Sou fascinado pela
história de Christopher McCandless (ou Alexander Supertramp). Em
1992, aos 24 anos, o "jovem-vida-perfeita" botou uma
mochila nas costas e se bandeou estrada afora, sem um tostão no
bolso, rumo ao isolamento na carcaça de um ônibus abandonado em
Fairbanks, no Alaska. Uma jornada de autoconhecimento, de desapego
transcendental, de alguém completamente fora dos padrões do
quadradismo mundano. A história, trágica, ficou famosa depois de
uma reportagem publicada em 1993 na revista The New Yorker. O autor,
John Krakauer, acabaria transformando a história em livro: "Na
Natureza Selvagem", de 1996. Em 2007, Sean Penn dirigiu Emile
Hirsh como McCandless e trilhou a obra-prima ao som de Eddie Vedder.
O filme é genial. Tudo nele é genial; de uma ponta a outra.
Agora, finalmente
matei a curiosidade de ver algo que se lançou (pelo menos foi a
primeira impressão que tive) como a versão feminina dessa história.
De fato, "Livre" lembra "Na Natureza Selvagem":
uma jovem, vinte e poucos, resolve fazer, sozinha, uma trilha de 1,8
mil km tentando superar uma sequência de traumas. Em meio a isso,
pitadas de literatura (ainda que mais acanhadamente). A história
também é real, porém mais agridoce. Muita gente teima em lembrar
de Reese Whiterspoon por "Legalmente Loira", mas prefiro a
referência de "Johnny & June". Ela vai bem em "Livre",
dirigido por Jean Marc Valeé (o mesmo de "Clube de
Compras Dallas"). Pontos positivos, ainda, para a fotografia; o
roteiro fragmentado e muito bem construído por Nick Hornby; e a
trilha, que leva desde o El Condor Pasa inigualável de Simon &;
Garfunkel até uma ceninha com banda cover de Greateful Dead. Não é
"Na Natureza Selvagem", mas é justo e tão verídico
quanto.
por Ricardo Lacerda
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