Somente dia desses tive a oportunidade de assistir ao
premiado “Árvore da Vida” do cineasta pouco prolífico Terrence Malick, ganhador
da Palma de Ouro do festival de Cannes do ano passado e centro de uma certa
discussão dos que o colocam como extremamente chato e longo e dos que o vêem
como uma obra-prima definitiva. Eu diria que nem tanto ao mar nem tanto à
terra. Vi com toda a expectativa para um bom filme, mas também me resguardando
do que poderia me esperar, com toda a tenção que pudesse merecer ou necessitar
para que detalhes definidores não me escapassem, e com toda a paciência que
exigisse. Fiz bem em abranger todas as possibilidades. É um filme que exige que
todas estas antenas estejam ligadas. Ele vai exigir sua atenção, sensibilidade,
disposição, percepção e tempo.
Mallick alterna sua lente sobre a vida de uma família dos
anos 50, cujo pai (Brad Pitt) é rígido em sua educação religiosa; na cabeça
perturbada de um dos filhos desta família nos tempos atuais (Sean Penn); em
imagens esparsas acompanhadas pela voz de e Penn ou pela mãe da família
(Jéssica Ceastain); e em imagens notáveis do surgimento da vida, desde o Big
Bang, passando pelas glaciações, pela primeira forma de vida, pelos
dinossauros, pelo surgimento de uma árvore, pelo nascimento de uma criança.
Tudo isso ao som de temas clássicos que conferem uma atmosfera toda majestosa e
etérea à cada cena. Tudo pacientemente. Tudo sem obedecer necessariamente a uma
ordem lógica. Mas isso é compensado, na minha opinião, pela fundamental
amarração de todos os elementos que é a perda de um dos filhos pela família que
traz à tona toda sorte de dúvidas, questionamentos, reflexões por parte da mãe
e do irmão e, pretende suscitar no espectador o sentimento mais importante de
todos: entendermos que nessa vida, só há uma coisa verdadeiramente importante,
só uma coisa que realmente fica, que permanece, e que esta coisa é o amor.
O diretor pacientemente insiste nos mostrar em imagens
espetaculares a origem da vida, do universo, do mundo, nos apresenta uma
família com problemas, com sentimentos conflitantes, com hábitos particulares,
com suas crenças, insiste em mostrar a natureza, questiona Deus, questiona o
ser, só para nos dizer no fim das contas que A VIDA É ASSIM. Tudo tem começo,
meio e fim. Inclusive nós. Mas nós, humanos, racionais que somos, temos é que
viver nossas vidas, sejam elas com pais rigorosos ou não, com religiões ou sem
elas, com alegria muitas vezes mas com tristezas também, lidando com a morte,
lidando com frustrações, mas fazendo uso dessa capacidade ímpar que temos em
relação aos outros seres vivos que é o poder de amar.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra: não é cansativo como
muitos classificam, maçante por conta de sua duração, ausência de linearidade
ou subjetividade. É filme para se ver mais com os olhos da alma do que com os
olhos físicos. Filme que merece a contemplação que ele mesmo sugere. Por outro
lado, não o classificaria também como obra-prima. Não chegaria a tanto. Não
diria tratar-se de uma das melhores coisas que tenha visto na vida ou o
impulsionaria imediatamente ao olimpo das grandes obras do cinema, lá junto com
“8 e 1/2”, “Laranja Mecânica”, etc. Muito bom filme, com certeza. Inegavelmente o é. Apreciável e
recomendável pra quem estiver disposto a ver com o coração e a mente abertos.
Porque “A Árvore da Vida” no fim das contas, amigos, não é
nada mais nada menos do que um filme sobre... a vida. Sobre a vida.
Cly Reis