A genial artista chilena, agora devidamente homenageada. |
Leio uma notícia da abertura do Museu Violeta Parra e minha memória remonta a outubro de 2006. Depois de dormir uma noite em um hostel
isolado em Uspallata (onde filmaram "Sete anos no Tibet" – tem até um
barzinho lá cheio de fotos do Brad Pitt), no meio da Cordilheira dos Andes,
tomei um ônibus rumo a Santiago. A viagem foi linda e tranquila, especialmente
por conta da paisagem e das incríveis 49 curvas em ‘U’ que formam os chamados "caracoles chilenos". O longo
percurso, ainda que feito dentro de um ônibus desses de linha urbana, foi bem
menos desafiador do que os 800 km que eu havia feito dentro de um Scania 111,
ano 1979, que me levara de Uruguaiana até Córdoba. Naquele mochilão, eu já
tinha conseguido umas coisas bem legais, como: 1) passar um dia na Fundación Atahualpa Yupanqui, em Cerro Colorado; 2) conhecer, tomar mate e prosear com o simpático "Koya" Chavero, filho de Don Ata (que, inclusive, me deu
uma carona de volta a Córdoba); e 3) ter passado uma noite em um ginásio lotado
para ver a "Peña de los Carabajal", cheio de gente dançando zamba e chacarera.
Uma das principais obras da artista,
exposta no Museu do Louvre. |
Bueno, voltando a Santiago. A primeira coisa que fiz na
cidade foi ir à rua Carmen, número 340. Era lá que funcionava (olha a minha
cabeça), NOS ANOS 60, a Peña de los Parra, tocada por Violeta Parra e pelos filhos, Angel e Isabel. Victor Jara vivia lá, também. Era uma vida de música,
folclore, bebidas e empanadas. Cheguei lá e dei de cara com uma casa normal
onde não tinha mais nada senão... uma casa normal. Na minha cabeça, lá deveria
funcionar uma fundação, um museu ou algo do gênero. Mas não.
Peguei um ônibus e me mandei para a calle Brasil (isso mesmo), onde ficava a Fundación Victor Jara.
Essa, sim, existia. E não só existia como tive a sorte de encontrar por lá sua
viúva, a bailarina inglesa Joan Jara, autora de "Uma canção
inacabada", livro fundamental sobre a vida e a obra desse gênio chileno
assassinado dias após o golpe de Pinochet, em 1973. Agora, nove anos depois, a
amiga Míriam Miràh (uma das pedras fundamentais do Tarancón, grupo que nos anos
70 difundiu o folclore e a música de protesto latino-americana pelo Brasil) me
alerta sobre a inauguração, finalmente, de um museu que vai abrigar a obra
tátil de Violeta, como tapeçarias, bordados e pinturas. Quanta história
envolvida. E que bom motivo para volver
a Santiago.
por Ricardo Lacerda
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