O diretor Richard Linklater sempre se preocupou com os
efeitos do tempo e da sociedade na vida dos indivíduos. Desde “Dazed and
Confused” (“Jovens, Loucos e Rebeldes” no Brasil), o diretor demonstra ser um
crítico mordaz das exigências da sociedade consumista americana sobre os
jovens. Nele, o último dia de aula na high
school permite uma série de situações engraçadas, trágicas e cômicas de
seus protagonistas, todos na eminência de entrar na universidade e terminar com
aquele mundo de irresponsabilidade da adolescência. Na sequência de sua
carreira, depois de trafegar pela “Escola do Rock”, por “Waking Life” - onde
estas preocupações atingem um paroxismo filosófico – e pela trilogia “Before
Sunrise, Sunset e Midnight”, entre outros, Linklater consegue a síntese de seus
pensamentos e suas preocupações em “Boyhood”.
No novo longa, resolve aprimorar sua tese, acompanhando por
12 anos a trajetória de Mason (o excelente Ellar Coltrane) realmente durante
este período. A partir de uma família desfeita, Linklater acompanha a evolução
física do personagem e, especialmente, sua trajetória de vida. Junto com Mason,
vêm as vidas de sua mãe (Patrícia Arquette, ótima como sempre), do pai (Ethan
Hawke, o ator-fetiche do diretor) e da irmã, interpretada com veracidade pela
filha do diretor, Lorelai Linklater.
Arquette, linda e talentosa, com o excelente Coltrane |
Durante as quase três horas de filme, vemos Mason enfrentar
novas escolas, dois padrastos com problemas de alcoolismo, cortes de cabelo,
namoradas confusas, um pai adolescente, uma mãe carente e uma irmã quase sempre
indiferente. Tudo aquilo que enfrentamos em cada fase de nossas vidas. A
diferença em relação aos jovens brasileiros se dá no rito de passagem que é o
final da high school e a busca de um
lugar na universidade e na vida. Como a sociedade americana é estruturada em
cima deste momento definidor, esta competitividade é estimulada desde a
infância. Aqui no Brasil, por exemplo, como temos “jovens” de 40 anos ainda
morando com os pais e não se importando em continuar na “casa da mamãe”, tudo
parece muito distante.
Linklater consegue um prodígio ao filmar toda esta
trajetória na cidade de Austin, Texas, sem cortes explicativos de tempo, nem
ficar escravo da cronologia. Nestes 12 anos, o diretor reunia seu elenco
durante três ou quatro dias e registrava parte da história. Esta técnica
permitiu o frescor das situações e a sua veracidade. Se não fossem as mudanças
físicas dos personagens, poderia se dizer que tudo foi filmado de uma só vez,
sem prejuízo para a questão técnica e de roteiro.
Richard Linklater garantiu, durante o lançamento de
“Boyhood”, que este será o último filme de sua carreira. Caso isso seja
verdade, podemos dizer que foi um fechamento de luxo para uma filmografia muito
interessante. Vale a pena conferir “Boyhood”.
por Paulo Moreira
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