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segunda-feira, 25 de maio de 2015

"Aconteceu Naquela Noite", de Frank Capra (1943)



Não sou um apreciador de um único gênero de filmes, assim como não existe gênero que eu diga "esse tipo de filme eu não vejo", mas confesso que comédias românticas não me atraem muito, mas quando esta é incrivelmente bem escrita, com uma construção de personagens impecável, quando o filme continua sendo (para muitos) o melhor filme do seu gênero, aí é outra coisa.
Ellie Andrews (Claudette Colbert) é uma jovem que foge de casa para  se casar, pois seu pai Alexander Andrews (Walter Connolly), não aceita seu casamento, ambos são de uma família muito famosa e rica. Durante sua fuga Ellie conhece Peter Warne (Clark Gable) um charmoso jornalista que acabara de ser demitido e que resolve ajudar a moça, em troca da permissão dela para que ele publique sua história de amor. Com o passar da viagem os dois vão se aproximando cada vez mais, até acabarem se apaixonando.
Amor e ódio à primeira vista
A sustentação do filme e feita em cima desses dois personagens, que logo que se conhecem, é praticamente um "ódio a primeira vista". É uma típica "screwball comedy" , traduzindo livremente "comédia maluca", personagens que não se entendem, falam ao mesmo tempo, brigam o tempo todo, a muitos gritos, uma loucura que faz sucesso até hoje, com um pouco de “road movie”, pois os dois personagens estão em  uma viagem de ônibus.
Clarck Gable, com seu charmoso bigode fino é Peter, um repórter que em sua primeira cena, aparece visivelmente bêbado ligando para seu chefe pedindo demissão, para impressionar um grupo de colegas de bar, que ficam maravilhados com a coragem do homem, e saem gritando, chamando-o de "king" (que era o apelido real de Gable ), mal sabiam os rapazes que Peter já tinha sido demitido, e estava apenas fazendo 'teatro', uma  ótima apresentação de personagem. Peter era um típico “homem machão”, um estereótipo que fazia muito sucesso na época, com pintadas cômicas, uma fabulosa união de charme, masculinidade e bom humor, que só poderiam ser interpretados por Gable, que consegue fazer magicamente esta união. Peter pode parecer rude em alguns momentos, mas sempre demonstra preocupação com Ellie, ao mesmo tempo que grita e xinga ela, em outros momentos sai à noite para procurar comida, quando os dois  perdem o ônibus e ficam e perdidos. Claudette Colbert também brilha no papel de Ellie, que no começo do filme é uma menina mimada, que se diz apaixonada e quer casar, quando na verdade está fazendo isso apenas para contrariar seu pai, e não escuta conselhos de outras pessoas. Por mais que, devido a época, o filme não possa levantar uma bandeira forte do feminismo, ele ao menos nos mostra uma personagem feminina forte, que tenta se virar do seu jeito, tentando ser independente.
Obrigado, Claudette Colbert por nos mostrar
como se pede uma carona de verdade.
Ambos os personagens evoluem com o andar do filme, Peter acaba desistindo de publicar sua história e resolve se declarar, nos mostra sua verdadeira personalidade, como homem íntegro, em nenhum momento para nós espetadores fica em dúvida sua honestidade, embora suas atitudes nem sempre sejam as mais corretas, Ellie finalmente para de se comportar de maneira imatura e resolve escutar os conselhos do seu pai.
Toda essa jornada, de maturidade do casal, acontece graças a união de um ótimo roteiro de Robert Riskin ('O Galante Mr. Deeds' de 1936, 'Do Mundo Nada Se Leva se de 1939') com atuações memoráveis, de dois astros do cinema, Claudette Colbert  e Clark Gable, em atuações magníficas que se tornaram icônicas. Muitos dos personagens que temos nos filmes deste gênero hoje em dia, se baseiam nesses dois. Se eles não criaram esse estilo de atuação, eles popularizaram e definiram o gênero, com uma química fantástica entre os dois.
Pode não parecer, mas este casal está em sintonia.
Frank Capra fez um clássico, seu filme virou referência com cenas que duvido que você nunca tenha visto, mas que surgiram aqui, como à donzela que pede carona mostrando as pernas, a noiva fugindo desesperada do seu casamento, cenas que viriam a ser homenageadas diversas vezes em outros filmes.
Assim que possível pare, e assista ao filme, você vai gostar tenho certeza. É leve, delicado, e tecnicamente muito bom, não tem erros, não à toa faturou no seu ano, o Oscar de Melhor filme, roteiro, diretor, ator e atriz, todos os principais prêmios da Academia.
Assim como outras comedias de Frank Capra, esta surgiu no período de depressão americana, e servia para o publico dar boas risadas, ter uma boa diversão e se desligar do mundo, mas mesmo com o passar dos anos o filme ainda se sustenta.  Claro ele datado pelas roupas, pelo ar inocente, mas isso é muito bom. Tire um momento da sua vida, convide aquela pessoa especial (não tem ninguém especial, não tem problema), assista o filme e embargue nesta longa viagem de ônibus, e aproveite a bela vista, Claudette e Gable  serão ótimos companheiros de viagem e Capra e um motorista, com uma direção suave, com leves toques de gênio no volante.
BOA VIAGEM!!!


Um comentário:

  1. Capra é um dos maiores mestres do cinema. Um craque em fotografia e montagem. Esse é talvez o seu melhor, junto com o Do Mundo nada se Leva. Tem o A Mulher faz o Homem, que é outro lindo também, mas esse é um filme que não se data. Parabéns Vagner pelo teu entendimento e percepção da obra.

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