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quinta-feira, 30 de maio de 2024

Exposição “Anjos com Armas”, de Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel e Sergio Camargo - Pinakotheke Cultural - Rio de Janeiro/RJ


Dos vários espaços culturais do Rio de Janeiro, sempre há um novo a se descobrir. A cada vez que volto à Cidade Maravilhosa um dos roteiros é, justamente, visitar algum desses espaços para conhecer. Foi assim anos atrás com Instituto Moreira Salles, Sesc Cultural e Casa Fundação Roberto Marinho. Desta feita, o local desvendado foi a bela Pinakotheke Cultural, em plena Rua São Clemente, uma das duas principais vias arteriais do querido bairro de Botafogo. Lá, por conhecimento prévio, sabíamos haver a exposição “Anjos com Armas”, que reuniu obras de quatro artistas visuais brasileiros aos quais nutrimos grande admiração: Hélio OiticicaLygia Clark, Mira Schendel e Sergio Camargo.

A mostra, que já se encerrou neste mês de maio, reuniu obras destas quatro referências das artes visuais modernas brasileira e suas relações com a lendária galeria Signals, em Londres, nos anos 60, marco para a arte de vanguarda e experimental daquela época. Por curtos mas eternos 2 anos, o crítico e curador britânico Guy Brett e o artista filipino David Medalla, fundadores da Signals, expuseram Camargo, Lygia, Mira e, mais tarde com o fechamento da Signals, na White Chapel, Oiticica, dando uma inédita vitrine internacional à produção artística brasileira ou de fora do tradicional circuito das artes.

A convidativa entrada lateral
da 
Pinakotheke Cultural,
em Botafogo (RJ)

Em “Anjos com Armas”, como escreve Max Perlingeiro, curador da mostra, “Guy Brett sempre foi a grande referência para uma melhor compreensão da produção artística no Brasil a partir dos anos 1960, na Europa. Sua amizade com estes artistas, na década de 1960, e, mais tarde com Lygia Pape, Cildo Meireles, Antonio Manuel, Tunga, Waltercio Caldas, Regina Vater, Roberto Evangelista, Maria Thereza Alves, Jac Leirner, Ricardo Basbaum e Sonia Lins propiciou a divulgação da produção artística, internacionalmente, através de diversos artigos e livros”.

Em termos de exposição, o belo casarão em estilo neoclássico abriga uma espaço de boa proporção de obras, nem muito nem pouco. Grosso modo, uma grande sala para cada um dos quatro artistas além de uma sala de projeção, havendo, principalmente na entrada, pontos de confluência entre cada um. Na sala dedicada a Mira, seu desenho gráfico exato e, principalmente, o trabalho inventivo de logotipia que muito diz à publicidade e ao design. Lygia, das maiores de sua época, a relação visual pura e o corpo da matéria extraordinariamente concisa, como nos seus “Espaço Modulados” nº 4, 8 e 9, de 1958 (tinta automotiva sobre aglomerado). Nas palavras de Brett, a coerência da obra de Lygia “nos torna capazes de registrar uma trajetória que começa com a pintura e termina com a prática de uma espécie de psicoterapia”.

No entanto, obras de Oiticica não só conversam como, em alguns momentos, saudavelmente se confundem com as de Lygia em especial. Caso da escultura suspensa de acrílico sobre madeira, de 1959, que lembra os parangolés, que o artista desenvolveria anos depois, e que muito dialoga com os bichos de alumínio de Lygia (“Bicho-contrário II”, de 1961, “Bicho-caranguejo” e “Bicho”, de 1960). Até mesmo dos Metaesquemas, conhecidos trabalhos e Oiticica da fase pré-tropilcalista, nota-se semelhanças e interinfluência, seja em “Voo alto pra cima, pra dentro e pra fora” (1958) ou “Dual mas nem tanto” (1957).

Entre os quatro, a que tinha menos contato, mas cuja obra merece muita atenção, é a de Camargo, com seus relevos brancos que saltam das telas e mesmo das esculturas, as quais até a tridimensionalidade não é capaz de frear tal sensação. Seja em madeira pintada ou em mármore, as formas cônicas e em enterramentos muito fizeram vir à mente a arte geométrica-construtiva de Sérvulo Esmeraldo, outro brasileiro com experiência de residência em Paris assim como Camargo.

Fique com algumas imagens do que Leocádia e eu presenciamos nesta primeira visita a Pinakotheke Cultural. Imagino que venham muitas ainda.

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O desenho geométrico e perfeito de Mira Schendel

Outras técnicas: bastão oleoso e tinta a base de água sobre papel e
massa, pigmento e areia sobre aglomerado, ambas dos anos 60

Mais do olhar minimalista de Mira

Aula de letterings de Mira Schendel


Lygia, oura craque das variações mínimas

Os "bichos" de Lygia Clark e sua
relação estreita com a Signals


Catálogos e materiais originais da galeria Signals

Lygia ou Oiticica? Bichos ou pré-parangolés?

Metaesquema "“Dual mas nem tanto” de Oiticica

Outro da fase dos Metaesquemas de Oiticica, final dos anos 50

O potente trabalho de Sergio Camargo

Detalhe de seus relevos em branco

A obra essencialmente limpa e construtiva de Camargo

Mármore com as mesmas ideias/resoluções

Outra escultura de Camargo, que recepciona
os visitantes na abertura da exposição



Daniel Rodrigues



sábado, 30 de dezembro de 2017

Exposição “Pulsations/Pulsações do Arquivo Vivo de Sérvulo Esmeraldo” - Instituto Ling - Porto Alegre/RS


O irreverente e criativo Esmeraldo, falecido este ano
Há programações que só são possíveis de se fazer quando se está de férias, mesmo que sejam dentro da própria cidade em que se mora. Pois, durante alguns dias de folga neste final de ano, pude, entre outras coisas, visitar com Leocádia o Instituto Ling, em Porto Alegre, com tempo e atenção. O centro cultural, de bela arquitetura e que respira bom gosto em todos os detalhes, é, por si, um local a ser visitado.

Porém, ainda por cima, o espaço está recebendo a exposição “Pulsations/Pulsações do Arquivo Vivo de Sérvulo Esmeraldo”. Artista cearense falecido em fevereiro deste ano, que eu não conhecia e que me foi uma grata surpresa tanto no que se refere à beleza de sua obra quanto, igualmente, de sua importância dentro do cenário das artes visuais brasileiras da metade do último século para cá.

Com curadoria de Ricardo Resende, a exposição traz um apanhado bem costurado de obras do artista ao longo de sua produção, desde as primeiras telas, no final dos anos 50, até a exploração tridimensional e geométrica, terminando com obras já deste século. Tudo isso passando por instalações, gravuras, desenho, esculturas e outros formatos que brincam com o conceito cinético da figura, seja pela abstração ou pela geometria, numa ampla experimentação gráfica. Claro/escuro, relevo, volume e densidade se revelam através de ranhuras, linhas, rabiscos, desenhos, tudo sempre supondo o movimento, o gesto, a existência dentro do espaço. Tudo sob um olhar irreverente e sagaz, o“espírito de criança”, conforme lhe define Resende.

Impressionantes a naturalidade das composições plásticas, que parecem valer-se enquanto obra sem nenhuma dificuldade, por "menor" que sejam. Caso da instalação "Sequência", criada quando da residência do artista na França, que funciona como uma peça-célula para a concepção de várias outras cujo "simples" conceito visual e cinético se expande a outras apropriações.

Quem não viu a mostra de perto, vale muito a pena dar um pulo lá e conferir. E se, como eu e Leocádia, ainda não tivera explorado o Instituto Ling, mais ainda. Mais de um motivo para apreciar belezas, às vezes, escondidas da cidade.

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serviço
Exposição “Pulsations/Pulsações do Arquivo Vivo de Sérvulo Esmeraldo"
local: Galeria do Instituto Ling
endereço: Rua João Caetano, 440, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre/RS 
período: até 31 de março de 2018
horário: de segunda a sexta, das 10h30 às 22h, e sábados, das 10h30 às 20h
curadoria de Ricardo Resende.
entrada franca.

abaixo algumas fotos da exposição:

Gravura e nanquim sobre papel: mistura harmônica de técnicas
A brilhante instalação "Sequência", peça-célula de várias outras obras do artista
Dois óleos sobre tela dos anos 50: ideia tridimensional já presente

Matriz em chapa de metal de 1961
O traço e o desenho abstrato dos anos 70
A peça "L’oeuvre gravée (burins)", de 1964-1969: raspas de chapa de metal em pote de vidro

Visão geral da galeria
Maquete de cenário feito em metal no qual brinca com volumes e com movimento
As recentes esculturas em metal que exploram volumes e o claro-escuro
Leocádia e uma das plásticas obras de Esmeraldo
Posando junto a uma das obras 3D do artista cearense

texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa e Gerson Tung/Divulgação