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domingo, 23 de agosto de 2015

cotidianas #388 - A Praga de Millhaven





arte: 23 Envelope
Eu vivo em uma cidade chamada Millhaven
E ela é pequena, ela é perigosa e ela é fria
Mas se você aparecer por aqui
Assim que o sol se pôr
Você pode assistir a cidade inteira virar ouro
É por volta dessa hora que eu costumo ir vagar
Cantando La la la la La la lie
Todos os filhos de Deus eles têm que morrer

Meu nome é Loretta mas eu prefiro Lottie
Estou chegando ao meu décimo quinto ano
E se você acha que viu
Um par de olhos mais verdes
Então com certeza você não os viu por aqui
Meu cabelo é amarelo e estou sempre penteando
La la la la La la lie
Mamãe me dizia que todos temos que morrer

Você deve ter ouvido sobre A Praga de Millhaven
Como no último Natal
O garotinho de Bill Blake não voltou pra casa
Eles o encontraram na semana seguinte em One Mile Creek
Sua cabeça afundada e seus bolsos cheios de pedras
Bem, imagine só toda a choradeira e gemidos
La la la la la la lie
Até mesmo o garotinho de Billy Blake, teve que morrer

Então o Professor O'Rye da Millhaven High
Encontrou seu terrier premiado pregado à sua porta
Então no dia seguinte o velho tolo
Levou o pequeno Biko pra escola
E todos nós tivemos que assistir
Enquanto ele o enterrava
Seu elogio fúnebre a Biko era um rio de lágrimas
La la la la La la lie
Até mesmo as pequenas criaturas de Deus, têm que morrer

Nossa cidadezinha entrou em estado de choque
Um monte de gente estava dizendo coisas
Que não faziam o menor sentido
Então a próxima coisa, você sabe,
a cabeça do Zé Faz-de-tudo
Foi encontrada no chafariz da residência do prefeito
Atrocidade que pode realmente revoltar uma cidadezinha
La la la La la lie
Até mesmo os filhos de Deus, todos têm que morrer

Então, numa cruel reviravolta do destino: a velha Sra. Colgate
Fora esfaqueada mas o serviço não estava completo
A última coisa que ela disse
Antes que os policiais a declararam morta, foi:
"Minha assassina é Loretta
e ela vive do outro lado da rua"
Vinte policiais arrebentaram minha porta
Sem ao menos interfonar
La la la la La la lie
Os jovens, os velhos, todos eles têm que morrer

Sim, sou eu, Lottie. A Praga de Millhaven
Eu cravei terror no coração desta cidade
Como meus olhos não são verdes
E meu cabelo não é amarelo
É mais para o contrário
Eu tenho uma bela boquinha debaixo de toda essa espuma
La la la la La la la lie
Mais cedo ou mais tarde, todos nós temos que morrer

Desde quando eu não era maior do que um gorgulho
Eles já diziam que eu era diabólica
Que se a palavra "má" fosse uma bota, ela iria me servir
Que eu sou uma jovem maldosa
Mas que eu venho me esforçando mais ultimamente
Ah foda-se! Eu sou um monstro! Eu admito isso!
Isso me deixa tão enlouquecida (que)
Meu sangue realmente começa a correr
La la la la La la la lie
Mamãe sempre me dizia que todos nós temos que morrer

É, eu afoguei o guri do Blakey
Esfaqueei a Sra. Colgate, eu admito
Executei o "faz-de-tudo"
Com sua serra circular
Em sua barraca de ferramentas pro jardim
Mas eu nunca crucifiquei o pequeno Biko
Foram dois psicopatas do ginásio
O fedorento Bohoon e seu amigo
Com a cabeça do tamanho de uma abóbora
Eu cantarei para a cambada, agora vocês me provocaram
La la la la La la la lie
Todos os filhos de Deus têm que morrer

Havia todos os outros
Todas as nossas irmãs e irmãos
Vocês presumiram que foram acidentes, melhor esquecer
Lembra das crianças
Que atravessaram o gelo no Lago Tahoo?
Todas presumiram que os sinais de "Aviso"
Os seguiram pro fundo
Bem, elas estão debaixo da casa
Onde guardo um bocado de coisas
La la la la La la la lie
Até mesmo vintes criancinhas, tiveram que morrer

E o fogo de '91 que destruiu os cortiços de Bella Vista
Houve o maior quebra-pau
Que este país já viu
Companhias de seguros arruinadas
Todos os proprietários de terras sendo processados
Por causa da garotinha com uma lata de gasolina
Aquelas chamas realmente urraram
Quando o vento começou a soprar
La la la la La la la lie
Homem rico, homem pobre, todos têm que morrer

Bem, eu confessei todos esses crimes
E eles me levaram a julgamento
Eu estava rindo quando eles me levaram embora
Para o hospício em um velho camburão preto
Não é um lar, mas você sabe
É bem melhor do que a cadeia
Não é um lugar tão ruim e velho pra ter um lar
La la la la La la la lie
Todos os filhos de Deus eles têm que morrer

Agora eu tenho psiquiatras que não irão descansar
Com seus infinitos testes Rorschach
Eu continuo lhes dizendo que eles querem me pegar
Eles me perguntam se eu sinto remorso e eu respondo
"Mas é claro!
Há muito mais que eu poderia ter feito
Se eles me deixassem!"
Então é Rorschach e Prozac
E tudo é manero
Cantando La la la la La la la lie
Todos os filhos de Deus eles têm que morrer

La la la la La la la lie
Estou feliz como uma cotovia e tudo é agradável
Cantando La la la la La la la lie
Sim, tudo é manero e tudo é agradável
Cantando La la la la La la la lie
Todos os filhos de Deus eles têm que morrer

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tradução da letra de "The Curse of Millhaven"

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Nick Cave and The Bad Seeds - "Murder Ballads" (1996)






" 'Murder Ballads'
é mais do que contar histórias. 
Em cada música, Mr. Cave, meticulosamente,
cria uma fábula macabra
e, em seguida, a destila
em uma única imagem da morte."
The New York Times





Os estilo sombrio, a sonoridade cabaré, as letras pesadas, os temas mórbidos sempre estiveram presentes na música do australiano Nick Cave, mas em “Murder Ballads” todos estes elementos são levados ao extremo. Com pequenos “contos” recheados de morte, sexo, atrocidades, violência, sangue, e personagens estranhos, distribuídos sobre sua eclética sonoridade variada, repleta de country, blues, jazz, gótico, punk, Nick Cave chegava ao um dos melhores trabalhos de sua carreira.
A vocação de Cave como grande contador de histórias cotidianas já se faz confirmar logo de cara com a dramática “Song for Joy”, que só tem alegria mesmo no nome e, mesmo assim, olhe que nem nisso. Cave encarna um homem que conta a história de sua mulher e três filhas assassinadas por um psicopata, numa interpretação praticamente narrada acompanhada por uma batida pesada e um piano angustiante.
Aí vem a sequência dos Lee, duas canções tradicionais rearranjadas por Cave: “Stagger Lee” sobre um cara fodão, um maldito filha-da-puta, é intensa, forte e traz um final ruidoso de guitarras; já “Henry Lee”, que a segue, é uma balada linda e melancólica, na qual é acompanhado nos vocais pela, então namorada, PJ Harvey. Em outra balada, “Where the Wild Roses Grow” é a vez de ter a companhia da conterrânea Kylie Minogue que, com sua voz delicada e doce, contrapõe o vocal assustador e ameaçador de Mr. Cave.
Num alucinado country-polca-punk-rock, Cave nos apresenta mais uma de suas impressionantes histórias, desta vez a da jovem Loretta, uma matadora fria e cruel, na frenética “The Curse of Millhaven, que faz uma variação acelerada da melodia do refrão de “Henry Lee”, criando uma interessante amarração dentro do álbum.
Outros momentos do disco: “Lovely Creature” é outra que remete ao country; “Crow Jane” é uma espécie de jazz lento; e “Kindness of Stranger' é o típica balda de cabaré característica do cantor.
O grande momento do disco chega quase no final com a monumental "O'Malley's Bar", um “curta-metragem” de quase 15 minutos, com um toque de rumba, meio bolero, onde Nick Cave com vocal rasgado, um piano agresivo, rimas irregulares e uma letra quilométrica, relata um massacre brutal dentro de um restaurante e todos seus desdobramentos.
Depois de cantar e descrever a morte em suas diversas variações e possibilidades, Nick Cave ameniza o inevitável de cada um de nós e canta a bela “The Death is Not the End” de Bob Dylan, na companhia de seus ilustres convidados, P.J. Harvey, Kylie Minogue e do doidão Shane MacGowan com sua característica voz de pinguço. E é o fim do disco. Um final com a devida grandiosidade que o álbum merece. Mas felizmente é apenas o fim deste disco. Certamente, com a criatividade, talento e inquietude de Nick Cave, ele os Bad Seeds voltarão a nos apresentar coisas como este ótimo “Murder Ballads”.
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FAIXAS:
  1. "Song of Joy" – 6:47
  2. "Stagger Lee" – 5:15 (tradicional americana, adapt. Nick Cave and Bad Seeds)
  3. "Henry Lee" – 3:58 (tradicional escocesa, adapt. Nick Cave)
  4. "Lovely Creature" – 4:13 (Blixa Bargeld/Martyn P. Casey/Nick Cave/Mick Harvey/Thomas Wydler)
  5. "Where the Wild Roses Grow" – 3:57
  6. "The Curse of Millhaven" – 6:55
  7. "The Kindness of Strangers" – 4:39
  8. "Crow Jane" – 4:14 (Casey/Cave)
  9. "O'Malley's Bar" – 14:28
  10. "Death Is Not the End" – 4:26 (Bob Dylan)

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Ouça:

Cly Reis

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

cotidianas #59 - O Bar do O'Malley





Eu sou alto e sou esbelto
De uma invejável estatura
E eu tenho fama de ser um boa-pinta
Em um certo ângulo e uma certa luz


Bem, eu entrei no O’Malley’s
Disse: “O’Malley eu tenho uma sede”
O’Malley simplesmente sorriu pra mim
Disse “Você não seria o primeiro”


Eu bati no balcão e apontei
Para uma garrafa na prateleira
E enquanto O’Malley me servia um drinque
Eu dei uma cafungada e me benzi


Minha mão decidiu que a hora estava próxima
E por um instante ela sumiu de vista
E quando retornou, ela queimou brandamente
Com a confiança renovada


Bem, o trovão do meu punho de aço
Fez todos os copos retinirem
Quando atirei nele, eu estava tão boa-pinta
Era a luz, era o ângulo


"Vizinhos!" eu clamei, "Amigos!" Eu gritei
Eu bati meu punho no balcão
"Eu não guardo nenhum rancor contra vocês!"
E meu pau se sentiu comprido e duro


"Eu sou o homem pelo qual nenhum Deus espera
Mas que o mundo inteiro anseia
Eu sou marcado pelas trevas e por sangue
E mil queimaduras de pólvora"


Bem, você conhece aqueles peixes
Com os lábios inchados
Que limpam o fundo do oceano
Quando olhei para a pobre esposa do O'Malley
Foi exatamente isso que vi


Eu meti o cano debaixo de seu queixo
E seu rosto parecia cru e depravado
Sua cabeça acabou aterrissando na pia
Junto com todos as louças sujas


Sua pequena filha Siobhan
Tirava chopp do anoitecer até o amanhecer
E entre o povoado da cidade
Ela era motivo de piada
Mas ela tirava o melhor chopp na cidade


Eu me precipitei magníficente sobre ela
Enquanto ela se sentava tremendo em sua dor
Como a Madonna
Pintada na parede da igreja
Em sangue de baleia e folha de bananeira


Sua garganta se esfarelou em meu punho
E eu girei heroicamente ao redor
Para ver Caffrey levantar da sua cadeira
Eu atirei naquele filho da puta


Yeah Yeah Yeah


"Não tenho nenhum livre arbítrio", eu cantei
Enquanto eu voava sobre o assassinato
Sra. Richard Holmes, ela gritou
Você realmente deveria tê-la ouvido


Eu cantei e ri, eu uivei e chorei
Eu ofeguei como um cachorrinho
E abri um buraco na Sra. Richard Holmes
E seu marido estupidamente se levantou


Enquanto ele gritava, "Você é um homem mau"
Eu parei um instante pra pensar
"Se eu não tenho nenhum livre arbítrio então como Posso ser moralmente culpado, eu ponderei"


Atirei em Richard Holmes no estômago
E cuidadosamente ele se sentou
E sussurrou estranhamente, "Não leve a mal"
E então se atirou ao chão


"Não levei", eu lhe respondi
Entaõ ele deu um pequeno tossido
Com asas flamejantes eu mirei com precisão
E estourei seus miolos completamente


Eu vivi nesta cidade durante trinta anos
E não sou um estranho a ninguém
E eu pus balas novas em minha arma
Câmara por câmara


E virei minha arma para o Sr. Brookes cara-de-pássaro
Pensei em São Francisco e seus pardais
E enquanto eu atirava no jovial Richardson
Era em São Sebastião que eu pensava, e suas flechas


Eu disse, "eu quero me apresentar
E estou contente que todos vocês vieram"
E eu pulei sobre o balcão
E gritei meu nome


Bem Jerry Bellows, ele abraçou sua banqueta
Fechou os olhos, encolheu os ombros e riu
E com um cinzeiro tão grande quanto
uma porra de um tijolo realmente grande
Eu rachei sua cabeça ao meio


Seu sangue derramou pelo bar
Como um riacho escarlate vaporoso
E eu me ajoelhei na ponta do balcão
Enxuguei as lágrimas e olhei


Bom, a luz lá dentro estava de cegar
Cheio de Deus e fantasmas da verdade
Eu sorri para Henry Davenport
Que tentou se mover


Bom, da posição que eu estava
A coisa mais estranha que já vi
A bala entrou pelo alto do seu peito
E estourou suas tripas no chão


Aí eu flutuei pelo balcão abaixo
Não demonstrando nenhum remorso
Abri um buraco em Kathleen Carpenter
Recentemente divorciada


Mas eu senti remorso, eu tive remorso
E ele se prendia em tudo
Do pêlo do corvo em minha cabeça
Até as penas em minhas asas


O remorso espremeu minha mão
Em suas garras fraudulentas
Com seu peito dourado e sem pêlos
E eu deslizei em meio aos corpos
E matei o homem gordo Vincent West


Que se sentou calmamente em sua cadeira
Um homem se torna uma criança
E eu levantei a arma até sua cabeça
Ao estilo carrasco


Ele não ofereceu nenhuma resistência
Tão gordo e enfadonho e preguiçoso
"Você sabia que eu morei na sua rua?" Eu disse
E ele olhou para mim como se eu estivesse louco


"Oh", ele disse, "eu não fazia idéia"
E ele foi ficando quieto como um camundongo
E o estrondo da pistola quando disparou
Quase jogou aquele chapéu para fora da casa


Bem, eu me peguei me olhando no espelho
E dei uma longa e carinhosa inspeção
"Eis aqui um tipo de homem", eu urrei
E assim se mostrou, no reflexo


Meus cabelos penteados para trás
Como a asa de um corvo
Meus músculos fortes e rígidos
E acabou no tambor da minha arma
Mostrando a marca de pólvora


Bem eu girei pra esquerda, girei pra direita
E girei pra esquerda novamente
"Temam a mim! Temam a mim! Temam a mim!"
Mas ninguém temeu pois eles estavam mortos


E então surgiu a sirene da polícia
E um megafone silenciou e bradou
"Largue suas armas e saia
Com suas mãos para o alto"


Bem, eu chequei a câmara de minha arma
Vi que me restava uma última bala
Minha mão, parecia quase humana
Enquanto eu apontava para minha cabeça


"Largue sua arma e saia!
Mantenha suas mãos sobre a cabeça!"
Eu tive um longo pensamento sobre morrer
E fiz exatamente o que eles disseram


Devia ter cinqüenta policiais lá fora
Em volta do bar de O'Malley
"Não atire", eu gritei, "eu sou um homem desarmado!"
Então eles me puseram no carro


E me levaram para longe daquela cena terrível
E eu espiei da janela
Vi o bar do O'Malley, vi os policiais e os carros
E comecei a contar nos dedos


Um Aaaaaah
Dois Aaaaaah
Três Aaaaaaah
Quatro
O bar do O'Malley, o bar do O'Malley
*******************

"O'Malley's Bar"
de Nick Cave
do disco "Murder Ballads" de 1996

Ouça:
Nick Cave O'Malley's Bar