido por Drew Takahashi e estrelado por McFerrin, Robin Williams e Bill Irwin
★★★★★★
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
"Boleiros - Era uma vez o futebol...", de Ugo Giorgetti (1998)
Na mesa, relembram, primeiro, a história do árbitro comprado, vivido magistralmente por Otávio Augusto, que além de marcar um pênalti inexistente, fez o jogador bater até acertar, e como não acertou nenhuma, ele mesmo, o juiz, encarregou-se de trocar o batedor. Depois alguém puxa a do ex-craque Paulinho Majestade, idolatrado por um repórter que quer fazer uma matéria sobre ele e descobre que o ex-craque encontra-se numa péssima situação, muito mal de vida, mas ao encontrá-lo para a entrevista, surpreende-se com a excelência que ainda desfila e com a reverência que ainda lhe prestam aqueles que o conheceram em seus bons tempos. Outro na mesa, ex-jogador do São Paulo e que dirige uma escolinha para crianças, conta a história do garoto que apareceu por lá, olhando o jogo, grudado na cerca, um moleque pobre, sujo, maltratado, mas que, chamado a jogar, mostrara-se muito melhor do que os garotinhos classe alta da escolinha. Muito talento mas que, por conta, provavelmente, das complicações na "quebrada" onde morava, não apareceu mais por lá.
Alguém lembra do Azul, jovem promessa, candidato a craque, enrolado com a mulherada e disputado por entrevistas nos programas esportivos, que, depois de um episódio de racismo que sofrera numa batida policial, possivelmente, acelerara as negociações para jogar na Itália.
Um fala em lesões, médicos, rezas, simpatias, outro lembra do caso do Caco, jogador do Corinthians que nunca se curava de uma lesão no joelho, até o dia em que o cunhado do craque o levou para um curandeiro lá na "área" deles, o Pai Vavá, interpretado hilariamente por André Abujamra.
Na última, o mais novo da mesa, um recém aposentado do futebol, conta aos demais o dia em que teve que dormir no terraço do hotel da concentração para deixar o quarto livre para a estrela, e o mãos bonitão do time, Fabinho Guerra, receber uma bonitona que conhecera no saguão, para desespero do técnico, brilhantemente interpretado por Lima Duarte, que exigia que todos os jogadores dormissem cedo.
A maioria das histórias é engraçada, algumas, são um pouco mais tristes, como a do garoto da escolinha, outras comoventes como a do Paulinho Majestade, outras trazem uma reflexão como a do craque abordado pela polícia por ser negro num carrão, mas em todo o papo, todas as lembranças está presente o vazio que fica na vida daqueles homens depois que a carreira acaba. É exatamente o que é expressado e torna-se marcante na fala de Naldinho, numa atuação esplendorosa de Flávio Migliaccio, no final do filme. A sensação de ser aplaudido por multidões, ser reconhecido na rua, parado pata fotos, autógrafos, e, de repente, não se sentir ninguém, sentir-se um nada, não saber sequer quem realmente é.
Em uma época que os programas de bate-papo com boleiros estão na moda, "Boleiros" é uma gostosa resenha com boas risadas e algumas coisas interessantes para se pensar.
segunda-feira, 22 de agosto de 2022
50º Festival de Cinema de Gramado - Bastidores e Premiados
Muito se fala sobre cinema e arte cinematográfica em razão do Festival de Cinema de Granado. Por óbvio. Porém, após ter participado como jurado na edição de 2021, realizada ainda de forma online em virtude da pandemia da Covid-19, motivei-me a, finalmente, fazer algo que nunca tinha conseguido: estar presencialmente no festival. Motivos pra isso, não faltavam: este ano, realizou-se a histórica 50ª edição do festival mais longevo ininterruptamente do Brasil e por ter me tornado este ano secretário da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), apoiadora institucional do festival e responsável por algumas das curadorias, juris e premiações. Outra motivação não menos substancial era o lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”, ao qual participo como um dos autores e que era importante marcarmos esse momento dentro do principal festival de cinema do nosso Estado. Afora isso, queria saber como era a emoção de viver o Festival de Gramado, ainda mais assim, no auge do inverno, em que tanta gente visita a cidade, que é a mais procurada pelos turistas no Brasil esta época.
Nós da ACCIRS, no espaço Elizabeth Rosenfeld, lançando o livro em Gramado |
tapete vermelho do Festival de Gramado
Se coube a nós apenas o começo do festival, no entanto, nosso batismo foi com a devida graça dos deuses do cinema. Na sala de imprensa, logo após termos tirado nossas credenciais para podermos pisar o tão famoso “tapete vermelho” que dá acesso ao Palácio dos Festivais – ou seja, logo que conseguimos confirmar que poderíamos, sim, participar efetivamente do festival, o que haviam nos dito que talvez não fosse possível por ainda não termos credenciais até então – conversávamos com o colega de ACCIRS Paulo Casanova e somos surpreendidos pela atriz Marcélia Cartaxo, que veio em nossa direção como se nos conhecesse. “Será que ela se enganou?”, pensamos. Mas acho que não. Ao que disseram, é muito o modo de ela ser, assim, despachada e extrovertida, e prefiro acreditar que aquela foi uma bênção de Macabea ou de Pacarrete que recebemos por estarmos estreando no festival. Após o choque de ter sido procurado por Marcélia (que, aliás, ganhou mais uma vez o Kikito de Melhor Atriz, como já o havia feito por "Pacarrete", em 2018) para ganhar um abraço, atentado por Leocádia, fui atrás dela novamente para fazermos um registro daquele momento – afinal, todo mundo deve ter uma foto de seu batizado. Ao lhe abordar, agradeci por sua existência em nossos corações como personagens tão memoráveis. Ela retribuiu, generosamente, agradecendo também.
Leocádia e eu recebendo a bênção do festival de Gramado da divina Marcélia |
O talentoso Palmeira recebendo uma das principais honrarias do cinema brasileiro, o Oscarito |
Ao lado de Natália Pimentel e Restori, de "Lory F..." - antes de ganharem o prêmio! |
Sem se estender muito, cabe comentar que os dois longas brasileiros, que passam na programação noturna, agradaram. O triste e revoltante “A Mãe”, de Cristiano Burlan, que traz Marcélia como uma mãe em busca do filho desaparecido na periferia de São Paulo; e o cômico “O Clube dos Anjos”, de Angelo Defanti, adaptação e Luis Fernando Verissimo. A difícil tarefa de adaptar o autor do Analista de Bagé foi bem executada pelo diretor, embora o filme perca um pouco do ritmo do meio para o fim, mas consiga terminar bem. O grande trunfo de “O Clube...” é, porém, seu elenco. Nada mais nada menos que Otávio Muller, Matheus Nachtergaele, Paulo Miklos, Marco Ricca, Augusto Madeira, César Melo, Ângelo Antônio, Samuel de Assis, António Capelo e André Abujamra.
Este último, aliás, merece um aparte, pois tornou-se um novo amigo. Ao ver Abujamra no tapete vermelho (aliás, corrijo: Leocádia que o avistou e me avisou) abordei-o e, fã, quis entrevistá-lo para meu programa, Música da Cabeça. Fizemos ali mesmo, em meio à algazarra do público, mas deu tudo certo e a entrevista foi curta mas ótima. Justifiquei a Abujamra que se eu já tinha entrevistado Maurício Pereira e Pena Schmidt, os outros dois responsáveis pela lendária Os Mulheres Negras, não poderia perder a oportunidade de fazer o mesmo com ele.
Abu e eu: sintonia e entrevista em pleno tapete vermelho |
Tudo isso para confirmar o que disse no início: muito se fala em cinema no Festival de Gramado, mas estar lá, poder conviver ao menos um pouco com artistas, realizadores, colegas críticos, jornalistas, organizadores do evento e toda aquela turba de pessoas que lotam a cidade nesta época, caminhar pelas ruas, observar as reações, frequentar o comércio em alto movimento; prova que o festival é muito mais do que as sessões de cinema. É, sim, essa atmosfera, essa egrégora misto de encanto, excitação, surpresa, expectativa – e até certa afetação, confesse-se. O que tiro é que a experiência foi linda, a ponto de nos programamos para, em próximas edições, talvez voltarmos não só para a abertura, mas esticar um pouco mais e até cobrir todos os sete dias de evento.
O Kikitão e eu em pleno tapete vermelho |
O consagrado "Noites...", o grande vencedor |
Por ora, segue aqui a lista de premiados com os Kikitos desta histórica edição de meio século de Festival de Gramado. Quem sabe, ano que vem não esteja lá mandando just in time essa lista?
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LONGA-METRAGEM BRASILEIRO
CURTA-METRAGEM BRASILEIRO
LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO
Melhor Direção – Néstor Mazzini, de “Cuando Oscurece”
Melhor Ator – Enzo Vogrincinc, de “9”
Melhor Atriz – Anajosé Aldrete, de “El Camino de Sol”
Melhor Roteiro – Agustin Toscano, Moisés Sepúlveda e Nicolás Postiglione, de “Inmersión”
Melhor Fotografia -Sergio Asmstrong, de “Inmersión”
Júri da Crítica – “9”, de Martín Barrenechea e Nicolás Branca
Júri Popular – “La Pampa”, de Dorian Fernández Moris
Prêmio Especial do Júri a Direção de Arte de Jeff Calmet, de “La Pampa”
LONGA-METRAGEM GAÚCHO
CURTA-METRAGEM GAÚCHO - PRÊMIO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA — MOSTRA GAÚCHA DE CURTAS
LONGA-METRAGEM DOCUMENTAL