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domingo, 18 de abril de 2021

14º Cine Esquema Novo - Debates com realizadores da Mostra Competiviva Brasil



Exercer o papel de crítico de cinema, definitivamente, nem sempre é apenas escrever ou comentar a respeito de filmes. Aliás, ficar somente nisso é até limitado em termos de crítica. Por isso, com satisfação mediei três debates para os quais fui convidado como membro da Associação de Críticos do Rio Grande do Sul (ACCIRS) no 24° Cine Esquema Novo - Arte Audiovisual Brasileira, uma realização da ACENDI - Associação Cine Esquema Novo de Desenvolvimento de Imagem com recursos da Lei 14.017/2020. 

Fora as atividades das quais participei, o festival teve uma impressionante quantidade de outras programações, como filmes, seminário, oficinas, ações e outros vários debates sobre os 31 filmes em disputa. Ao final, foram escolhidos pelo júri – composto por Fernanda Brenner, Flavia Guerra, Graciela Guarani e Linn da Quebrada – pare receber o Grande Prêmio 14º Cine Esquema Novo “Os Últimos Românticos do Mundo”, de Henrique Arruda (PE), e “Célio’s Circle”, de Diego Lisboa (BA/SP). Além destes, levaram reconhecimentos de destaque ”Perifericu”, de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira (SP, Prêmio Perspectiva); “Ser Feliz no Vão”, de Lucas H. Rossi dos Santos (RJ, Prêmio Requadro); “Entre Nós e o Mundo”, de Fabio Rodrigo (SP, Prêmio Contra-Plano); “Caminhos Encobertos”, de Beatriz Macruz e Maria Clara Guiral (SP, Prêmio Quebra de Eixo); e “Atordoado, Eu Permaneço Atento”, de Henrique Amud & Lucas H. Rossi dos Santos (RJ/SP, Prêmio Ficção).

No meu caso, suscitado a dialogar sobre diversos temas, não raro delicados e polêmicos, mas sempre urgentes e necessários de serem abordados como racismo, política, violência, gênero e comportamento social. Foram, ao todo, nove títulos sobre os quais me debrucei, três em cada encontro, cujos temas e aspectos depreendidos eram ligados e debatidos à luz do fazer cinematográfico e de seus contextos sociopolíticos e culturais.

Telas preenchidas com debatedores convidados nos três encontros em que participei no CEN 2021

O desafio foi interessante para alguém que até então havia participado como jurado e debatedor mas ainda não como mediador. No primeiro, dia 10/4, temas como preconceito de raça e gênero, violência urbana e identidade circundaram os filmes “As Vezes Que Não Estou Lá”, de Dandara de Morais (PE), “Fazemos da Memória Nossas Roupas”, de Maria Bogado (RJ), e o já citado “Entre nós e o Mundo”, com a presença de seu diretor. 

No segundo, dois dias depois, os questionamentos penderam para as verdades obscurecidas pela sociedade e pela história e as dimensões oníricas da vida (e da arte). Porém, não menos instigantes. Isso, através do aprofundamento dos filmes “Vento Seco” (GO), “Deserto Estrangeiro” (RS) e “A Chuva Acalanta a Dor” (CE/Portugal), que contou com a participação de seus realizadores: Daniel Nolasco, Davi Pretto e Leonardo Mouramateus, na ordem por obra.

Por fim, no dia 14, estive na interlocução daquele que talvez tenha sido ainda mais pulsante dos debates. Reunindo Lia Letícia, pelo filme “Per Capita” (PE), Victor Abreu, por seu “Milton Freire, um grito além da história” (RJ), e a dupla Rubens Rewald e Jean-Claude Bernadet – este último, lendário crítico/roteirista/cineasta/professor, uma referência para o pensamento do cinema brasileiro –, que competiam no CEN com o fervente “#eagoeraoque?” (SP). A situação política do Brasil foi propositadamente provocada não apenas em razão deste título, mas também no desassossegador curta de Lia e no forte filme de Victor, que aborda a violência aplicada aos doentes mentais.

Para entender melhor essas poucas e superficiais observações, recomendo altamente que se assistam os vídeos dos debates, que o CEN disponibiliza em suas redes. Aliás, estes e os vários outros debates e vídeos das diversas atividades, que trazem um conteúdo rico para quem preocupa-se em questionar assuntos prementes da nossa sociedade. Como disse o ilustre convidado Bernadet não nesta, mas numa outra ocasião, o fazer da crítica de cinema não pode se resumir a apenas avaliar filmes, mas, sim, exercer um papel ativo na interação com a produção e a criação da obra fílmica. Ao menos, tentei.

Confira os vídeos com os debates:

Debate 1 (10/4): 
As Vezes Que Não Estou Lá - Dandara de Morais, direção e roteiro
Entre nós e o Mundo - Fabio Rodrigo, direção e roteiro
Fazemos da memória nossas roupas - Maria Bogado, direção e produção



Debate 2 (12/4):
Vento Seco - Daniel Nolasco, direção
Deserto Estrangeiro - Davi Pretto, direção
A chuva acalanta a dor - Leonardo Mouramateus, direção



Debate 3 (14/4): 
#eagoraoque - Jean-Claude Bernardet e Rubens Rewald, direção
Per Capita - Lia Leticia, diretora e roteiro
Milton Freire, um grito além da história - Victor Abreu, direção e roteiro


Daniel Rodrigues