Para estrear o nosso quadro Clássico É Clássico (e vice-versa), como não poderia deixar de ser trazemos um grande clássico do cinema. Aqui, conforme anunciamos, uma produção de sucesso, consagrada, um filme marcante da história do cinema, é colocado frente a frente com sua refilmagem e, entrando no clima da Copa, como se fosse uma partida de futebol, avaliaremos quem sairá vencedor desse embate cinematográfico.
O primeiro filme a enfrentar seu remake é nada mais nada menos que "Psicose", filme originalmente dirigido por Alfred Hitchcock, em 1960, e que ganhou uma nova versão pelas mãos do diretor Gus Van Saint em 1998.
"Psicose" de Alfred Hitchcock é uma daquelas coisas magistrais do cinema! Um filme que começa como um policial, chega a sugerir algo sobrenatural e revela-se como um filme de serial-killer, tudo sem deixar cair a tensão em momento algum. Uma obra de arte que só por seu tamanho e grandeza não deveria permitir a ousadia de alguém tentar refilmá-lo. Pois bem: talvez percebendo isso mas ao mesmo tempo tentado pela admiração pela obra de Hitchcock, o norte-americano Gus Van Saint resolveu encarar o desafio mas provavelmente vendo-se incapaz de melhorá-la em qualquer quesito, talvez numa tentativa de homenagem, resolveu simplesmente imitá-la. Sim, a versão de 1998 é meramente uma cópia. Uma reprodução quadro a quadro, cena a cena, literalmente, sem qualquer originalidade. Pra não dizer que não tem diferença, tem a cor, que é um decréscimo considerável em relação à fascinante fotografia (propositalmente) em preto e branco de Hitchcock e, ah, tem umas imagens aleatórias entre um assassinato e outro mas que não representam nada de considerável no todo. E aí, entre o original genial, brilhante e arrebatador, e uma cópia deslavada sem nenhum mérito artístico, não tem como não ficar com a primeira.
A "versão" de Gus Van Saint não tem nenhum ganho. Nada! Anne Heche, apesar de insossa, ainda se vira bem como a ambiciosa Marion que rouba o dinheiro da empresa e vai se hospedar no sinistro Bates Motel; Julianne Morre como a personagem que vai no rastro da irmã investigar seu desaparecimento também dá conta do recado; William H. Macy até tem algum destaque como o detetive; mas o inexpressivo Vince Vaughn diante do perturbador Anthony Perkins como Norman, não sei se é de rir ou de chorar. Mas aí o espectador curioso fica com aquela expectativa pra ver a cena do chuveiro. Talvez seja legal... Nossa! É lamentável. Como eu disse, é a mesma cena, é uma cópia, mas é outra coisa! E para piorar, a opção pelo colorido acaba com grande parte da magia e do terror que Hitchcock soube extrair tão bem do monocromático.
A propósito de colorir, a fotografia em preto e branco é mais um gol para o Psicose preto e branco. 2x0.
Quanto aos atores, só para ficar no principal, Anthony Perkins simplesmente tem uma das atuações mais marcantes do cinema tendo forjado um dos personagens mais emblemáticos de todos os tempos enquanto o constrangedor Vince Vaughn é exagerado, pouquíssimo convincente e nada sutil. "Psicose" clássico , 3x0.
Roteiro? O roteiro é o mesmo, só que o diretor da refilmagem não tira nenhuma vantagem disso nem consegue imprimir qualquer valor novo a ele. Mais um gol pro velho Psicose. 4x0!
Elementos técnicos como montagem, som, luz, novos recursos e tecnologias, mesmo 38 anos depois da primeira versão não ajudam em nada a tornar a obra de Gus Van Saint melhor, por isso, nestes itens ele apenas não perde, mas também não ganha.
Quanto ao diretor, basta dizer que original é de Alfred Hitchcock e o outro de um diretor que sequer ousou mudar uma cena numa refilmagem. Bom, né... 5x0 pro Psicose do Hitch e um banho de bola.
O "Psicose" clássico é um CLÁSSICO mas o mesmo não vale para o inofensivo remake de Gus Van Saint que, como diria Norman Bates, não seria capaz de fazer mal a uma mosca.
O Norman de Perkins com sua expressão naturalmente ameaçadora e o de Vaughn claramente forçado. Um remake que nunca devia ter acontecido. |
Hitchcock dá cinco punhaladas em Gus Van Saint e o original vence a cópia com facilidade.
Cly Reis