Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Damien Chazelle. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Damien Chazelle. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

“La La Land - Cantando Estações”, de Damien Chazelle (2016)



Os sérios e os tolos
por Luan Pires

Fotografia é um dos trunfos do elogiado La La Land.
Lembro-me quando fui assistir “Os Miseráveis” no cinema e, por ser um musical todo cantado, metade das pessoas saíram no meio da sessão. Nunca entendi como musicais podem assustar as pessoas: poder imaginar como a vida seria se ao invés de "bons dias" mecânicos, conversas sobre o tempo e mau-humor rotineiro, tivéssemos que lidar apenas com sentimentos transformados em canções. Eu sempre me sinto muito bem – obrigado – quando assisto a um musical. E queria muito poder compartilhar isso. Afinal, bobo mesmo é levar a vida tão a sério.
Ensolarado, colorido, às vezes óbvio, às vezes surpreendente, “La La Land” mistura homenagem e inventividade de forma tão orgânica que é difícil discernir. As músicas podem não ser tão inventivas, mas algumas apresentam uma simplicidade grandiosa. Num mundo onde tudo é tão preto ou branco, escapar por uma janela de cor e música faz muito bem. E como diz a minha música favorita do filme, "um brinde àqueles que sonham, por mais tolos que eles possam parecer".




Não se pode ter tudo na vida
por Eduardo Dorneles

O casal romântico formado por Ryan Gosling e Emma Stone.
Uma excelente história de amor, muito bem contada que não abusa dos truques melodramáticos. Concluí isso logo depois de sair da exibição de “La La Land”. Também entendi que o filme seguiria os caminhos de outras obras com teor semelhante, como "O Artista" e "Birdman", que parecem que foram criadas para alisar o ego da indústria de Hollywood. Ou seja, oscarizados que alcançaram a unanimidade da crítica, mas logo caíram no ostracismo. Porém, mais de uma semana depois que assisti ao musical recorde de indicações ao Oscar de 2017, o filme só tem crescido dentro de mim. A cada momento que penso nele, mais camadas descubro e mais teses e interpretações faço.
Sim, é uma história de amor. Entretanto, também é uma história sobre sonhos. E também é uma história sobre “não poder ter tudo na vida”. E ainda é uma homenagem aos clássicos de Hollywood. Igualmente, é uma tentativa de avançar quanto aos processos narrativos – e é nisso que estão os pecados do filme. Enfim: é um grande filme! Se você é daqueles que recorre à arte para tentar tornar sua rotina maior que a banalidade que nos esmaga, ”La La Land” é aquela obra que para sempre servirá como metáfora para a vida. Afinal, todos nós precisamos escolher quais caminhos percorrer, quais sonhos seguir e quais abrir mão.



trailer "La La Land"





segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

"Whiplash", de Damien Chazelle (2014)



Os meios justificam os fins? Até que ponto você iria para realizar um sonho? As pessoas não sabem reagir a críticas negativas? Estamos acostumados a ser medíocres?  Foram esses questionamentos que me vieram à mente após assistir esse psico-drama (ou algo parecido com isso), "Whiplash".
Andrew Neyman (Miles Teller) é um jovem baterista, que ambiciona se tornar o maior baterista de jazz de todos os tempos. Ele consegue uma bolsa para estudar em uma das melhores escolas do país, lá Andrew entra para turma do renomado professor Terence Flecher (J.K. Simmons), famoso pelo seu rigoroso método de ensino. A partir dai acompanhamos a busca de ambos pela perfeição musical, observamos como Andrew vai aguentar Flecher e seus ensaios militares.
 O filme é só os dois personagens, e funciona muito bem. Não se engane esperando ver um filme onde tenha um opressor e um oprimido, aqui pode parecer isso, mas não é o caso, ambos buscam objetivo em comum, e partilham da mesma devoção pela música, ninguém é totalmente bom, nem totalmente mal, embora o roteiro seja cheio de clichês hollywoodianos.
Andrew tenta superar seus limites físicos e mentais
a fim de alcançar seu objetivo
Andrew pode ser o garoto com dificuldade de se relacionar com pessoas, dedicado aos seus estudos, que aguenta as aulas de Fletcher em busca de realizar seu sonho, e Fletcher pode ser o cruel professor que trata seus alunos de forma feroz, que passa do limite ao agredir seus alunos de forma verbal e física, sempre exigindo excelência em suas aulas, onde um pequeno erro pode levar o aluno à expulsão. Fletcher praticamente faz com que Andrew se autodestrua ao longo do filme. Outra visão que o filme passa, é que Andrew é um rapaz egoísta, que esta ficando obcecado pelo sonho de tornar-se grande, a ponto de terminar o namoro por achar que futuramente a garota vai atrapalhar seu objetivo, afastasse do seu pai, que era a pessoa que mais se preocupava com sua saúde mental, ele também menospreza seus colegas de banda, com os quais ele divide a bateria. Andrew tem muito talento, mas acaba ficando doente com a busca pela perfeição, literalmente ele dá o sangue pelo seu objetivo, não tem limites para ele, fará o possível para chegar ao topo, e agradar seu professor. Fletcher pode ser o excelente músico que toca piano de maneira suave, que ao ouvir de um amigo que sua pequena filha de cinco anos, que está dando os primeiros passos musicais, quer ser sua aluna futuramente, vem às lágrimas e chora de emoção, chora também ao saber que um dos seus alunos mais promissores acaba se suicidando por não aguentar a pressão. Ele apenas sonha em encontrar o músico perfeito, acha que as duas piores palavras da língua inglesa são "bom trabalho”, pois faz a pessoa se acomodar e não querer buscar melhorar. O filme deixa bem claro que a intenção de Flecher não é fazer com que seus alunos desistam da música, mas sim fazer com eles evoluam, embora seus métodos não sejam muito pedagógicos, essa, sim é sua real intenção.
Fletcher dando algumas "diquinhas básicas"
para Andrew.
Toda essa dualidade desses personagens fica muito destacada graças as excelentes atuações de Miles Teller que vem crescendo em sua carreira com bons papéis (esse ano estará de volta aos cinemas com o “Quarteto Fantástico”, onde será o Senhor Incrível) e J.K Simmons, com um personagem feito especialmente para ele, Simmons brilha a cada grito, seus movimentos corporais, ate mesmo nos momentos calmos, sua atuação é intensa, ele é o grande favorito para levar o Oscar de ator coadjuvante  (e vai ser merecido). O filme todo se sustenta no personagem de J.K.Simmons, apesar dele não ser o principal, até os cenários trabalham a seu favor. A primeira sala que Andrew estuda na escola, é apenas uma sala comum, em compensação a sala de Fletcher, é cheia de cores quentes, cheio de objetos dourados, um templo da música.
"Whiplash", além de indicado a melhor ator coadjuvante, também concorre em outras categorias técnicas, mas não acredito que leve alguma, além é claro, de concorrer a Melhor  Filme, mas este ano infelizmente para a equipe do filme e felizmente para nós, temos outros grandes filmes. Destaque para a direção competente Damien Chazelle (que também escreveu o roteiro) e para a montagem que é muito bem feita, misturada com o som do filme, que transformam Andrew e a bateria em uma coisa só, fundidos. O filme é cheio de closes fechados destacando as expressões dos atores, sentimos as dores de Andrew com os exaustivos ensaios de seu professor, e nos assustamos com o gritos próximos aos nos ouvidos de Flecher.
O ator Miles realmente tocou bateria no filme.
Algumas críticas negativas ao filme, por ele citar bastante a história de que certa vez Charlie Parker (saxofonista) tocou tão mal durante uma jam session, que Jo Jones (baterista) arremessou um prato em sua direção quase o decapitado, e Parker foi para casa humilhado, e ficou treinado, só retornou a banda um ano depois, quando inventou o "bebop", um estilo  virtuosos e revolucionário de se tocar, mas história original não foi assim, foi algo mais cômico, Parker realmente estava tocando mal, e fizeram uma piada com ele durante o show. Isso e um ponto positivo do filme, serve para fortalecer as ideias de Fletcher, ele não é um documentário sobre jazz, mas sim uma obra de ficção, faz sentido mudar um pouco da história para ajudar no roteiro, assim como as músicas são tocadas de maneira mais aceleradas  do que suas versões originais, para dar mais ação ao filme, acho isso fantástico. O filme pode ser muito melhor aproveitado por quem conhece o jazz e sua história (o que não é o meu caso), pois ele é cheio de referências, mas isso não é um demérito do filme, se você não conhece, calma, isso não atrapalha sua experiência.
"Whiplash" é um filme muito fechado, ele responde os questionamentos que ele mesmo faz, mas, ao terminar de ver o filme você pensa "eu concordo com isso?”. Uma historia muito bem contada, provando que clichês quando são muito bem utilizados, não há problemas. Assista à obra, descubra se você concorda com as respostas, sem falar que ouvir boa música é sempre muito bom, e a trilha sonora do filme é fantástica.

Obs: tenho certeza que logo após assistir Whiplash ou você vai sair batucando pela casa, ou vai para YouTube  pesquisar as referencias musicais do filme (eu fiz as duas coisas).