Quando o tempo está curto para fazer aquele tour saudável aos espaços expositivos da cidade, o negócio é aproveitar as situações possíveis e, assim, saber o que está rolando de legal em termos de artes visuais. Foi o que fiz recentemente ao visitar, por motivo de trabalho, o Instituto Ling. Supondo que ali encontraria alguma exposição interessante, coisa que a casa sempre proporciona, dei uma escapada do compromisso profissional para conferir o que havia em exibição no momento. E, claro, não me decepcionei.
A breve mas instigante “Museu”, do artista visual carioca Daniel Senise – um dos maiores expoentes da chamada "Geração 80" e um nome importante na cena internacional contemporânea –, já impressiona de cara nas telas de madeira. Aliás, ledo engano. Não se trata de madeira, e sim acrílica sobre papel sobre placa de alumínio. A minúcia do traço é tamanha que realmente dá essa impressão, haja vista que se enxergam as ranhuras e texturas típicas da madeira. Os trabalhos reproduzem detalhes de superfícies de salões de importantes museus ao redor do mundo, como National Gallery (Londres), a Frick Collection (Nova Iorque), o Rijksmuseum (Amsterdã) e Museu Nacional de Belas Artes (RJ).
A proposta da mostra, conforme a curadoria de Daniela Name, é expor a decadência do espaço museológico, o qual, em épocas de supervalorização das relações virtuais em detrimento do contato visual orgânico, é cada vez menos visitado, tendendo ao esvaziamento. “Os museus são hoje uma espécie de ruína, uma nostalgia de outro tipo de relação com a imagem. Apontam para a saudade de um diálogo mais vagaroso e áspero, distante da aceleração das redes sociais e suas fotografias produzidas num turbilhão ininterrupto, mas efêmero e deslizante, com pouquíssima aderência à memória”, diz o texto curatorial.
As outras quatro telas, monotipias de piso de cimento em tecido e médium acrílico sobre placa de alumínio cujas grandes dimensões são características do artista, vão além nisso: ambientes envelhecidos, em coloração sépia e fatidicamente vazios. Frios como naquela expressão popular: igual a um museu. A única manifestação humana é a (im)possível interação de quem aprecia – e que está, inevitável e condicionalmente, ausente da tela. Nessas, figurativas, aparece a força da perspectiva e do domínio espaço geralmente propostos no trabalho de Senise, Engenheiro de formação. Dialogando com as reproduções geométricas das outras obras, o que fica é o retumbante anonimato do tradicional espaço de abrigo da arte. Ironicamente, a exposição faz-se numa galeria, fundamentais , mas incomparáveis em significado e importância quando comparadas a um verdadeiro museu.
Madeira? Não: acrílica sobre alumínio |
Outra das superfícies inspiradas em detalhes de museus pelo mundo |
Cenário frio que lembra cena do filme "2001, Uma Odisseia no Espaço |
Perspectiva e domínio do espaço, características de Senise |
Espaços sem cor e inóspitos: retrato dos museus na atualidade |
A (im)possibilidade de interação do observador |
texto: Daniel Rodrigues
fotos: Pat Kilgore e Daniel Rodrigues