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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

“Boyhood”, de Richard Linklater (2014)



O diretor Richard Linklater sempre se preocupou com os efeitos do tempo e da sociedade na vida dos indivíduos. Desde “Dazed and Confused” (“Jovens, Loucos e Rebeldes” no Brasil), o diretor demonstra ser um crítico mordaz das exigências da sociedade consumista americana sobre os jovens. Nele, o último dia de aula na high school permite uma série de situações engraçadas, trágicas e cômicas de seus protagonistas, todos na eminência de entrar na universidade e terminar com aquele mundo de irresponsabilidade da adolescência. Na sequência de sua carreira, depois de trafegar pela “Escola do Rock”, por “Waking Life” - onde estas preocupações atingem um paroxismo filosófico – e pela trilogia “Before Sunrise, Sunset e Midnight”, entre outros, Linklater consegue a síntese de seus pensamentos e suas preocupações em “Boyhood”.

No novo longa, resolve aprimorar sua tese, acompanhando por 12 anos a trajetória de Mason (o excelente Ellar Coltrane) realmente durante este período. A partir de uma família desfeita, Linklater acompanha a evolução física do personagem e, especialmente, sua trajetória de vida. Junto com Mason, vêm as vidas de sua mãe (Patrícia Arquette, ótima como sempre), do pai (Ethan Hawke, o ator-fetiche do diretor) e da irmã, interpretada com veracidade pela filha do diretor, Lorelai Linklater.

Arquette, linda e talentosa, com o excelente Coltrane
Durante as quase três horas de filme, vemos Mason enfrentar novas escolas, dois padrastos com problemas de alcoolismo, cortes de cabelo, namoradas confusas, um pai adolescente, uma mãe carente e uma irmã quase sempre indiferente. Tudo aquilo que enfrentamos em cada fase de nossas vidas. A diferença em relação aos jovens brasileiros se dá no rito de passagem que é o final da high school e a busca de um lugar na universidade e na vida. Como a sociedade americana é estruturada em cima deste momento definidor, esta competitividade é estimulada desde a infância. Aqui no Brasil, por exemplo, como temos “jovens” de 40 anos ainda morando com os pais e não se importando em continuar na “casa da mamãe”, tudo parece muito distante.

Linklater consegue um prodígio ao filmar toda esta trajetória na cidade de Austin, Texas, sem cortes explicativos de tempo, nem ficar escravo da cronologia. Nestes 12 anos, o diretor reunia seu elenco durante três ou quatro dias e registrava parte da história. Esta técnica permitiu o frescor das situações e a sua veracidade. Se não fossem as mudanças físicas dos personagens, poderia se dizer que tudo foi filmado de uma só vez, sem prejuízo para a questão técnica e de roteiro.

Richard Linklater garantiu, durante o lançamento de “Boyhood”, que este será o último filme de sua carreira. Caso isso seja verdade, podemos dizer que foi um fechamento de luxo para uma filmografia muito interessante. Vale a pena conferir “Boyhood”.



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