A primeira coisa que escrevi nele foi “Proud Mary.”
Eu não tinha ideia do que isso significava, mas,
depois dessa vez, sempre que tinha uma ideia,
anotava no caderninho.
O que descobri foi que,
se eu tivesse um nome que soasse bom,
eu podia tentar escrever uma música
que se encaixasse nele."
John Fogerty
Outro discaço do Creedence Clearwater Revival! O que, aliás é quase uma redundância. Banda certeira, sem grandes craques no time mas com um compositor criativo e guitarrista competente, repertórios de ótimas releituras e que sempre trazia algum grande clássico. "Bayou Contry", de 1969, é mais uma confirmação de tudo isso. O rock elegante de "Born on the Bayou", a energia de 'Bootleg", o blues arrastado (não é defeito!) de "Graveyard Train", a versão para "Good Golly Miss Molly", mais "bluesada" mas não menos vibrante que a original de Little Richard, o blues rasgado e de solos matadores de "Penthouse Pauper", "Keep on Chooglin" que com sua longa duração garante espaço para todo mundo brincar um pouquinho, e o rock típico sulista da eterna "Proud Mary" fazem de "Bayou Country" um disco daqueles que a gente fica empolgado ao ouvir. Rock da melhor qualidade! Por tudo isso, este segundo álbum do CCR tem lugar de destaque na discografia da banda e, como não poderia deixar de ser, também no salão de honra do rock'n roll. Carimba lá: é ÁLBUM FUNDAMENTAL.
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ANDRÉ : É...é uma pesquisa sobre o tipo de música que as pessoas preferem.
Será que o senhor podia me responder algumas perguntas?
GORDO: Tu quer saber o tipo de música que eu prefiro? Rock.
ANDRÉ: Rock. Tem alguma banda preferida?
GORDO: Creedence.
diálogo do filme
"O Homem que Copiava"
Não sei se alguém lembra, mas nos anos 90 o Guarani de Campinas tinha um jogador chamado Creedence Clearwater. Não jogava nada. Centroavante daqueles grandalhões, plantados, estáticos. Me chamava a atenção um pai chegar ao ponto de batizar o filho com o nome de uma banda de rock. Tem que gostar muito. Tem que ser muito boa a banda.
Na época eu não conhecia o grupo, mas sempre tive curiosidade de ouvi-los. Conheci, efetivamente, tarde, apenas quando vi o filme “O Homem que Copiava”, no qual em uma cena, ao som de um rock'n roll empolgante, o protagonista André, numa locadora de vídeo, pergunta para um cliente de fones de ouvido, um gordo que via com frequência por ali, qual seria sua banda favorita, ao que o homem desconfiado pela abordagem estranha, responde “Creedence”, quando então revela-se para o espectador que a música de fundo da cena era na verdade a que o cliente ouvia nos seus headfones, seguindo-se a partir dali uma emocionante cena de assalto e perseguição.
Acho que ali foi definitivo para eu curtir Creedence. Nesse meio tempo, entre o filme e os dias atuais, conheci mais algumas coisas, descobri que já tinha ouvido em outros comerciais de TV, que algumas coisas que eu conhecia eram deles e eu sequer sabia, e assim fui gostando cada vez mais. Passei a querer muito ter algum disco dos caras mas encontrava coisas caras, passava alguma prioridade na frente, ou mesmo, não sabia exatamente o que adquirir. Foi por intermédio do meu Sagrado Livro "1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer" que eu tive a dica do álbum “Cosmo's Factory”, que entre algumas outras da banda ali destacados, me pareceu o mais interessante pela descrição da resenha e pelo fato de ter a tal música do filme. O curioso é que nunca o encontrava. Me deparava com outros da banda mas nunca com este que estava decidido a comprar. Mas eis que há pouco tempo topei com ele por aí e não hesitei. Finalmente tinha o meu Creedence!
“Cosmo's Factory” abre com a interessantíssima “Ramble Tamble”, uma canção que começa enérgica, num ritmo alucinante, para depois mergulhar numa viagem psicodélica, algo meio progressivo, com um belíssimo, longo e arrastado solo de guitarra de interlúdio, para no final ganhar ritmo novamente e encerrar em grande estilo. “Before You Accuse Me”, que a segue, é uma versão mais encorpada do clássico de Bo Diddley, embora não consiga por essa consistência superar a original. A dobradinha na sequência é pra quebrar tudo: “Travelin' Band”, a tal música do filme, e “Ooby Dooby”, que a segue, são duas pedradas enlouquecidas, bombásticas! Rock'n roll de primeira! Dois petardos frenéticos de fazer o cidadão sair dançando esteja onde estiver.
“Lookin' Out My Backdoor” e “Up Around the Bend” salientam mais o sotaque caipira característico da banda e presente na maioria das músicas; “Run Though the Jungle” é forte e intensa com destaque para o baixão poderoso e imponente; e “Who'll Stop the Rain”, um dos maiores sucessos da banda é uma canção folk-rock com um certo apelo pacifista, muito comum àquele início dos anos 70.
Imortalizada na voz de Marvin Gaye, “I Heard It Through the Grapevine” ganha uma versão extensa com ares grandiosos, numa execução impetuosa, cheia de energia, com bateria alta e vocal rasgado em determinados momentos, nesta que é uma das grandes músicas do álbum que poderia tranquilamente encerrá-lo tal a sua monumentalidade, mas que ainda tem adiante “Long As I Can See the Light”, uma soul-music chorosa e melancólica que, aí sim, o encerra, diga-se de passagem muito dignamente, cumprindo perfeitamente o papel de faixa final de um grande disco.
Agora entendo porque Creedence é a banda preferida do carinha do filme, na locadora. Agora entendo porque é a banda preferida de tanta gente e é essa verdadeira lenda do rock. Agora entendo porque um pai chega a ponto de pôr num filho o nome de uma banda... Não...Não. Na verdade, aí eu já acho um pouquinho demais. É muito bom, mas não é pra tanto. Menos, menos...
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FAIXAS:
Ramble Tamble
Before You Accuse Me
Travelin' Band
Ooby Dooby
Lookin' Out My Back Door
Run Through the Jungle
Up Around the Bend
My Baby Left Me
Who'll Stop the Rain
I Heard It Through the Grapevine
Long as I Can See the Light
A edição de aniversário de 40 anos do álbum, em CD, traz ainda três faixas extra:
12. Travelin' Band (demo tape)
13. Up Aropund the Bend (ao vivo) 14. Born on the Bayou