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quinta-feira, 25 de abril de 2019

Exposição "Museu", de Daniel Senise - Instituto Ling - Porto Alegre/RS



Quando o tempo está curto para fazer aquele tour saudável aos espaços expositivos da cidade, o negócio é aproveitar as situações possíveis e, assim, saber o que está rolando de legal em termos de artes visuais. Foi o que fiz recentemente ao visitar, por motivo de trabalho, o Instituto Ling. Supondo que ali encontraria alguma exposição interessante, coisa que a casa sempre proporciona, dei uma escapada do compromisso profissional para conferir o que havia em exibição no momento. E, claro, não me decepcionei.

A breve mas instigante “Museu”, do artista visual carioca Daniel Senise – um dos maiores expoentes da chamada "Geração 80" e um nome importante na cena internacional contemporânea –, já impressiona de cara nas telas de madeira. Aliás, ledo engano. Não se trata de madeira, e sim acrílica sobre papel sobre placa de alumínio. A minúcia do traço é tamanha que realmente dá essa impressão, haja vista que se enxergam as ranhuras e texturas típicas da madeira. Os trabalhos reproduzem detalhes de superfícies de salões de importantes museus ao redor do mundo, como National Gallery (Londres), a Frick Collection (Nova Iorque), o Rijksmuseum (Amsterdã) e Museu Nacional de Belas Artes (RJ).

A proposta da mostra, conforme a curadoria de Daniela Name, é expor a decadência do espaço museológico, o qual, em épocas de supervalorização das relações virtuais em detrimento do contato visual orgânico, é cada vez menos visitado, tendendo ao esvaziamento. “Os museus são hoje uma espécie de ruína, uma nostalgia de outro tipo de relação com a imagem. Apontam para a saudade de um diálogo mais vagaroso e áspero, distante da aceleração das redes sociais e suas fotografias produzidas num turbilhão ininterrupto, mas efêmero e deslizante, com pouquíssima aderência à memória”, diz o texto curatorial.

As outras quatro telas, monotipias de piso de cimento em tecido e médium acrílico sobre placa de alumínio cujas grandes dimensões são características do artista, vão além nisso: ambientes envelhecidos, em coloração sépia e fatidicamente vazios. Frios como naquela expressão popular: igual a um museu. A única manifestação humana é a (im)possível interação de quem aprecia – e que está, inevitável e condicionalmente, ausente da tela. Nessas, figurativas, aparece a força da perspectiva e do domínio espaço geralmente propostos no trabalho de Senise, Engenheiro de formação. Dialogando com as reproduções geométricas das outras obras, o que fica é o retumbante anonimato do tradicional espaço de abrigo da arte. Ironicamente, a exposição faz-se numa galeria, fundamentais , mas incomparáveis em significado e importância quando comparadas a um verdadeiro museu.

Madeira? Não: acrílica sobre alumínio

Outra das superfícies inspiradas em detalhes de museus pelo mundo

Cenário frio que lembra cena do filme "2001, Uma Odisseia no Espaço

Perspectiva e domínio do espaço, características de Senise

Espaços sem cor e inóspitos: retrato dos museus na atualidade

A (im)possibilidade de interação do observador


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Pat Kilgore e Daniel Rodrigues

sábado, 30 de dezembro de 2017

Exposição “Pulsations/Pulsações do Arquivo Vivo de Sérvulo Esmeraldo” - Instituto Ling - Porto Alegre/RS


O irreverente e criativo Esmeraldo, falecido este ano
Há programações que só são possíveis de se fazer quando se está de férias, mesmo que sejam dentro da própria cidade em que se mora. Pois, durante alguns dias de folga neste final de ano, pude, entre outras coisas, visitar com Leocádia o Instituto Ling, em Porto Alegre, com tempo e atenção. O centro cultural, de bela arquitetura e que respira bom gosto em todos os detalhes, é, por si, um local a ser visitado.

Porém, ainda por cima, o espaço está recebendo a exposição “Pulsations/Pulsações do Arquivo Vivo de Sérvulo Esmeraldo”. Artista cearense falecido em fevereiro deste ano, que eu não conhecia e que me foi uma grata surpresa tanto no que se refere à beleza de sua obra quanto, igualmente, de sua importância dentro do cenário das artes visuais brasileiras da metade do último século para cá.

Com curadoria de Ricardo Resende, a exposição traz um apanhado bem costurado de obras do artista ao longo de sua produção, desde as primeiras telas, no final dos anos 50, até a exploração tridimensional e geométrica, terminando com obras já deste século. Tudo isso passando por instalações, gravuras, desenho, esculturas e outros formatos que brincam com o conceito cinético da figura, seja pela abstração ou pela geometria, numa ampla experimentação gráfica. Claro/escuro, relevo, volume e densidade se revelam através de ranhuras, linhas, rabiscos, desenhos, tudo sempre supondo o movimento, o gesto, a existência dentro do espaço. Tudo sob um olhar irreverente e sagaz, o“espírito de criança”, conforme lhe define Resende.

Impressionantes a naturalidade das composições plásticas, que parecem valer-se enquanto obra sem nenhuma dificuldade, por "menor" que sejam. Caso da instalação "Sequência", criada quando da residência do artista na França, que funciona como uma peça-célula para a concepção de várias outras cujo "simples" conceito visual e cinético se expande a outras apropriações.

Quem não viu a mostra de perto, vale muito a pena dar um pulo lá e conferir. E se, como eu e Leocádia, ainda não tivera explorado o Instituto Ling, mais ainda. Mais de um motivo para apreciar belezas, às vezes, escondidas da cidade.

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serviço
Exposição “Pulsations/Pulsações do Arquivo Vivo de Sérvulo Esmeraldo"
local: Galeria do Instituto Ling
endereço: Rua João Caetano, 440, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre/RS 
período: até 31 de março de 2018
horário: de segunda a sexta, das 10h30 às 22h, e sábados, das 10h30 às 20h
curadoria de Ricardo Resende.
entrada franca.

abaixo algumas fotos da exposição:

Gravura e nanquim sobre papel: mistura harmônica de técnicas
A brilhante instalação "Sequência", peça-célula de várias outras obras do artista
Dois óleos sobre tela dos anos 50: ideia tridimensional já presente

Matriz em chapa de metal de 1961
O traço e o desenho abstrato dos anos 70
A peça "L’oeuvre gravée (burins)", de 1964-1969: raspas de chapa de metal em pote de vidro

Visão geral da galeria
Maquete de cenário feito em metal no qual brinca com volumes e com movimento
As recentes esculturas em metal que exploram volumes e o claro-escuro
Leocádia e uma das plásticas obras de Esmeraldo
Posando junto a uma das obras 3D do artista cearense

texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa e Gerson Tung/Divulgação