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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Melhores Álbuns da Década

Final de ano é época de listas. Tem lista de tudo, lista de coisas pra realizar no próximo ano, lista de presentes, lista de reforços pos times, listas de filmes e chove de listas de melhores músicas e álbuns por aí. E sendo final de ano e de década, mais aparecem listas ainda.
Duas das mais conceituadas publicações do ramo musical não poderiam deixar de apresentar as suas de Melhores Álbuns da Década. Particularmente acho que desde o final dos 80, início dos 90 a coisa anda piorando e cada vez menos se vê coisas muito boas, mas é lógico, sempre surge algo legal. Não são muitos mas tem.
A Rolling Stone por exemplo, pôe Radiohead com seu “Kid A”, na primeira posição, com dos melhores da década. Particularmente, não gosto nem desgosto muito do Radiohead. Perdi a paciência com eles depois do bom “Ok, Computer” e desde então não dou muita bola pros caras. Vou tentar ouvir este “Kid A”. Destaques, pra mim, para o ótimo e marcante “Is This It” dos Strokes na segunda posição e para "Elephant" dos White Stripes, destacado há alguns dias aqui neste blog, ocupando o quinto posto. Atenção para o também destacado (entusiasticamente) aqui no Spin 1/2, "Oracular Spectacular" do MGMT que para mim é o que de melhor aconteceu nos últimos anos, que aparece na 18° posição.
Sinal de que a coisa não anda muito boa é que Bob Dylan aparece duas vezes na lista entre os 20. A essas alturas cantando como uma velha, NÃO PODE! É apelar pras velhas novidades porque não tem nada muito melhor.
Mas outra que apresentou sua listinha da década, da qual gostei mais, foi a New Musical Express que tasca o mesmo “This Is It” dos Strokes na primeira, seguido de Libertines com “Up the Braket’ na segunda e o bom "XTRMNTR" do Primal Scream com o bronze. Outros destaques para mim são PJ Harvey com “Stories from the City, Stories from the Sea” em 6° que não é o melhor dela mas vá lá; Stripes que aqui aparece em 18° com o mesmo “Elephant” e em 19° com ”White Blood Cells”, The Horrors, outra das boas novidades dos últimos anos com "Primary Colours" como 68 e não contando com tanta generosidade como a da Rolling Stone, na NME "Oracular Spectacular" do MGMT só pegou a centésima posição.
Confira abaixo as 10 mais de cada publicação:

Rolling Stone:

1. Radiohead: Kid A
2. The Strokes: Is This It
3. Wilco: Yankee Hotel Foxtrot
4. Jay-Z: The Blueprint
5. The White Stripes: Elephant
6. Arcade Fire: Funeral
7. Eminem: The Marshal Mathers LP
8. Bob Dylan: Modern Times
9. M.I.A.: Kala
10. Kanye West: The College Dropout




New Musical Express:

1. The Strokes: This Is It
2. The Libetines: Up the Bracket
3. Primal Scream: XTRMNTR
4. Arctic Monkeys: Whathever People Say I Am, That’s What I’m Not
5. Yeah Yeah Yeahs: Fever to Tell
6. PJ Harvey: Stories from the City, Strories from the Sea
7. Arcade Fire: Funeral
8. Interpol: Turn on the Bright Lights
9. The Streets: Original Pirate Material
10. Radiohead: In Rainbows



quinta-feira, 25 de julho de 2024

Paul & Linda McCartney – "Ram" (1971)



por Roberto Sulzbach Cortes

“Incrivelmente inconsequente e monumentalmente irrelevante.”
Revista Rolling Stone sobre Ram, em 1971

Se minha última aparição neste querido blog foi para falar do primeiro álbum solo de John Lennon pós-separação dos Beatles, minha primeira aparição do ano (apesar de já estarmos mais para o final do que para o começo) será para falar do segundo disco solo da outra parte da dupla que coloriu os anos 60 juntos. Com a volta do nosso Sir ao Brasil, pelo segundo ano consecutivo, resolvi revisitar o catálogo do artista, o que me levou a uma de suas obras menos apreciadas, mas que com o tempo foi reconhecida: "Ram", de 1971. 

Paul McCartney havia lançado o primeiro disco solo, "McCartney", em 1970, compondo sozinho e tocando todos os instrumentos. Não causou um grande impacto, principalmente quando comparado ao que os ex-colegas John e George Harrison lançaram no mesmo ano. O primeiro lançou "Plastic Ono Band", uma obra-prima envolta em sofrimento, angústia e desabafo, enquanto o segundo lançou "All Things Must Pass", um disco triplo cheio de canções de um guitarrista suprimido pelo ego da dupla de frente da banda, contando até com parcerias de Bob Dylan.

"Ram" surge de um momento de refúgio para Paul, em que ele e a família resolveram se mudar para uma fazenda, o que levou a sua esposa, Linda, a colaborar com as composições. Posteriormente, os dois passam a fazer audições e encontram as pessoas que, eventualmente, formariam o grupo Wings com o casal. Portanto, estava tudo pronto para lançar um disco indie, nesse caso, de “independente”. 

À época, existiam dois motivos para alguém estar em uma gravadora independente: ainda não conseguir um contrato com uma gravadora grande; ou, querer ter maior controle e liberdade artística das obras. Frank Sinatra, ícone da música crooner, tinha seu próprio selo, assim como os Beatles, a famosa Apple Records, e sendo assim, todos os ex-membros competiam entre si quando lançavam novas músicas, além de toda uma nova leva de gêneros musicais que surgiram na virada da década. 

Sendo assim, "Ram" consegue ser direto e abstrato, ao mesmo tempo, com melodias em escalas maiores, características essas, presentes em praticamente todos os álbuns de indie pop subsequentes. E essas escolhas fizeram com que o disco fosse mal interpretado. Apesar do relativo sucesso comercial que o disco atingiu, a crítica caiu em cima de Paul, fazendo com que até seus ex-colegas dissessem que não entenderam o que ele queria fazer. Claro que ninguém entendeu: ele estava inventando um novo gênero. 

“Too Many People” abre o disco, mas poderia muito bem estar no catálogo dos canadenses da Arcade Fire, com violões melódicos e backing vocals femininos (cortesia de Linda) estridentes e afinados ao mesmo tempo, enquanto dá umas cutucadas no amigo John. Na sequência, “3 Legs” parece ter causado em um jovem Jack White, pois parece ser uma antecessora de “Hotel Yorba” do álbum “White Blood Cells”.

Paul e Linda: produção doméstica,
que virou cult com o passar dos anos
“Ram On”, uma semifaixa título, contém apenas uma estrofe e serve como pano de fundo, resumindo a tônica do disco. “Dear Boy” parece ter sido feita uns 5 anos antes, influenciada diretamente pelos Beach Boys, orquestrada, harmônica e grandiosa. Estranhamente, “Uncle Albert/Admiral Halsey” foi um sucesso nos Estados Unidos, de certa forma, até inesperado. Albert é realmente o tio de Paul e Admiral Halsey é em referência ao oficial William Frederick Halsey Jr. da marinha estadunidense, que lutou na Segunda Guerra Mundial. Parecem não ter correlação? Sim! Mas a música é sobre tentar levar a vida de maneira mais leve, e definitivamente, é a mais grudenta da lista, com seu refrão em dueto agudo dos artistas em “Hands across the water, water; Heads across the sky” ("Mãos pela água; mãos pelos céus").

“Monkberry Moon Delight” é uma psicodélica. A música não faz sentido algum, mas tem (como toda boa composição de McCartney), uma excelente melodia, vocais estridentes e a participação de Heather (filha de Linda e adotada por Paul), de 9 anos na época, nos backing vocals. Parece uma versão lúdica de uma canção de Tom Waits. É possível até imaginar os três se divertindo no estúdio, quase brincando enquanto gravavam. 

“Smile Away”, “Heart Of The Country” e “Eat At Home” soam como clássicos e novidades ao mesmo tempo. Misturam elementos do blues, do hard rock e do folk (com um quê tradicionalíssimo de Paul).

“Long Haired Lady” é Lindíssima (com o perdão do trocadilho, homenagem à esposa e parceira artística). “Ram On (Reprise)” traz aquele hábito dos discos do período, conceitualizados, em que um tema que aparece no início, volta a surgir ao final, para passar a sensação de ciclo contínuo, só tocando o instrumental da primeira versão presente no LP.

O disco fecha com “The Back Seat Of My Car”. Uma saída triunfal para um compilado de canções que trouxeram para um público massivo diversos contextos não muito conhecidos à época. O refrão “we believe that we can’t be wrong” ("nós acreditamos que não estamos errado") parece antecipar que ninguém entenderia muito bem o que eles estavam fazendo por ali, mas que o tempo se mostrou senhor da razão, provando que estavam certos.

"Ram" passou por algo muito comum na era dos streamings: a redescoberta. O disco é um “primo alterna”, perto de "Band On The Run" (com a Wings, 1973), ou até mesmo dos hits presentes em "Wings at the Speed of Sound" (1976). Mas, lentamente, ganha espaço como um dos mais experimentais da carreira do baixista daquela banda famosa, e dos mais influentes da música atual.

Um projeto, praticamente, familiar ajudou a pavimentar o caminho do indie pop. O próprio Paul passou a admirar o próprio trabalho "Ram", que depois de mais de 50 anos, está recebendo a devida atenção que sempre mereceu. 

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FAIXAS:
1. "Too Many People" - 4:09
2. "3 Legs" - 2:48
3. "Ram On" - 2:30
4. "Dear Boy" - 2:14
5. "Uncle Albert / Admiral Halsey" - 4:50
6. "Smile Away" - 4:01
7. "Heart Of The Country" - 2:22
8. "Monkberry Moon Delight" - 5:25
9. "Eat At Home" - 3:22
10. "Long Haired Lady" - 6:05
11. "Ram On (Reprise)" - 0:55
12. "The Back Seat Of My Car" - 4:29
Todas as composições de autoria de Paul e Linda McCartney

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OUÇA O DISCO: