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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

"Terra Selvagem", de Taylor Sheridan (2017)




Entre a beleza e a tristeza, entre o certo e o errado, a satisfação e a vingança, “Terra Selvagem “ se torna espetacular ao jogar com essas dualidades, mas dependendo dos olhos de quem assiste, pode se tornar uma arma cruel e implacável.
Cory ( Jeremy Rener), caçador de coiotes e predadores traumatizado pela morte da filha adolescente, encontra o corpo congelado de uma menina em meio ao nada e passa a investigar o crime com o auxílio de uma agente novata do FBI que desconhece a região. Este é o mote para uma narrativa bem construída que coloca o espectador dentro do filme vivendo sua aflição/angústia. Apesar de levantar boas questões “Terra Selvagem” deixa claro seu ponto de vista do “olho por olho e dente por dente” e num momento tão difícil como o que vivemos onde falta respeito de uma pessoa pela outra, onde homens conservadores com  discursos de ódio chegam ao poder (ou podem chegar, no caso do Brasil), esse tipo de “propaganda” de fazer justiça com as próprias mãos pode vir a ser algo perigoso, e embora não condenável, é, sim, no mínimo questionável por esta ênfase.

Dois pais, duas perdas. Uma dor compartilhada.
Além da fotografia espetacular (a neve que pode ser bela pode também ser o cenário completamente triste e solitário e a fotografia transmite isso), dos diálogos bem escritos, “Terra Selvagem” ganhou meu coração pelas suas ótimas atuações.  Elizabeth Olsen (Jane), brilha com mais uma atuação bastante consistente, mas meu amor vai para Jeremy Rener, com uma grande atuação, bastante realista e “crua”como alguns dizem. Definitivamente, o ator está muto mais maduro. A melancolia, a tristeza e raiva, está tudo lá, no seu olhar, até por seu personagem ser um homem de poucas palavras.
Apesar do filme se passar todo em torno de um mistério de um assassinado, o que torna seu desfecho previsível, você não perde o interesse porque a construção dos personagens é ótima e por mais que lá pela metade já se saiba mais ou menos a resolução do crime, queremos ver a reação dos personagens a essa descoberta. A primeira cena já é bem impactante: uma a jovem correndo na neve, no meio de uma tempestade, descalça, lutando pela vida. Em seguida um homem no meio da neve matando lobos que ameaçavam um grupo de ovelhas. Já sabemos que o que vemos é sobre a luta pela sobrevivência. Todos os planos longos de “Terra Selvagem” são belíssimos mas a cena que eles vão ate família da menina que morreu no início para revelar a seus pais como vai o andamento do caso e investigar mais a vida da vítima, merece destaque especial. É um momento muito pesado quando se vê a reação de dor dos pais. A mãe no quarto e o pai com a cara pintada.
Temos uma obra muito real em seus sentimentos com uma dor e uma solidão impactantes. O cenário de deserto de neve ajuda a criar esse clima. Há um crime a ser resolvido mas também questões internas a serem respondidas antes. É definitivamente, uma obra com uma tristeza interna e externa muito grandes o que o torna bastante pesado. O descaso com os índios nativos norte-americanos que acabam isolados do mundo e de suas leis é um dos pontos que merecem destaque, uma vez que estes são personagens habitualmente poucos mostrados no cinema atual.
Há de se ter cuidado ao interpretar "Terra Selvagem". Muitas vezes a vingança pode ser uma saída simples mas é bom lembrar que ainda há leis a serem seguidas. Combater o crime com crime é a solução? Algo a se pensar. Provavelmente, não.
Cenário lindo, ainda que triste e solitário.







por Vágner Rodrigues

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

"Terra Selvagem", de Taylor Sheridan (2017)



Está em cartaz na cidade um filme muito interessante chamado “Terra Selvagem” ("Wind River"), dirigido pelo roteirista de “Sicário” e “A Qualquer Custo”, Taylor Sheridan. Nele, o caçador de predadores Cory Lambert (Jeremy Renner) se envolve numa investigação de assassinato de uma jovem descendente de índios na cidade de Wind River, no Wyoming, onde existe uma reserva em total decadência. Ao auxiliar o FBI, na figura da agente Jane Benner (Elizabeth Olsen), o caçador é confrontado com seu próprio desejo de vingança, pois sua filha, de mãe índia, foi assassinada e o crime ficou sem solução.

A trama se desenvolve nas montanhas gélidas do Wyoming, onde os corpos vão aparecendo em meio à neve. No filme, o diretor engendra uma espécie de mistura de western/policial usando a questão indígena como parâmetro para falar de perdas. Assim como em “A Qualquer Custo”, no qual os dois jovens assaltantes tentam conseguir dinheiro para não perder as terras da família, aqui já se perdeu tudo: as terras e, especialmente, a dignidade. Os índios vivem em completo abandono. A cena em que mostra a chegada à reserva é emblemática: a esfarrapada bandeira americana está de cabeça para baixo e os trailers onde vive a população indígena estão em estado de miséria.

Renner: muito bem em seu papel
O clima dos moradores também não ajuda. Os personagens não conseguiram deixar o frio e a terra natal e acabaram presos a uma realidade sem saída. Ali se desenvolve a ação, na qual o diretor e roteirista tiram tudo o que podem de seus protagonistas. Os personagens, mesmo os pequenos, são muito bem desenhados. Jeremy Renner encarna bem o homem que perdeu a filha e se conformou com isso. Seu personagem dá uma guinada do caçador de predadores animais para homens predadores. Já o xerife índio Ben, interpretado por Graham Greene (de “Dança com Lobos”) tem de se equilibrar entre sua comunidade e a população branca.

Como no roteiro de “A Qualquer Custo”, Sheridan manipula as perdas do indivíduo como mote para seu cinema. Aqui elas são muitas: as perdas do filhos pelas drogas, pela morte e pelos personagens que não estão em cena mas que foram embora. Tudo isso num cenário imaculadamente branco, onde o sangue vem manchar o cotidiano tedioso. A música de Nick Cave e Warren Ellis é sutil e conduz a narrativa sem se intrometer ou chamar demasiadamente a atenção para si. O jovem diretor de fotografia Ben Richardson, de “Adorável Sonhadora”, aproveita bem a luminosidade da neve e o contraste do céu, ora azul límpido, ora carregado de nuvens. Há pouco contraste, como a vida neste lugar. Sem correr o perigo de se tornar mais um filme sobre a justiça pelas próprias mãos, “Terra Selvagem” encontra um epílogo solucionando a trama, mas sem final feliz. Vale a pena conferir.


"Terra Selvagem" - trailer


por Paulo Moreira