Júnior tomou coragem: percebendo os pais atentos à tevê, cujo som provindo da sala chegava a murmúrios a seu quarto mas suficiente para saber que suplantaria qualquer ruído que tanto ele quanto o monstro fizessem, descobriu-se e foi pé por pé em direção ao armário. Descalço mesmo, somente o pijama a cobri-lo naquela fria noite de inverno. De frente para a porta entreaberta, enfiou temeroso os dedos pela fresta escura. Seu coração quase saía pela boca quando seus cinco dedos se encontraram com os três da afetuosa mão do monstro, o qual, sem precisar trocar-lhe palavras, o convidou a entrar.
Naquela semana inteira não pode sair para brincar com os amigos. Os pais, brabos, perguntavam retoricamente: “Onde já se viu passar a noite dormindo sentado e sem coberta dentro do armário!?”. Claro que não foram além da indignação e da reprimenda típica da limitação humana. A Júnior, sim, aquilo fez muito sentido. Tanto que ele, no seu íntimo, nunca mais fora o mesmo após aquela noite, mesmo hoje, tantas décadas depois.
Daniel Rodrigues
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