Lar (foto: Leocádia Costa) |
"Uma
vez, depois de gozar dentro de uma [puta],
acometeu-lhe uma certeza
inexplicável de que
só se sentira feliz nessa vida porca e suja
quando estivera no útero.”
trecho do conto “Dentro”,
presente no livro “LAR”
Como
havia lhes adiantado aqui no ClyBlog em julho, saiu, enfim, a
coletânea "LAR", pela Multifoco, na série Anthology. Consta
nela um conto de minha autoria: "Dentro", que já teve publicação
aqui no blog em fevereiro de 2012. Pois este foi escolhido para
integrar, entre contos e poesias, esta primeira edição da
antologia, a qual traz 26 textos ao total.
Estou
muito feliz por esta nova publicação depois do meu de estreia, "Anarquia na Passarela: a influência do movimento punk nas coleções de moda" (Dublinense), que lancei há dois anos e que
teve uma feliz estrada até agora, coroada com o Prêmio Melhor Livro de Ensaio no Açorianos do ano passado. Além de
apreciar o conto em si, este significa minha primeira edição
impressa de ficção.
Afora
o meu próprio texto, outros chamaram-me atenção. Entre os contos,
destaco primeiramente o do paulista GS Lewd, com o esquisito e
instigante título “Non Ducor, Duco”. Condução temporal e
atribuições psicológicas precisas, tal como admiro e busco em
minha literatura. Outro, “Destruído”, de Fábio Baptista,
impressiona tanto pela construção temporal quanto pela triste e
impactante história de uma família arruinada por uma trágica
morte. Na mesma linha de dramas familiares, “Memórias” conta o
retorno para casa da advogada Nina, com o bonito detalhe de que a voz
feminina em primeira pessoa saiu da cabeça de um homem, o
montes-clarense Emerson D. E Pimenta. “Em Pedaços”, da
fluminense Bruna Leôncio, igualmente chafurdando nas feridas de
família, também merece nota.
Entre
as poesias, adorei especialmente a sensível e pungente “Pele”,
de Paula Tolentino, também de RJ, a qual faço questão de
transcrever aqui na íntegra:
Fina
fronteira entre dentro e fora
passagem
traje
com que transito no mundo
Vestido
d’alma
guarda,
impele
Protege
expõe
o
que vai dentro
Encontro
no precipício
migração
e mistério
Quero
habitar este limite
mão
dupla
mim,
mundo
Ainda,
das poesias, “O poema se faz em casa” (Cláudio Lopes de Araújo,
Goiás) e “Vida doméstica” (Susana Savedra, RJ), que passeiam
pela imensidão do “lar interior”, o sem título de Vinícius
Trindade (“da janela do meu/ quarto aberta/ ouço o resto do
mundo/ e está provado:/ o cotidiano/ faz muito barulho/ por nada”)
e a exemplarmente feminina “Entre sem bater”, de Mariana Moura.
Enfim,
uma bonita edição, caprichada e de bom tamanho no que se refere à
quantidade de textos. Além de ter gostado de participar, é
interessante poder conhecer produções tão diversas e provindas de
diferentes cantos do país, que dificilmente se encontrariam com
facilidade e/ou juntas num único volume.
Que
venham novas antologias, pois já estou querendo mais.
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