- Vamos logo, Mari, o pessoal tá esperando.
- Já vou, já vou.
Beto esperava impaciente, já posicionado ao lado da porta.
- Vamos, Mari! - insistiu, diante da persistência da demora.
- Tô indo! Que pressa! - reclamou ela aparecendo no estreito corredor do apartamento, segurando algumas garrafas cheias de um líquido amarelado e com trapos enfiados nos bocais.
- O que que é isso? - interpelou Beto um tanto incrédulo do que estava vendo.
- Temos que estar prontos, Beto. - disse ainda com um pedaço de trapo na boca - O inimigo é implacável. Temos que estar prontos pra tudo.
- Mari, eu falei que é uma manifestação pacífica. PA-CÍ-FI-CA!
- Diz isso pra eles, diz. Vai lá e argumenta quando eles estiverem te descendo a borracha.
- Não vai ter borracha coisa nenhuma. Não vai ter essas tuas coisas também. A gente só vai lá, estica as faixas, os cartazes, marcha até o local, grita aquelas palavras de ordem que a gente combinou e pronto.
Mari parou olhando fixamente para Beto com os braços caídos ao lado do corpo, em desânimo, com uma garrafa em cada mão.
- Agora larga isso aí e vamos.
Contrariada, deixou as garrafas no canto atrás da porta e saíram para a passeata.
**********
O povo bradava com os punhos cerrados e erguidos.
No meio da multidão, Beto parou com os gritos de guerra e olhou para o lado.
Mari não estava mais ali.
Vasculhou tudo apressadamente em volta, virando o pescoço para um lado e para o outro, quando finalmente a avistou lá na frente. Estava à frente da primeira fileira de manifestantes e a apenas alguns passos da tropa de choque. Levava em uma das mãos um pequno bloco de paralelepípedo de granito.
Antes de avançar contra a barreira de escudos policiais, ela ainda olhou para trás e gritou, "Desculpa, Beto, mas a mudança não vai acontecer com palavras bonitas".
Arremessou a pedra...
- Viva la Revolución!
Cly Reis
Gostei muito sim e concordo com a "Mari" a mudança não acontece com palavras bonitas...
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