Ai, ai, ai! |
Vamos pegar um dos maiores
diretores do neorrealismo italiano, Roberto
Rossellini, juntar com uma estrela hollywoodiana, Ingrid Bergman, e
colocar os dois em juntos em um filme? Isso é "Stromboli", filme
muito bom, uma das obras clássicas de Rossellini que fez
muito mais barulho pelos acontecimentos dos bastidores do que pelo filme
em si. Durante as filmagens Rossellini e Bergman acabaram se
apaixonando e começaram a namorar, Bergman acabou engravidado (um
detalhe rápido ambos já eram casados com outras pessoas), esse
romance foi extraconjugal, nem preciso dizer que isso foi escândalo. Bergman acabou praticamente expulsa dos Estados Unidos, mas não sou
colunista social então vou parar por aqui, vamos ao filme.
Karin (Ingrid Bergman) é uma
jovem mulher que fugiu de seu país por causa da Segunda Guerra Mundial e foi parar de forma clandestina na Itália onde é presa. Na
Itália, Karin tenta conseguir asilo politico junto ao governo argentino, mas seu pedido é negado, então só lhe resta uma
alternativa para escapar da prisão onde vive. Karin resolve aceitar
o pedido de casamento de Antô
Karin e Antonio, recém casados
viajando para a ilha de Stromboli
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Ao chegar na ilha, Karin
percebe que saiu de uma prisão, e entrou em outra. Stromboli tem poucos habitantes e também está toda devasta devido às frequentes
erupções do vulcão que domina ilha, sem falar que ela desprezada
pelas outras mulheres da ilha por a acharem diferente. Não há
nada que agrade Karin, é só decepção.
Ao longo da trama, Karin até
tenta levar uma vida típica de um nativo da ilha, ao ver seu marido
se matando para trazer dinheiro para casa, mas a vida de dona casa
não é para ela. Pode-se discutir algumas atitudes de Karin, como
tentar seduzir o padre de Stromboli, para pegar o dinheiro que ele
guarda na igreja, para tentar fugir, mas é uma atitude
desesperada, Karin não raciocina mais direito, ela apenas quer sair
da ilha de qualquer forma, não aguenta mais a sua vida, e vai
utilizando sua beleza como arma ao longo do filme. E para piorar, ela
descobre que está grávida (não que a gravidez seja algo ruim, mas
neste caso apenas dificulta a fuga dela), ela decide que não vai ter
seu filho em Stromboli.
A bem montada cena da pesca. |
Como de costume nos filmes do
neorrealismo italiano, a maioria do elenco é formado por não-atores,
pessoas comuns, para dar mais realismo aos filmes, o que dificultou
o trabalho da atriz que falava muito pouco de italiano, podemos dizer que
Karin tem muito do que Ingrid Bergman estava passando no set, por
isso o desconforto de Karin é tão real, por que a própria Bergman
estava sentido isso.
Embora não seja a maior obra
de Rossellini, o filme tem seus momentos grandiosos, como a sequência
da pescaria onde Karin vai visitar seu marido no trabalho, e uma cena
longa, com cortes exatos, onde é filmada uma pescaria real, é tão
bem feito, que você e transportado para dentro do filme, que no
final da longa cena, você se sente exausto como os pescadores, ou
talvez assustado como Karin. O final também é épico (um pouco
frustrante quando se vê pela primeira vez), Rossellini
deixa aberto o final, para que espectador termine de ver o filme e
fique com ele na cabeça (e dá certo). A obra tem um pouco de ar
documental, por relatar realmente como é o dia a dia na Ilha de
Stromboli, como funciona a pesca, como acontece à evacuação da
ilha quando o vulcão entra em erupção, esses pequenos detalhes
trazem um ar diferenciado para o filme.
O sofrimento de Karin para atravessar
o vulcão e fugir da ilha.
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Algumas coisas podem incomodar
o espectador ao assistir o filme, como as luzes, o som, estes aspectos
técnicos deixam a desejar, mas a atuação de luxo de
Ingrid Bergman (que lhe rendeu
os prêmios “Bambi”. de melhor atriz estrangeira e Silver Ribbon
de melhor atriz estrangeira em filme italiano ambos em 1950) superam
tudo isso. O ponto alto da atuação de Bergman é na sequencia
final onde ela tenta fugir atravessando a montanha, enfrentando os
gases vulcânicos, Karin é a frustração de uma vida nova que deu
errado, e o desespero por estar quase morrendo asfixiada, mas também
é esperança de ter forças para salvar seu filho.
O que vai ser do futuro de Karin, não sabemos (ou sabemos?), fica à sua escolha se você sentiu
pena dela, torça para que ela tenha sobrevivido e ganhado mais uma
chance, se você foi contra as atitudes dela ao longo do filme, torça
para que ela tenha encerrado sua vida ali mesmo, o mais importante
não deixe de ver esse, um mestre do cinema italiano no seu auge, uma
diva esbanjando beleza (e um pouco sensualidade, sem ser vulgar) e
muito talento, e os dois em uma sintonia maravilhosa difícil de se
ver nos dias atuais.
Obs: Dio, Dio mio, Dio
misericordioso.
por Vagner Rodrigues
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