Era um longo caminho até sua cela.
Com as mãos algemadas às costas, escoltado pelo carcereiro, o verme pulha canalha pusilânime percorreu aqueles não mais que 40 ou 50 metros sob vaias, piadas, xingamentos e ameaças das celas nas galerias laterais. Aquela distância parecia de quilômetros, aquele minuto, uma eternidade. A cabeça baixa não conseguia esconder os olhos vermelhos.
Ele, sempre tão valente, agora chorava como uma criança.
Finalmente pararam.
A grade corrediça arrastou para o lado e a cela se abriu à sua frente.
O carcereiro retirou as algemas e, levando a mão às costas do patife safado escroto covarde, o empurrou para dentro do cubículo de mais ou menos 9, talvez 12 metros quadrados. Dos beliches, dois outros presos, futuros parceiros de quarto, o encaravam com olhar de ódio, desejo, malícia, sede, ameaça.
Aquilo tudo parecia um pesadelo mas o pesadelo parecia muito real. Os olhos do condenado não conseguiam esconder o pavor.
Ele, antes tão machão, agora gritava como uma 'mulherzinha', como ele mesmo teria definido.
De repente acordou.
Tinha sido só um sonho mesmo!
Um sonho ruim.
Mas... aquela não era sua casa...
Ainda despertando, sem se situar bem, percebeu que era enlaçado por um braço.
Não era o de sua esposa.
Era um braço negro, cheio de pelos que o puxava suavemente de encontro a um corpo suado que repousava deitado às suas costas.
Quis gritar mas só emitiu uma espécie de grunhido abafado.
Sentiu um respiração quente no pescoço, ouviu um ronronar pertinho do ouvido e, do beliche de cima, recebeu uma bronca acompanhada de um palavrão reclamando do barulho àquela hora atrapalhando o sono dos outros.
Quis chorar mas engoliu o choro e, encolhido, apenas soluçou baixinho.
Aquela era apenas a primeira noite.
A noite parecia interminável, aqueles anos ali dentro seriam uma eternidade.
Cly Reis

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