"Revoluções começam em casa,
de preferência no espelho do banheiro."
do texto do encarte do álbum
Pode até não ser uma unanimidade mas pode-se afirmar sem medo que o Hüsker Dü é uma das bandas mais respeitadas da cena alternativa. Mesmo com a abertura musical promovida pela banda em "Warehouse: Songs and Stories" sua reputação permaneceu intocada diante de um público que não costuma tolerar muitas concessões mas que provavelmente viu na pequena mudança de comportamento musical do Hüsker Dü muito mais um amadurecimento do que uma traição, como muitas vezes costuma-se rotular os que desviam de sua linha original.
Neste disco de 1987, o Hüsker Dü deixava seu tradicional hardcore mais melódico sem, contudo, ficar meloso. Era apenas a admissão de influências e sonoridades dando vazão para outras possibilidades mas que não descaracterizavam de modo algum o som honesto da banda. "Warehouse..." é mais bem trabalhado, mais polido mas não menos original. A boa produção, a carga psicodélica e as alternativas sonoras experimentadas só fizeram dar mais valor ao som guitarrado e potente da banda, fazendo com que a verdadeira sonoridade e a qualidade da música ficasse mais evidenciada. Fruto de uma participação coletiva mais efetiva, ao contrário de outras ocasiões quando Bob Mould, o vocalista e guitarrista, centralizava as ações com raras exceções de concessão para o baterista Grant Hart, outro dos principais compositores da banda, o disco acabou gerando um material mais diversificado em relação a seus antecessores e mais numeroso também resultando na inevitabilidade de transformar aquele projeto em um álbum duplo. Mas é um daqueles poucos duplões que não cansam e, pelo contrário, deixam um gostinho de quero mais. Disco bom do começo ao fim. Uma musicaça depois da outra. Mas infelizmente, depois da obra-prima do Hüsker Dü o público ficou mesmo só no gostinho de quero mais pois "Warehouse: Songs and Stories" foi o último suspiro da banda que encerrou ainda naquele ano de 1987 suas atividades. Mas mais justo não seria chamar de "último suspiro" mas talvez de derradeiro sopro de criatividade e inspiração uma vez que o álbum, um clássico dos anos 80, da cena independente, do rock alternativo, perdura como um dos mais do rock contemporâneo sendo inspiração inegável e facilmente detectável na geração que se seguiria, especialmente no grunge e suas derivações.
Disco tão impecável que é quase injusto destacar algumas e deixar outras de fora mas, com certeza, não dá pra deixar de falar neste álbum sem lembrar de "Could Be the One?", "Standing in the Rain", "These Important Years", "She Floated Away", "Charity, Chastity, Prudence, and Hope" e... ah, todas!
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FAIXAS:
- "These Important Years" – 3:49
- "Charity, Chastity, Prudence, and Hope" – 3:11
- "Standing in the Rain" – 3:41
- "Back from Somewhere" – 2:16
- "Ice Cold Ice" – 4:23
- "You're a Soldier" – 3:03
- "Could You Be the One?" – 2:32
- "Too Much Spice" – 2:57
- "Friend, You've Got to Fall" – 3:20
- "Visionary" – 2:30
- "She Floated Away" – 3:32
- "Bed of Nails" – 4:44
- "Tell You Why Tomorrow" – 2:42
- "It's Not Peculiar" – 4:06
- "Actual Condition" – 1:50
- "No Reservations" – 3:40
- "Turn It Around" – 4:32
- "She's a Woman (And Now He Is a Man)" – 3:19
- "Up in the Air" – 3:03
- "You Can Live at Home" – 5:25
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Ouça:
Cly Reis