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quarta-feira, 22 de abril de 2015

"O Irmão Alemão", de Chico Buarque - Companhia das Letras (2014)



Decepção não seria uma palavra correta tampouco justa para classificar meu sentimento em relação a “O Irmão Alemão” de Chico Buarque. Eu poderia dizer, sim, é que o todo ficou aquém das minhas expectativas. Letrista consagrado, de inegáveis méritos compositivos e linguísticos, Chico teve êxito imediato na carreira de escritor apresentando um crescimento literário evidente desde seu primeiro romance, até por isso, de minha parte, esperava algo realmente arrebatador. Não foi bem assim.
“O Irmão Alemão”, livro semi-autobiográfico que narra a história de um homem, no caso o próprio autor, que por acaso, em uma carta perdida entre livros, descobre que o pai tivera um filho na Alemanha, antes do casamento, no período entre guerras, e passa a empenhar-se por encontrá-lo, perde-se um pouco exatamente nesta tentativa/intenção de colocar a ficção na realidade o que a meu entender impediu o autor de soltar-se completamente no romance. Ainda que traga as inegáveis qualidades de escrita de Chico, a condução, o ritmo, a sonoridade das palavras e aquela quase musicalidade da narrativa, “O Irmão Alemão” não consegue emplacar, não engrena, não tem a fluência natural que conquiste o leitor. A 'confusão' comumente proposta por Chico Buarque de presente-passado-anseio-devaneio-sonho' tão bem utilizada em "Leite Derramado", por exemplo, não funciona tão bem desta vez e não colabora para o desenvolvimento da trama de maneira tão consistente quanto nos trabalhos anteriores.
Talvez um pouco pela questão emocional, pelo envolvimento, Chico não tenha conseguido tirar o máximo de si como romancista, sempre tendo que prender-se um pouco à sua própria história e de alguma forma ser fiel aos fatos. Fato é que para mim, “O Irmão Alemão” não passa de uma leitura interessante, não é chato, não é cansativo, mas também não é nada de excepcional. Talvez meu pequeno desapontamento e cobrança residam no fato que o crescimento qualitativo era tão progressivo; do bom “Estorvo”, para o muito bom “Benjamim”, para o ótimo "Budapeste", até o excelente "Leite Derramado"; fosse de se esperar algo 'fora do comum'. E não foi. Foi comum.
Mas qualidade e talento é que não faltam em Chico Buarque e tenho certeza que os próximos estarão à altura do que ele pode fazer. Fica pra próxima.


Cly Reis

3 comentários:

  1. Parecido com o que Juremir Machado da Silva escreveu sobre, mas foi um pouco além (ou procurou explicações) para o "não funcionamento" da trama que tu te referes: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=6957

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    Respostas
    1. Ah, podia me estender mais e abordar detidamente os motivos, os elementos que não deram a liga, mas a ideia era fazer uma análise breve e que desse a ideia geral do livro. Mas vou ler essa do Juremir. valeu.

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  2. Não conheço a obra-livresca do Chico,que pena!

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