Obra do artista que é a logo do espaço,
na parede externa do anexo.
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“Minha
linguagem plástico-visual signográfica
está ligada aos valores
míticos profundos
de uma cultura afro-brasileira
(mestiça-animista-fetichista)”
Rubem Valentim
Conheci parte da
obra do artista visual baiano Rubem Valentim (1922-1991) por
conta de uma investida frustrada. Pois um dos pontos que almejávamos
visitar Leocádia e eu em Salvador era o Solar do Unhão, um
belíssimo complexo arquitetônico do século XVII (integrado pelo
Solar, pela Capela, um cais privativo, aqueduto, chafariz, senzala e
um alambique) sobre o qual saímos de Porto Alegre já com intenção
de visitar, pois lá funciona o Museu de Arte Moderna da Bahia –
MAM’s sempre fazem parte de nossos roteiros. Ainda por cima, já
lá, passando pela Avenida do Contorno, que costeia a Baía de Todos
os Santos, pudemos ver de cima o lindo casarão lá embaixo, bem à
beira do mar, o que nos empolgou ainda mais em conhecer o local.
Peças compostas em escultura,
madeira e acrílica.
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A decepção se deu
porque praticamente todo o Unhão estava em reforma estrutural ou em
montagem da nova exposição. Resultado: a única galeria que tivemos
acesso foi justamente a sala que leva o nome de Rubem Valentim, um
anexo do museu localizado numa lomba acima da casa antiga – lindo
por sinal, que, em sua arquitetura moderna, contrasta bem com os
traços da original de estilo colonial. Pois a decepção não foi
total porque ali estava a exposição “Manifesto, ainda que
tardio”, de Valentim. Pequena mas bem interessante, mostra um
conjunto de esculturas, pinturas e instalações (em algumas obras,
os três formatos ao mesmo tempo, todas compostas de escultura,
madeira e acrílica) de 1977 e 78. Dono de uma arte figurativa
geométrica, Valentim foi um dos pioneiros, segundo o crítico e
ensaísta carioca José Guilherme Merquior, de uma arte “semiótica”,
devido à sua capacidade de dessacralizar fetiches e objetos rituais,
imprimindo a eles contornos de uma semântica peculiar.
A exposição mostra
bem isso: símbolos africanos e da religiosidade afro-brasileira são
elaborados em formas geométricas graves e concisas, pois
transformados pelo concretismo e pelo construtivismo vida urbana. Um
cosmopolitismo muito original. O título, inclusive, é bem
apropriado: “Manifesto, ainda que tardio” é um documento escrito
por Valentim em 1976 onde ele explicava os porquês e as motivações
de sua arte, uma vez que ele, artista precursor da moderna arte na
Bahia que vivera e expusera em várias capitais brasileiras
(Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo) e exterior (Itália, Alemanha,
Japão, Colômbia), nunca o tinha feito tão abertamente até então.
Por se tratar de um
espaço expositivo temático, sempre há obras de Valentim, porém
esta vale bastante a pena ser vista por quem puder.
Os Relevos Emblema de 1878 |
Quadros-esculturas da exposição |
Raros tons que incrementam a signografia de Valentim |
Eu entre as obras de Valentim |
texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa
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