"É pelo mito que se alcança o passado e se explica a origem de tudo. é pelo mito que se interpreta o presente e se prediz o futuro, nesta e na outra vida.
Mitologia dos Orixás
Fazia alguns anos que não íamos a Caixa Cultural Rio de Janeiro desde que o espaço se mudara do antigo prédio, próximo ao Largo da Carioca, para outra rua do Centro, mais propriamente a Rua do Passeio, na Lapa. E considerando que já presenciamos muita coisa boa lá – inclusive registradas aqui na sessão ClyArt, como as exposições de Francisco Goya, Ron English e Frida Kahlo – valia a pena, ao menos, conferirmos o novo espaço, reaberto ao público depois da mudança de endereço em 2022. E não decepcionou. Ao menos a principal exposição em curso, “Entre o Aiyê e o Orun”, foi de plena satisfação, visto que reúne obras de artistas bastante marcantes da temática afro-brasileira e acerta no tamanho: nem escasso e nem excessivo.
Com um interessante diálogo com a exposição “Ancestral: Afro-Américas”, que se encerrou no CCBB dias antes, a mostra da CC-RJ conta com vários artistas daquela outra, inclusive de trabalhos das mesmas séries, como a escultura em ferro de Zé Adário a Ogum, marcantes nas duas. Dentro desta filosofia curatorial atual dos espaços expositivos de trazer a questão do negro em seus diversos aspectos (algo percebido em São Paulo também), esta, em específico, diferente da outra, que buscava paralelos entre a arte afro-brasileira e afro-estadunidense, trabalha a os mitos da criação do mundo e da humanidade nas religiões de matriz africana.
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| Escultura "Ogum Xerequê", de Zé Adário (2019) |
A mostra reúne obras de 14 artistas, em técnicas diversas como pintura, desenho, escultura e fotografia, incluindo nomes consagrados das artes plásticas como Agnaldo dos Santos, Carybé, Emanoel Araújo, Jayme Figura, Pierre Verger, Ayrson Heráclito, entre outros. Pouca representatividade feminina, contudo: apenas Nadia Taquary entre os selecionados pela curadoria, o que se pode dizer uma falha.
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| Um dos desenhos de Carybé |
Disposta em duas salas e muito bem condensada, a exposição consegue reunir obras bastante significativas para o contexto sem precisar se estender, o que talvez seja, aliás, uma interferência motivada pela mudança de lugar, uma vez que o antigo espaço era bem mais amplo e praticamente obrigava a que, ao menos a atração principal, tivesse mais obras (o que também é mais caro, obviamente). No entanto, não deve em nada para alguma mostra maior como são geralmente as do Museu do Rio de Janeiro (MAR) ou mesmo do já citado CCBB.
É possível ver, por exemplo, a versatilidade de artistas como Heráclito, que tem tanto esculturas em aço quanto fotografias. Igualmente, a habilidade escultórica de Jayme Figura, autor de “Roupa” (1980) e das máscaras em ferro (ambas sem título ou data). Especial também a pintura sobre algodão cru de J. Cunha, as sempre impactantes fotos de Verger e a série de desenhos de Carybé reproduzindo instrumentos, ferramentas, gestos e modos direto dos terreiros da Bahia de todos os Santos: Gantois, Opô Afonjá e Candomblé da Casa Branca. Pura riqueza.
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| Escultura em madeira de Agnaldo dos Santos |
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| A arte ritualística de Nadia Taquary, única mulher da exposição |
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| Belas esculturas de Zé Adário e J. Cunha |
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| Fotos de Pierre Verger na Bahia e na Nigéria (anos 50 e 70) |
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| Fotos também de Ayrson Heráclito... |
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... que também surpreende pela escultura em aço "Juntó - Opaxorô com Oxê" (2022) |
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Série de Nadia Taquary Dinkas Orixás: miçangas de vidro da |Rep. Checa, prata, cristal e búzios |
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| Escultura em ferro (que parece madeira) de Mário Cravo Jr. |
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| A impressionante "Roupa" de Jayme Figura |
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| Mais esculturas em ferro de Figura |
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| Lindo conjunto de J. Cunha: tela e cerâmica |
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| Mário Cravo Jr., escultura em metal de 1982 |
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| Mais de Verger na Nigéria |
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| As sempre imponentes obras de Emanoel Araújo |
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| Parede dedicada só a Carybé |
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| Nanquim e aquarela sobre papel |
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| Mais Carybé: costumes do povo baiano |
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| Filhos de Gandhy pelas lentes de Mário Cravo Neto (déc. de 90) |
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| Rubem Valentin e Mestre Didi juntos |
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| Outra imagem, um díptico, de Mário Cravo Neto |
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| E fechamos com mais um Carybé |
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exposição "Entre o Aiyê e o Orun", vários artistaslocal: Caixa Cultural Rio de Janeiro
endereço: Rua do Passeio, 38, Centro - Rio de Janeiro / RJ
período: até 25 de outubro de 2025
visitação: de terça a sábado, das 10h às 20h - Domingos e feriados, das 11h às 18h
ingresso: gratuito
Daniel Rodrigues
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