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domingo, 31 de outubro de 2021

"Halloween III - A Noite das Bruxas", de Tommy Lee Wallace (1982)



Michael Myers é, sem dúvida, um dos mais icônicos personagens dos filmes de terror e seu comportamento autômato, associado àquele semblante impassível de sua máscara, excessivamente inexpressiva até mesmo para uma fantasia de Dia das Bruxas, é algo absolutamente aterrorizante. No entanto, um dos melhores filmes da franquia "Halloween", originalmente criada por John Carpenter, lá em 1978, curiosamente, não conta com a presença do sanguinário slasher da máscara branca. "Halloween III - A Noite das Bruxas", de 1982, parte de uma premissa completamente diferente, tratando de um fabricante de artigos de Halloween que, pretendendo restaurar as tradições pagãs da festa, planeja realizar um sacrifício em massa de todas as crianças que estiverem utilizando as máscaras fabricadas por ele, na noite das bruxas. Como? Convencendo, com uma campanha publicitária massiva, todos seus consumidores a usarem o acessório às 21 horas na fatídica noite quando será exibido um comercial, em rede nacional, que acionará as máscaras e fará, literalmente, derreter as cabeças das pessoas. No entanto, um médico e a filha de um de seus pacientes que utilizara uma das máscaras, percebem que há alguma coisa de errado, uma vez que o paciente, depois de uma crise de alucinações é assassinado dentro do hospital. Eles então ligam o incidente às máscaras e vão à cidade onde elas são fabricadas e lá se deparam praticamente com uma cidade-fantasma, deserta, misteriosa e vigiada por estranhos "funcionários" quase robóticos trajando terno preto. 
Usar a máscara e assistir ao comercial...
Uma combinação fatal.
Contado assim, diante da brutalidade e criatividade assassina de Michael Myers, para muitos, pode não parecer grande coisa. Mas não se engane! "Halloween 3" tem muito com o que apavorar. As mortes sanguinolentas não ficam devendo nada a nosso assassino mascarado, sendo a da primeira vítima, no hospital, terrível, e a demonstração do funcionamento da máscara pelo dono da fábrica, utilizando uma família qualquer, simplesmente, cruel e revoltante. Isso tudo sem falar na tensão proporcionada pela ameaça constante e onipresente dos 'seguranças' e sua postura zumbificada e, acima de tudo, por incrível que pareça, o inquietante e perturbador jingle da empresa, que anuncia, a cada dia, em contagem regressiva, a chegada do Halloween e do, derradeiro, momento da exibição do comercial. Sim, a musiquinha, repetitiva e 'irritante' da campanha publicitária do filme, talvez seja das coisas mais terrificantes e assustadoras do filme. Inegavelmente um diferencial em relação ao modelo padrão de filmes de terror da época onde o terror passava, necessariamente, por sustos gratuitos, clichês previsíveis e golpes de instrumentos perfuro-cortantes.
Pois é,... mas o modelo não agradou o público que, depois de ter visto os dois primeiros filmes com o competente e "carismático" matador Myers, se sentiu enganado de ver uma sequência sem ele e com uma temática inteiramente diferente. O problema todo foi que John Carpenter, o diretor dos dois primeiros, criador do personagem e produtor do terceiro filme, pretendia criar uma franquia com abordagens diferentes a cada sequência e, esta nova, depois da morte de Michael no segundo filme, representaria a virada no projeto. O filme foi muito mal recebido e, como acontece com Hollywood, sem nenhum constrangimento, o mais fácil, para agradar o povão e faturar mais, foi, mesmo contra a vontade de Carpenter, ressuscitar o serial-killer dando-lhe a capacidade sobrenatural de sobreviver a tudo e voltar e voltar e voltar, infinitamente, sempre no filme seguinte.
Filme subestimado, pouco valorizado, pouco conhecido mas que, além de um terror de boa qualidade, com um conceito diferenciado e instigante, propõe uma reflexão sobre a comunicação em massa, a publicidade e as grandes mídias, e principalmente, uma crítica ao consumismo, em especial em datas de grande apelo comercial, como é o caso do Halloween, por lá.
Se "Halloween III" não tem Michael Myers, tem a musiquinha do comercial, insistente e arrepiante, que funciona quase como um personagem, pois a todo momento que ela surge, a gente sabe que alguma coisa ruim está por acontecer. E o que é pior: ela, à sua maneira, grudenta e pegajosa nos ouvidos, assim como um maníaco mascarado, vai te perseguir e não vai te deixar em paz.


"Halloween III" - Jingle da empresa Silver Shamrock



Cly Reis