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quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

John Lennon - "Plastic Ono Band" (1970)


 

por Roberto Sulzbach 

“Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor”
da letra de "God", de John Lennon

Em 11 de dezembro de 1970, John Lennon lançava sua primeira investida pós Beatles: o "Plastic Ono Band". Vinte e nove anos depois, em 11 de dezembro de 1999, este, que vos escreve, nascia, em um hospital da zona norte de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Comemorar meu aniversário junto dessa obra chega a ser um motivo de orgulho. Um marco na música pop e um último prego no caixão do movimento hippie, o qual tinha o próprio Lennon como símbolo. O disco contou com Klaus Voormann, amigo desde a época que viveu em Hamburgo com o restante do Fab Four; Phil Spector, produtor e pianista; Billy Preston, também no piano; Yoko Ono, creditada como “ar” (Lennon depois explicou que ela montou a "atmosfera’ das músicas"); Ringo Starr, na bateria (por óbvio) e Mal Evans, creditado como “chá e simpatia”.  

Meu primeiro contato com a obra foi em uma das milhares de vezes que assisti Os Simpsons com o meu pai, em uma época que a série ainda era criticamente aclamada como uma grande paródia da sociedade americana do fim do século XX/início do XXI. O segundo capítulo da décima quinta temporada da série, traz o retorno de Mona, mãe ausente do personagem Homer (por ser uma hippie ativista contra grandes corporações em fuga desde o final dos anos 60) em um episódio comovente. Ao final, Homer é “abandonado” novamente por sua mãe e após ela o deixar, não haveria música melhor para sintetizar o momento que “Mother”.  

Julia Stanley, mãe de John, cedeu a guarda do filho, quando ainda era pequeno para sua irmã, por conta de denúncias de negligência com o próprio filho. O pai de Lennon, Alfred, era um marinheiro, que raramente se encontrava em Liverpool e não viu o filho crescer. Julia morreu quando John tinha apenas 16 anos de idade, vítima de um atropelamento, justo em um momento em que o garoto se reaproximava da mãe. “Mother” é a sintetização da raiva, tristeza e desabafo, em forma de berros, que estavam guardados no artista. A letra inicia com “Mãe, você me teve, mas nunca tive você; eu queria você, mas você não me queria.” “Pai, você me deixou, mas nunca te deixei; Eu precisava de você, mas você não precisava de mim”. Em seguida, John esboça uma despedida, como se quisesse abandonar esse passado com “agora, eu só preciso lhes dizer; adeus”, para que então, Lennon se contrarie na estrofe seguinte dizendo “mamãe, não vá! Papai, volte para casa”. De forma alguma é necessário ter passado por situação semelhante para entender o que John sentia em relação a sua família. 

“Hold On” segue o disco com um riff de guitarra tranquilo, em que John começa a se acalmar e reafirmar que vai dar tudo certo. A música é doce e oferece um certo refúgio à pedrada que o ouvinte escutou, como um choro triste, e provavelmente emula o que Lennon passou ao longo das gravações do álbum (que era interrompido constantemente por crises de choro e gritos por parte dele). “I Found Out” trata sobre falsas religiões, cultos e até mesmo, a idolatria que ele exercia sobre uma massa gigantesca de ouvintes “eles não me queriam, então me fizeram uma estrela”, cantou. 

Em “Working Class Hero”, em estilo Dylanesco (em "Masters of War", principalmente), Lennon escreve uma de suas maiores músicas. Apenas portando o violão, O "Herói da Classe Trabalhadora" se rebela contra o sistema imposto, e questiona toda a máquina capitalista e a eterna luta incentivada à população por subir na escada corporativa e econômica. A música causou impacto tão grande, que um tal de Roger Waters passou a questionar a produção de suas letras psicodélicas e começou a expor maiores críticas à sociedade, que resultou, inicialmente, em "The Dark Side Of The Moon", do Pink Floyd

“Isolation” finaliza o lado A, abordando a solidão que o autor enfrentava, tanto por ter se separado de seus amigos, e banda, quanto pelas críticas que ele e Yoko sofriam constantemente por parte da mídia. “Remember” nos traz uma realidade paralela, em que Guy Fawks (membro da “Conspiração da Pólvora”, que planejava bombardear, em 1605, a Câmara dos Lordes) conseguiu colocar em prática seu plano. Uma anedota de aquecer o coração é que a canção foi gravada no dia do aniversário de Lennon, e felizmente, foi registrado em vídeo, os amigos John e Ringo recebendo a visita do outro ex-companheiro de banda, George Harrison, que entregou de presente, uma demo de “It’s Johnny’s Birthday” (de "All Things Must Pass", de Harrison). 

Talvez a canção mais ingênua e doce de Lennon seja “Love”. Simples e direta: “O amor é real, real é o amor”. Não há muito o que dizer de uma música que, em poucas palavras, e um piano "silencioso", consegue transcorrer uma imensidão de significados que não podem ser quantificados. “Well Well Well” descreve pequenos casos da vida à dois de John e Yoko, como caminhar em um parque, dividir uma refeição e falar sobre temas como ‘revolução’ e ‘libertação das mulheres’. “Look at Me” nos traz um Lennon direto do “White Album”, perguntando ao ouvinte “quem que devo ser?”.

“God” é filosófica, existencial, e acima de tudo, impactante. Uma canção que começa com “Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor”, não tem como não chamar a atenção. Com um piano espaçado e dramático, Lennon subverte todas as crenças que possuía, e não possuía, dizendo que não acredita na Bíblia, tarot, Jesus, Hitler, Kennedy, Budha, Yoga, Elvis, Zimmerman (Bob Dylan), e mais importante, não acredita nos Beatles. Após citar sua antiga banda, uma pausa dramática precede a frase “eu só acredito em mim. Em Yoko e em mim”. Ele segue com “o sonho acabou” e “Eu era a Morsa (referência a I Am The Walrus), agora sou o John”. Ou seja, estamos diante do verdadeiro John Lennon, e que é necessário deixar o passado Beatle para trás. O álbum finaliza com “My Mummy’s Dead”, uma balada curta e poderosa, que faz o contraponto com “Mother”, pois ao invés dos berros, Lennon canta calmamente que ainda não superou a morte de sua mãe, mesmo que ela tenha morrido há tanto tempo. 

Acima de tudo, "Plastic Ono Band" nos apresenta quem era o ser humano John Lennon, mesmo que ele tenha representado ¼ de um dos maiores fenômenos da música mundial. Da minha parte, acho uma coincidência barbara a pequena conexão de nascer no mesmo dia em que o disco foi lançado, anos antes. Mesmo com a perda do meu parceiro de Simpsons há muitos anos (e de música, inclusive era fã do Lennon), fico feliz de ter, tanto Homer, quanto John, para me acompanhar na sequência da minha caminhada sem ele. 

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FAIXAS:
1. "Mother" - 5:34
2. "Hold On" - 1:52
3. "I Found Out" - 3:37
4. "Working Class Hero" - 3:48
5. "Isolation" - 2:51
6. "Remember" - 4:33
7. "Love" - 3:21
8. "Well Well Well" - 5:59
9. "Look at Me"  - 2:53
10. "God" - 4:09
11. "My Mummy's Dead" - 0:49
Todas as composições de autoria de John Lennon

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OUÇA O DISCO:
John Lennon - "Plastic Ono Band"

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Rodriguez - "Cold Fact" (1970)

 

por Roberto Sulzbach Cortes


“Na África do Sul, seu pai é mais conhecido que o Elvis”
Stephen Seagerman, sul-africano, para Eva Rodríguez 

Qualquer ouvinte assíduo de música (ou heavy user, em inglês) sabe que o sucesso crítico e o sucesso comercial até podem andar juntos, mas não é regra. Muitas obras conhecem o sucesso comercial, ou numa era da internet e streaming, recebem o reconhecimento e popularidade devidos muito tempo depois de serem lançadas. Também existem casos de artistas europeus fazerem mais sucessos nos Estados Unidos, ou o contrário, como o caso dos Pixies, que até hoje fazem mais sucesso na Europa (principalmente no Reino Unido) do que no seu próprio país natal, os EUA. O caso de Sixto Rodríguez é uma mistura de tudo isso. 

Rodríguez nasceu em Detroit, Estados Unidos, em julho de 1942, e iniciou sua carreira tocando de bar em bar. Em 1968, os produtores Mike Theodore e Dennis Coffey (que trabalhou com Temptations e George Clinton) o descobrem tocando em um bar próximo ao cais da cidade. Era notória a habilidade que Sixto tinha de retratar suas vivências na cidade, um poeta citadino, trovador da cidade dos motores, que, segundo Coffey, àquela época escrevia tão bem quanto Bob Dylan

A dupla de produtores aposta no artista e começam a produção para lançá-lo ao estrelato. Contudo, não foi o que ocorreu, pois apesar de possuir “todos os ingredientes necessários do sucesso”, o disco foi um fracasso de vendas, rendendo apenas uma turnê pela Inglaterra e Austrália, mas sem muito alarde. Retornando ao assunto inicial do texto, o revés comercial (àquela época) não significa que não é um excelente disco e que não valha sua análise. 

Apesar do fracasso doméstico, e algum sucesso na Oceania, foi em um país sob regime ditatorial de segregação racial, a África do Sul, que o artista se tornou um ícone misterioso, e suas músicas, se tornaram hinos contra o apartheid, ao final da década de 80, início de 90. Sem conhecimento de ambos os lados, pois o artista não sabia de sua fama, e o público não sabia quem era e se estava vivo àquela altura. No início dos anos 80, Rodríguez desistiu da vida de artista e trabalhou como pedreiro, até se formar em filosofia, que lecionou em escolas locais.

Em 1997, a filha mais velha de Sixto, Eva, vagava por uma primitiva internet, quando encontrou um site sul-africano dedicado ao pai. No primeiro contato com o moderador site, ela ouviu de Stephen Seagermen, dono de uma loja de discos em Johanesburgo, que, supostamente, seu pai vendeu mais álbuns que Elvis Presley na África do Sul.  

Rodríguez nos deixou em 8 de agosto de 2023, e felizmente, pôde desfrutar de muito sucesso além do sul-africano. Em 2012, cantou “Crucify Your Mind” no David Letterman, cedeu entrevista para o programa “60 minutes” e fez uma apresentação no programa de música ao vivo “Later... with Jools Holland”. Tudo, graças ao documentário “Searching For Sugar Man”, idealizado por Stephen Seagerman, lançado em 2012, que conta a mística que o artista possuía na África do Sul, em meados dos anos 90. 

Mesmo tendo uma discografia reduzida, com apenas dois álbuns de estúdio - "Coming from Reality", de 1971, e este, "Cold Fact", o seu debut, de um ano antes -, Sixto nos deixa um grande legado. “Sugar Man” aborda as dificuldades de um homem viciado em viver sem seus estimulantes, colocando uma voz de sofrimento e melancolia, sem glamourizar a dependência química. “Crucify Your Mind” trata sobre uma relação, em que uma mulher traí o marido, e a letra nunca deixar explícita o ocorrido. “Forget It” é um epitáfio sobre um término de relacionamento que, em poucas estrofes, sabe colocar o que é o fim de um casal, e a sensação que sentimos quando seguimos o rumo sozinhos. Meu último destaque é “Like Janis”, que cita a musa rock n’roll no seu título, mas não é sobre ela: é sobre uma relação em decadência, em que ambos já não se aguentam. 

Rodríguez é um dos casos que comprova que a ausência de sucesso comercial não impede que a obra se torne popular tardiamente, e muito menos, que não seja relevante. Muitas vezes, o público precisa de tempo e um “empurrãozinho” (como o documentário interessante) para promover a arte de uma maneira única. 

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FAIXAS:
1. "Sugar Man" - 4:40
2. "Only Good For Conversation" - 2:25
3. "Crucify Your Mind" - 2:30
4. "Establishment Blues" - 2:05
5. "Hate Street Dialogue (Dennis Coffey, Gary Harvey, Mike Theodore) - 2:30
6. "Forget It" - 1:50
7. "Inner City Blues" - 2:20
8. "I Wonder" - 2:30
9. "Like Janis" - 3:05
10. "Gommorah (A Nursery Rhyme) (Coffey, Harvey, Theodore) - 2:20
11. "Rich Folks Hoax" - 3:05
12. "Jane S. Piddy" - 2:38
Todas as músicas de autoria de Rodriguez, exceto indicadas
*Algumas autorias levam a assinatura de Jesus Rodriguez ou Sixth Prince, ambos referentes ao próprio Rodriguez

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OUÇA O DISCO:



quinta-feira, 13 de julho de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Charly Garcia - “Clics Modernos” (1983)



 

por Roberto Sulzbach 

- I want to make a record ("Eu quero fazer um disco").

- Your dad is rich or what? ("Seu pai é rico ou o quê?"


Nova Iorque, 1983, entrada do lendário Eletric Ladyland Studio, fundado por Jimi Hendrix. Batem à porta, dois argentinos com uma maleta e acontece este diálogo descrito acima.

Enquanto isso, o homem de bigode bicolor abre a maleta e pega um dos maços de notas de 100 dólares: "Do you want it, or not?" ("Você quer, ou não quer?"). Então, a porta se abre. 

Trinta anos atrás, os argentinos eram Charly García e Pedro Aznar. Os dois já eram lendas do rock de seu país. O primeiro, possuía o status de gênio musical por ser cantor, tecladista e protagonista em 3 grandes bandas do cenário portenho: o duo-folk Sui Generis, e as bandas de rock progressivo La Máquina de Hacer Pájaros e Serú Giran. O segundo, foi baixista de Charly na Serú Giran, e já era membro junto ao Pet Metheny Group. Lógico que, em Nova Iorque, ninguém sabia disso. 

Começaram os preparativos para as gravações do que seria, segundo muitos, a Magnum-opus do Rock Argentino, e quiçá, do idioma espanhol. A ideia inicial era se chamar “Nuevos Trapos”, mas depois de Charly se deparar com uma pixação escrita “Modern Clix” pelas ruas de Nova Iorque, não havia como não se chamar “Clics Modernos”. Foi-lhe entregue uma lista, contendo o nome de todos os produtores que trabalhavam regularmente no estúdio, onde encontraram o nome perfeito. Constava como: "Joe Blaney – The Clash"

Joe Blaney havia acabado de trabalhar no projeto mais ambicioso e criticamente aclamado do conjunto punk londrino, o "London Calling", e buscava um novo desafio. Nas palavras dele, quando chegou ao estúdio, não possuía a dimensão de com quem estava, e aos poucos foi percebendo o talento e a estatura dos músicos que estava prestes a produzir. Charly estava tão na vanguarda, que praticamente toda a parte de percussão foi feita em uma TR808, da Roland. Criada por Ryuichi Sakamoto, García apelidou o equipamento de “La Ryuchi”

O disco abre com "Nos Siguen Pegando Abajo", já demonstrando a forte influência do new wave. Musicalmente, é uma composição fenomenal, mesclando sintetizadores, a bateria da Ryuichi, somada de uma base em 4 tempos, enquanto a guitarra, toca o riff em 7 tempos, sendo assim, 2 compassos simultâneos. Apesar de ser um tema para tocar em festas, a música cita "los hombres de gris" ("homens de cinza", como referência à polícia), e o próprio título, que pode se traduzir como “seguem nos reprimindo”, referência à ditadura ainda vivida na Argentina.

"No soy um extraño" é uma balada dançante, impulsionada por batidas e palmas digitais, e carregada pelo baixo simples e certeiro de Aznar. A música aborda a história de dois homens buscando ver um tango antigo, tipo em que a dança era realizada apenas por rapazes, não envolvendo uma mulher, como hoje é popularmente conhecido. O tom expressado, tanto pela melodia, tanto pela letra, nos transmite o medo da homossexualidade ser descoberta publicamente.

Aznar e Charly: amigos e parceiros de Buenos Aires
a Nova Iorque para produzir uma obra-prima
"Dos Cero Uno" é a canção mais minimalista do disco, e que tem como base, além das batidas eletrônicas, a Tabla, instrumento popular na Índia e similar a um bongô. Nos traz quase um relato autobiográfico de Charly, falando sobre sua maturidade e mudança, o colocando como um personagem. "Nuevos Trapos" é uma balada new wave, uma canção moderna de amor, colocando piano e sintetizadores, que se sobrepõe harmoniosamente. 

A letra de "Bancate ese Defecto" trata de lidar com defeitos que todos têm, erros que todos cometem e a dificuldade da autoaceitação, mas que errar faz parte da experiência de ser humano (incluindo um trecho em que chama o ouvinte de narigudo). Quando chegamos à metade da música, Charly engata uma quinta, e em ritmo alucinado, dispara mais “verdades” aos nossos ouvidos. Finaliza com os sintetizadores imprimindo um tom de mistério, ao lado da linha de baixo de Aznar, finalizando, de forma magistral, o lado A. 

O lado B arranca com um sample (direto da Ryiuchi) de um grito de James Brown em “Hot Pants Pt.1”, para iniciar "No me Dejan Salir", sendo esse apenas um dos samples do cantor de soul utilizados na música (temos a adição de trechos de "Please, Please, Please" e "Super Bad" no decorrer da canção). Certamente, a música “más bailable del disco”, com pontes bem estruturadas e refrão grudento, além de ser a única música que contém uma bateria verdadeira, além do TR808. Vale a pena também conferir o icônico clipe da música, gravado um ano depois, e que conta com a participação do então tecladista, e futuro artista globalmente conhecido, Fito Paez, segurando um mocassim para a câmera. 

Um acorde grave dá início ao tema mais profundo da obra. Uma acorde que arrepiou, arrepia, e arrepiará gerações de argentinos, e (por que não?) latino-americanos em geral. "Los Dinosaurios" é uma eulogia aos desaparecidos da sanguinária ditadura que matou, perseguiu e reprimiu milhões de pessoas no país vizinho, e que também é válido para o nosso caso. Charly fez questão de dizer que vizinhos, artistas, jornalistas e nem mesmo seu amor está seguro, e podem desaparecer. “Clics” foi lançado um mês antes do retorno à democracia na Argentina, e imediatamente, se tornou um hino sobre os acontecimentos dos anos anteriores, convertendo-se em uma espécie de memória viva, em forma de hit, em forma de arte. O piano é tocado com sutileza, expressando o pesar do passado, ao mesmo tempo que vislumbra um futuro esperançoso. 

"Plateado Sobre Plateado (Huellas En El Mar)" continua o tom de protesto, tratando sobre o exílio, tanto autoimposto quanto compulsório, nos transportando para aquela realidade. O contrabaixo sedimenta a melodia, apenas em duas notas, enquanto o teclado coloca, em sincronia, acordes em dissonância, para explodir em um refrão harmônico repleto de riff de guitarras rompantes. Finalizando o álbum, "Ojos de Videotape" nos introduz uma novidade: um piano acústico! Sintetizadores, uma ampla capacidade vocal de Charly e uma preocupação com o vício das pessoas no escapismo digital. Em um mundo sem smartphones, tablets, internet, parece até bobo que a televisão fosse um grande problema na concentração e na própria concepção de mundo da sociedade. 

García disse que: "K7´s são para as praias, CD´s para os shoppings, e os discos são discos". Esse álbum tem uma “artesania” de disco, não somente músicas gravadas e compiladas. E definitivamente, se trata de um disco, uma obra-prima, que o estúdio construído por Jimi Hendrix, teve a honra de conceber, e não o contrário.

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FAIXAS:
1. "Nos siguen pegando abajo (pecado mortal)" - 3:30
2. "No soy un extraño" - 3:18
3. "Dos cero uno (transas)" - 2:09
4. "Nuevos trapos" - 4:08
5. "Bancate ese defecto" - 4:56
6. "No me dejan salir" - 4:21
7. "Los dinosaurios" - 3:28
8. "Plateado sobre plateado (huellas en el mar)" - 5:02
9. "Ojos de video tape" - 3:37
Todas as músicas de autoria de Charly García

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OUÇA O DISCO:






Roberto Sulzbach Cortes é porto-alegrense, gosta de viajar (principalmente a Buenos Aires) e possui alma de baby boomer. Futuro jornalista, cresceu escutando de tudo. De Nirvana a Chico e de Notorious B.I.G a Miles Davis.