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sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Hollywood que não pode sair do armário



Cary Grant e Randolph Scott
"Quase todos os nossos grandes astros eram gays.
 Mesmo assim o machismo imperava nos estúdios e sufocava carreiras,
salvo alguns como Clift, que assumiu
e sofreu na carne o preço.
Eles tentaram esconder Burt,
 Scott e muitos outros, nos todos sabíamos,
mas os chefões nunca se renderam,
e eu poucas vezes”.
John Ford



Dos quatro deuses rebeldes do método Lee Strasberg – Marlon Brando, James Dean, Montgomery Clift e Paul Newman –, apenas Paul era heterossexual. Clift era gay assumido e sofreu enormes rejeições, ainda que tenha enfrentado todas elas. Depois de aconselhado por Liz Taylor, virou um arrogante de primeira; era sua defesa pessoal. James Dean não fazia esforço para esconder a homossexualidade: frequentava bares gays onde adorava queimar o corpo com cigarro em trips sexuais. Marlon Brando, esse sim: traçou de Vivian Leigh a Jean Cocteau. E mais, muito mais. Mas estes grandes atores não seriam os pioneiros. Tyrone Power, sir Laurence Olivier, George Cukor, Vincent Price, Errol Flynn e o músico Cole Porter, por exemplo, sempre tiveram preferências homossexuais. Errol desfilava com muitas namoradas e lançava cantadinhas não correspondidas à sua partner, Olivia de Havilland. Além disso, adorava desfrutar de orgias com homens e mulheres. Seu grande parceiro de festinhas foi Willian Holden, que não era gay, mas topava a mulherada.

Os estúdios criaram vários casamentos de fachada para seus atores de ponta. Queriam sempre abafar os comentários da imprensa sobre suas sexualidades. Um deles era Burt Lancaster, que foi proibido de “sair do armário”. Acabou casando forçadamente e tendo filhos. Mesmo assim, manteve relacionamentos com Rock Hudson e Cary Grant. E, por fim, foi um grande ativista do movimento gay. O charmoso Cary Grant e Randolph Scott, um dos reis do western da "era dos estúdios", segundo seus amigos pessoais, eram casados e mantinham famílias para despistar os estúdios e a imprensa. Chegaram a morar juntos e foram fotografados em momentos picantes na piscina. As fotos geraram revolta dos chefões de "Oliú", que ameaçaram suspender trabalhos de ambos os atores que foram obrigados a se separar. Após isso, Cary tentaria suicídio com pílulas para dormir. Já Gary Cooper, bonito e másculo, o protótipo do herói americano, foi aconselhado por seus agentes a abandonar seu parceiro sexual sob pena de ter sua próxima produção cancelada – que se chamaria nada menos que "Matar ou Morrer", um dos maiores westerns da história.

Mas o caso mais polêmico foi o do ator e galã Rock Hudson. Em 1955, ele levava uma carreira ascendente no cinema, mas a tranquilidade logo ia dar lugar a um escândalo: uma revista especializada em fofocas publicaria uma matéria com fontes seguras sobre a homossexualidade de Hudson. Seus agentes não perderam tempo e casaram o ator com sua secretária – o mesmo que aconteceu com Anthony Perkins. O casamento "falso" durou poucos anos e logo o galã entraria para uma vida de promiscuidade sexual sem limites. Hudson recorria às ruas todas as noites e levava para a cama até vagabundos e jovens de toda a cidade. Era um sexo mecânico e sem erotismo. A regra de Hudson era “quanto mais, melhor”, não importando a “qualidade”.

O resultado de tudo isso acabou vindo anos mais tarde. Em 1984, o ator foi a primeira grande celebridade do cinema americano a ser diagnosticada com HIV. Rock Hudson faleceu em 1985 em decorrência da doença e o fato teve uma enorme proporção. Tanto que chamou a atenção de celebridades e do governo dos EUA, quando muitos doaram quantias milionárias para as pesquisas da cura da AIDS, tendo Hudson como símbolo póstumo da campanha. Em 1992 e com menos estardalhaço da imprensa, o astro tímido de “Psicose”, Tony Perkins, sucumbiria ao HIV. Elogiado por Hitchcock e por muitos diretores, e criticado por sua opção sexual pela MGM, ele partiria discretamente em sua casa em Hollywood, mas não sem antes dizer em uma entrevista: "Que possamos ser livres em nossas escolhas, mesmo pagando um preço eu prefiro ser livre." Que assim seja.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Quadrinhos no Cinema #3 - "Estrada Para a Perdição", de Sam Mendes (2002)



O quadrinho americano além dos Supers
por Vagner Rodrigues




Uma fotografia linda e figurinos perfeitos ajudam muito a nos colocar dentro dos Estados Unidos dos anos 30, na era de ouro da máfia. “Estrada para perdição”, não vai ser tornar um clássico, já temos outros filmes melhores que abordam este tema, mas com certeza ele merece um destaque. O diretor Sam Mendes faz uma adaptação livre da HQ americana de mesmo nome, escrita por Max Allan Collins e ilustrada por Richard Piers Rayner, muda alguns elementos da trama, mas consegue captar de uma maneira muito competente espírito da HQ.
Michael Sullivan (Tom Hanks) é um assassino que trabalha para John Rooney (Paul Newman), o grande chefão da cidade. Tudo ia bem para Michael Sullivan, até que seu filho mais velho Michael Sullivan, Jr (Tyler Hoechlin), um menino de 14 anos que é tomado pela curiosidade de descobrir qual é o trabalho misterioso do pai, acabar virando testemunha de um assassinato. Connor Rooney (Daniel Craig), o  filho de  John Rooney, era o homem que estava junto com o pai do garoto no dia do assassinato, e com medo que o garoto conte para alguém, vai atrás do menino para matá-lo e não consegue, mas acaba matando a esposa de Michael Sullivan, e seu filho mais novo. A partir daí vemos Michael em sua difícil caçada atrás de vingança, ao mesmo tempo em que tenta manter seu filho longe da vida do crime.
Um raro momento onde pai e filho conseguem
conversar calmamente. (Não por muito tempo...)
Este filme, assim como vários outros filmes de máfia, tem o foco na relação familiar, para ser bem específico, aqui na relação pai e filho. Mesmo John Rooney não sendo o pai verdadeiro de Michael Sullivan, o mesmo lhe trata desta forma, é a figura paterna com a qual Michael foi e criado. Tanto que há um sofrimento, uma dor muito grande por ambas as partes, quando os dois acabam tendo que se confrontar, uma vez que Michael vai atrás de Connor, o filho de John. John Rooney é Connor Rooney, apesar de saber de tudo que seu filho faz de errado, não consegue ir contra ele por ser sangue do seu sangue, seu filho legítimo, mesmo não tendo a retribuição do afeto por parte deste filho (algo que ele consegue com Michael e podemos notar isso e forma bem evidente em uma cena onde Michael e John tocam piano juntos), ele não  o abandona. E por último, e a relação mais importante, Michael Sullivan e Michael Sullivan, Jr, é através do olhar de Michael Sullivan, Jr, que vemos o filme. Vemos que Sullivan é um pai protetor, no começo parece ausente ( acho até que era ausente), mas muito disso para manter seus filhos longe do crime, por isso de nunca ter contado aos seus filhos sobre o seu trabalho, atiçando a curiosidade dos meninos. Todo esse afastamento era o jeito dele proteger sua família. Mesmo depois, quando Sullivan, vai em busca de vingança, e tem que levar Sullivan, Jr  junto, ele continua tentando deixar seu filho longe do crime e o máximo que faz é ensinar seu filho a dirigir para ajudar em suas fugas quando sai para roubar o dinheiro da máfia.
As atuações estão ótimas! Tom Hanks sem comentários, como sempre, e Paul Newman consegue mostrar muito bem a deterioração de seu personagem ao longo filme. Vou dar um destaque para dois atores com partições pontuais, Daniel Craig, como vilão da história está incrível, com um ar debochado, em sua primeira aparição, no seu primeiro sorriso, você já fica com a impressão que Connor Rooney não é uma boa pessoa. Suas atitudes imprudentes fazem com que ele sempre piore as coisas. E Jude Law, que nossa, tem pouco tempo na tela, mas faz você não conseguir desgrudar o olho dele. Seu papel é do assassino Harlen Maguire, que é contratado para matar Sullivan e seu filho. Uma particularidade de Harlen Maguiree, é que ele fotografo criminalístico, ganha dinheiro tirando fotos das pessoas que ele mata e por isso além de sua arma ele carrega uma máquina fotográfica.
Paul Newmman em atuação que lhe valeu
indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante
O filme talvez seja corrido demais, todos os acontecimentos são muito rápidos, esse pode ser o único grande defeito da obra, uma vez que toda essa velocidade faz com que o final fique previsível, mesmo com uma tentativa de surpreender nas últimas cenas (que eu acabei não me surpreendendo), os problemas vão sendo solucionados muito rapidamente.
"Estrada Para a Perdição" é o segundo filme do diretor Sam Mendes, ele vinha do fantástico “Beleza Americana”, e tinha toda a pressão de ter que se provar, e conseguiu. Embora a temática deste filme seja muito diferente do seu filme anterior, as críticas sociais novamente estão presentes. Se você assistir o filme com bastante atenção vai reparar que não tem muitas personagens femininas, apenas duas mulheres e com poucas falas, a esposa de Michael Sullivan, e a senhora que mora em uma pequena fazenda com seu marido, que dá abrigo para pai e filho quando os dois estão necessitados. O porquê de não haver mulheres parece claro, a sociedade americana na época era extremamente machista e a mulher praticamente não era ouvida e vista. O mesmo acontece com os policiais, na época as cidades eram controladas pelos mafiosos, e Sam Mendes retrata isso, dando pouco espaço para aparições policiais. Outro aspecto interessante do filme é a espetacularização da morte que vemos através do Harlen Maguire o fotografo assassino, era um começo para o que vemos hoje nos nossos telejornais, onde cada vez mais tem “ibagens” assim, onde a morte e a tragédia são os assuntos principais.
Vale muito a pena assistir. O filme conta uma grande história, através de cenas memoráveis, como a famosa cena do assassinato na chuva (que fotografia linda), temos também cena onde Sullivan, observa o mar que é lindíssima. Uma direção de arte realmente impecável.
É um filme belo em todos os aspectos, quem for assistir vai gostar, se não gostar da trama, tem a ambientação muito bem feita, figurinos caprichados. Com certeza algo vai te agradar. Assista ao filme e vá acertar as suas contas com a máfia, de preferência em um dia de chuva que é propício para isso.

A belíssima fotografia da cena da execução na chuva.
Não precisa falar nada.
Assista ao filme.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Paul Newman





Em tempo, queria postar algo sobre o grande ator norte-americano Paul Newman.
Me marcou, principalmente o filme Butch Cassidy que vi numa época que começava a gostar mais de cinema e naquele momento foi um filme que me empolgou bastante. Aquele final fantástico com a foto congelada ficou muito tempo na minha retina.
Adorei também o Golpe de Mestre (que assim como Butch Cassidy, é com Robert Redford) com sua engenhosidade e surpresa, o ótimo O Indomado, e o melhor ainda Rebeldia Indomável, além de alguns outros que tive o prazer de ver.
Revi ontem, num desses especiais pela morte do ator, a Inferno na Torre. É bem legal mas a grande atuação neste caso é a do bombeiro Steve McQueen. Apesar de ter um papel destacado, a atuação de Newmann fica no normal.
Mas a que destaco mesmo é do filme A Cor do Dinheiro, de Martin Scorscese, que merecidamente lhe rendeu um Oscar e que tem uma das melhores frases de final de filme de todos os tempos. Depois de uma discussão com Tom Cruise, seu ex-pupilo nas mesas de jogo de sinuca, Paul pega seu taco se inclina sobre a mesa dá uma tacada forte e diz "Eu estou de volta!". Entra tela preta e o filme acaba.
Adoro usar esta frase pensando no filme, tipo, como se estivesse dando a nova tacada inicial em alguma coisa. O jogo recomeçou e eu estou dentro.


Cly Reis