por Roberto Sulzbach Cortes
Rodríguez nasceu em Detroit, Estados Unidos, em julho de 1942, e iniciou sua carreira tocando de bar em bar. Em 1968, os produtores Mike Theodore e Dennis Coffey (que trabalhou com Temptations e George Clinton) o descobrem tocando em um bar próximo ao cais da cidade. Era notória a habilidade que Sixto tinha de retratar suas vivências na cidade, um poeta citadino, trovador da cidade dos motores, que, segundo Coffey, àquela época escrevia tão bem quanto Bob Dylan.
A dupla de produtores aposta no artista e começam a produção para lançá-lo ao estrelato. Contudo, não foi o que ocorreu, pois apesar de possuir “todos os ingredientes necessários do sucesso”, o disco foi um fracasso de vendas, rendendo apenas uma turnê pela Inglaterra e Austrália, mas sem muito alarde. Retornando ao assunto inicial do texto, o revés comercial (àquela época) não significa que não é um excelente disco e que não valha sua análise.
Apesar do fracasso doméstico, e algum sucesso na Oceania, foi em um país sob regime ditatorial de segregação racial, a África do Sul, que o artista se tornou um ícone misterioso, e suas músicas, se tornaram hinos contra o apartheid, ao final da década de 80, início de 90. Sem conhecimento de ambos os lados, pois o artista não sabia de sua fama, e o público não sabia quem era e se estava vivo àquela altura. No início dos anos 80, Rodríguez desistiu da vida de artista e trabalhou como pedreiro, até se formar em filosofia, que lecionou em escolas locais.
Em 1997, a filha mais velha de Sixto, Eva, vagava por uma primitiva internet, quando encontrou um site sul-africano dedicado ao pai. No primeiro contato com o moderador site, ela ouviu de Stephen Seagermen, dono de uma loja de discos em Johanesburgo, que, supostamente, seu pai vendeu mais álbuns que Elvis Presley na África do Sul.
Rodríguez nos deixou em 8 de agosto de 2023, e felizmente, pôde desfrutar de muito sucesso além do sul-africano. Em 2012, cantou “Crucify Your Mind” no David Letterman, cedeu entrevista para o programa “60 minutes” e fez uma apresentação no programa de música ao vivo “Later... with Jools Holland”. Tudo, graças ao documentário “Searching For Sugar Man”, idealizado por Stephen Seagerman, lançado em 2012, que conta a mística que o artista possuía na África do Sul, em meados dos anos 90.
Mesmo tendo uma discografia reduzida, com apenas dois álbuns de estúdio - "Coming from Reality", de 1971, e este, "Cold Fact", o seu debut, de um ano antes -, Sixto nos deixa um grande legado. “Sugar Man” aborda as dificuldades de um homem viciado em viver sem seus estimulantes, colocando uma voz de sofrimento e melancolia, sem glamourizar a dependência química. “Crucify Your Mind” trata sobre uma relação, em que uma mulher traí o marido, e a letra nunca deixar explícita o ocorrido. “Forget It” é um epitáfio sobre um término de relacionamento que, em poucas estrofes, sabe colocar o que é o fim de um casal, e a sensação que sentimos quando seguimos o rumo sozinhos. Meu último destaque é “Like Janis”, que cita a musa rock n’roll no seu título, mas não é sobre ela: é sobre uma relação em decadência, em que ambos já não se aguentam.
Rodríguez é um dos casos que comprova que a ausência de sucesso comercial não impede que a obra se torne popular tardiamente, e muito menos, que não seja relevante. Muitas vezes, o público precisa de tempo e um “empurrãozinho” (como o documentário interessante) para promover a arte de uma maneira única.
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