Cary Grant e Randolph Scott |
"Quase todos os
nossos grandes astros eram gays.
Mesmo assim o machismo imperava nos estúdios e
sufocava carreiras,
salvo alguns como Clift, que assumiu
e sofreu na carne o
preço.
Eles tentaram esconder Burt,
Scott e muitos outros, nos todos sabíamos,
mas os chefões nunca se renderam,
e eu poucas vezes”.
John Ford
Dos quatro deuses rebeldes do método Lee Strasberg – Marlon Brando, James Dean, Montgomery Clift e Paul Newman –, apenas Paul era
heterossexual. Clift era gay assumido e sofreu enormes rejeições, ainda que tenha enfrentado todas elas. Depois de aconselhado por Liz Taylor, virou um
arrogante de primeira; era sua defesa pessoal. James Dean não fazia esforço
para esconder a homossexualidade: frequentava bares gays onde adorava queimar o
corpo com cigarro em trips sexuais.
Marlon Brando, esse sim: traçou de Vivian Leigh a Jean Cocteau. E mais, muito
mais. Mas estes grandes atores não seriam os pioneiros. Tyrone Power, sir
Laurence Olivier, George Cukor, Vincent Price, Errol Flynn e o músico Cole
Porter, por exemplo, sempre tiveram preferências homossexuais. Errol desfilava
com muitas namoradas e lançava cantadinhas não correspondidas à sua partner, Olivia de Havilland. Além
disso, adorava desfrutar de orgias com homens e mulheres. Seu grande parceiro
de festinhas foi Willian Holden, que não era gay, mas topava a mulherada.
Os estúdios criaram vários casamentos de fachada para seus
atores de ponta. Queriam sempre abafar os comentários da imprensa sobre suas
sexualidades. Um deles era Burt Lancaster, que foi proibido de “sair do armário”.
Acabou casando forçadamente e tendo filhos. Mesmo assim, manteve
relacionamentos com Rock Hudson e Cary Grant. E, por fim, foi um grande
ativista do movimento gay. O charmoso Cary Grant e Randolph Scott, um dos reis
do western da "era dos
estúdios", segundo seus amigos pessoais, eram casados e mantinham famílias
para despistar os estúdios e a imprensa. Chegaram a morar juntos e foram
fotografados em momentos picantes na piscina. As fotos geraram revolta dos
chefões de "Oliú", que ameaçaram suspender trabalhos de ambos os
atores que foram obrigados a se separar. Após isso, Cary tentaria suicídio com
pílulas para dormir. Já Gary Cooper, bonito e másculo, o protótipo do herói
americano, foi aconselhado por seus agentes a abandonar seu parceiro sexual sob
pena de ter sua próxima produção cancelada – que se chamaria nada menos que
"Matar ou Morrer", um dos maiores westerns da história.
Mas o caso mais polêmico foi o do ator e galã Rock Hudson.
Em 1955, ele levava uma carreira ascendente no cinema, mas a tranquilidade logo
ia dar lugar a um escândalo: uma revista especializada em fofocas publicaria
uma matéria com fontes seguras sobre a homossexualidade de Hudson. Seus agentes
não perderam tempo e casaram o ator com sua secretária – o mesmo que aconteceu
com Anthony Perkins. O casamento "falso" durou poucos anos e logo o
galã entraria para uma vida de promiscuidade sexual sem limites. Hudson
recorria às ruas todas as noites e levava para a cama até vagabundos e jovens
de toda a cidade. Era um sexo mecânico e sem erotismo. A regra de Hudson era “quanto
mais, melhor”, não importando a “qualidade”.
O resultado de tudo isso acabou vindo anos mais tarde. Em
1984, o ator foi a primeira grande celebridade do cinema americano a ser
diagnosticada com HIV. Rock Hudson faleceu em 1985 em decorrência da doença e o
fato teve uma enorme proporção. Tanto que chamou a atenção de celebridades e do
governo dos EUA, quando muitos doaram quantias milionárias para as pesquisas da
cura da AIDS, tendo Hudson como símbolo póstumo da campanha. Em 1992 e com
menos estardalhaço da imprensa, o astro tímido de “Psicose”, Tony Perkins,
sucumbiria ao HIV. Elogiado por Hitchcock e por muitos diretores, e criticado
por sua opção sexual pela MGM, ele partiria discretamente em sua casa em
Hollywood, mas não sem antes dizer em uma entrevista: "Que possamos ser livres em nossas escolhas, mesmo pagando um
preço eu prefiro ser livre." Que assim seja.
por Francisco Bino