Chamara um Uber fazia mais de 5 minutos e ficou naquela dúvida se cancelava ou não a corrida. "Se eu não cancelar, o cara vai dizer que passou pelo endereço e não me achou e aí eu é que vou ter que pagar. Desgraçado! Boca aberta! Eu aqui parada todo esse tempo e o cara consegue não me ver. Se fosse uma menininha gostosa garanto que chegava antes do tempo e ainda estendia tapete vermelho pra embarcar. Com mulher gorda a história é outra. Ah, não vou conhecer! Dizem que motorista de Uber é mais educado que taxista, mas não é bem assim, não! Homem é tudo igual! Garanto que era aquele ali carro preto que acabou de passar. Eu já vi ele passando por aqui faz uns 5 minutos. Ou seria aquele ali?... Humm, mais um. E outro...Tudo igual esses carros de hoje!".
Enquanto maldizia o transporte privado da cidade, ela já deixava passar mais minutos sem, contudo, fazer o cancelamento e chamar outro. No visor do celular, aparecia o avatar de um carro visivelmente perdido andando em movimentos circulares na quadra em que ela se localizava. Aquele ciclo sem destino foi se fechando numa circunferência cada vez menor até que, rápido como o redemoinho, tal um videogame sinistro, fez desaparecer a imagem daquele carrinho. Junto, apagaram-se todas as informações: do motorista, do modelo, da placa. Sumiu do sistema e mesmo o Uber nunca mais o achou o tal de Renato Queiroz, do Audi A3 2015. Quanto menos ela, que, indignada, nem foi pra casa nem chamou outra condução. Ficou ali, sentada no meio-fio com a roupa da festa que saíra aquela noite esperando que as coisas se resolvessem sozinha para ela ao menos uma vez na vida.
Daniel Rodrigues
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