"O Mundo vai acabar"
da letra de “Terceira Guerra”
do Fogo Cruzado
Vale coletânea?
Vale, ué!
Quem falou que não pode ter álbum com ias de um artista aqui nos ÁLBUNS
FUNDAMENTAIS? Já teve ao vivo, compacto, EP, por que não poderia ter coletânea?
Até porque a seleção em questão é extremamente significativa
para o seu segmento em particular. Falo do disco “Sub” , uma compilação de bandas punk nacionais do início dos anos
80, que junto com outra coletânea, “Grito Suburbano”, que podem ser consideradas
de certa forma a síntese do punk paulista, que a rigor foi o berço do movimento
no Brasil. Embora haja controvérsias quanto ao fato de Brasília ter dado início
à tendência, com certeza a região operária de São Paulo, o ABC, com suas
características de proletariado industrial, conjuntos habitacionais, até mesmo
as lutas sindicais foram decisivas para a formação mais efetiva, ativa e
característica do movimento punk brasileiro na periferia de São Paulo, como cantaria Gilberto
Gil na sua "Punk da Periferia", ao passo que em Brasília a atitude ficava por conta de uma outra
faixa social intermediária, composta por filhinhos de papai, de diplomatas ou às vezes até mesmo por filhos de
militares. Ou seja, a de São Paulo era mais autêntica, mais verdadeira, mais
sincera e honesta.
E é isso que vemos no “Sub”. Aquele grito juvenil indignado,
muitas vezes ingênuo, clamando por justiça social, por igualdade, por paz
mundial em tempos de Guerra-Fria e ameaças nucleares, denunciando a fome, o
desemprego, o racismo, o preconceito e o regime militar que àquelas alturas já
estava no final e bem mais fácil de ser contestado em plena Abertura.
As músicas? Tosquice pura! Faixas
curtas, muito barulho, limitação de recursos de gravação e absoluta falta de
qualidade técnica dos músicos. As letras por sua vez, agressivas, raivosas,
rebeldes, muitas vezes, demonstram extrema inocência até, com conceitos e
idéias um tanto pueris (“O homem ingênuo
sobe na vida
sem nada saber de sua burguesia”), e não raro, deixando transparecer a extrema pobreza gramatical dos compositores que incorriam em erros de português clamorosos ( “a noite escureceu, o dia esclareceu” ou “eu vi a barca atravessando a avenida pareciam deguladores” ). Sem falar que muitas vezes os versos ficavam quase incompreensíveis dada a rapidez da música ou da pronúncia do vocalista.
sem nada saber de sua burguesia”), e não raro, deixando transparecer a extrema pobreza gramatical dos compositores que incorriam em erros de português clamorosos ( “a noite escureceu, o dia esclareceu” ou “eu vi a barca atravessando a avenida pareciam deguladores” ). Sem falar que muitas vezes os versos ficavam quase incompreensíveis dada a rapidez da música ou da pronúncia do vocalista.
A coletânea conta com quatro bandas: dois dos nomes mais
importantes da cena punk brasileira, Cólera e Ratos de Porão, nessa época ainda
sem o emblemático João Gordo, e os outros dois menos conhecidos do grande
público, Fogo Cruzado e o Psykóze, que não ficam devendo em nada aos
consagrados e por vezes roubam a cena com músicas até mais interessantes e mais
bem elaboradas.
Destaques para “Vida Ruim” dos Ratos de Porão; do Cólera
“Quanto Vale a Liberdade?” vale a indicação, e a que leva o ‘doloroso’ título
“X.O.T.”, abreviação absurda de “Xantagem Ocasional Tramada” mesmo com seu erro
grotesco de português; “Terceira Guerra Mundial” e “Buracos Suburbanos” são as
melhores do Psykóze na minha opinião; e do Fogo Cruzado, os meus preferidos da
coletânea, destaco “Delinqüentes”, “Inimizade” e “Terceira Guerra” com sua
‘bombinha’ caindo no final pra destruir tudo e finalizar o disco.
Lembro que o meu primo Lucio Agacê me
apresentou isso empolgado na época que estava descobrindo essas coisas, o punk
rock, o hardcore. Me mostrou brasileiros como o Vírus 27, o Olho Seco o
Hysteria Oi, estrangeiros como o Exploited, Kennedy's
, G.B.H. mas não curti muito de início. Estava mais voltado pro som dark
dos anos 80 e não dei muita atenção. Fui dar valor mesmo
anos depois quando entendi que na verdade, punk, pós-punk, gótico, era tudo uma
continuidade e muito do que eu ouvia era resultado do que os punks haviam
desenvolvido. Aí saí à cata de coisas que eu não havia dado a devida atenção em
outro momento e numa dessas topei com o “Sub”
por aí e não tive nem dúvida: tinha que ser meu.
Entre tantas outras contribuições musicais na minha vida e
nossas colaborações na época da nossa banda, devo ao Lucio essa iniciação ao
som punk. Sem ele não teria conhecido esse universo e neste caso específico, o
“Sub”, bola da vez aqui nos ÁLBUNS
FUNDAMENTAIS.
Valeu por mais essa, Lucio!
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FAIXAS:
- "Parasita" (Ratos de Porão) - 01:11
- "Vida Ruim" (Ratos de Porão) - 01:32
- "Poluição Atômica" (Ratos de Porão) - 01:08
- "X.O.T." (Cólera) - 01:38
- "Bloqueio Mental" (Cólera) - 01:36
- "Quanto Vale a Liberdade?" (Cólera) - 02:18
- "Terceira Guerra Mundial" (Psykóze) - 01:42
- "Buracos Suburbanos" (Psykóze) - 01:33
- "Fim do Mundo" (Psykóze) - 00:55
- "Desemprego" (Fogo Cruzado) - 01:49
- "União entre Punks do Brasil" (Fogo Cruzado) - 01:23
- "Delinqüentes" (Fogo Cruzado) - 01:09
- "Não Podemos Falar" (Ratos de Porão) - 00:51
- "Realidades da Guerra" (Ratos de Porão) - 00:50
- "Porquê?" (Ratos de Porão) - 01:04
- "Histeria" (Cólera) - 01:11
- "Zero Zero" (Cólera) - 01:27
- "Sub-Ratos" (Cólera) - 01:13
- "Vítimas da Guerra" (Psykóze) - 00:54
- "Alienação do Homem" (Psykóze) - 00:53
- "Desilusão" (Psykóze) - 01:02
- "Inimizade" (Fogo Cruzado) - 01:17
- "Punk Inglês" (Fogo Cruzado) - 01:45
- "Terceira Guerra" (Fogo Cruzado) - 01:38
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Ouça: