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sábado, 3 de outubro de 2020

"Destacamento Blood", de Spike Lee (2020)




Ótimo e necessário, principalmente para o atual momento do mundo. Essas são as principais qualidades que posso apontar dessa obra espetacular, mais um excelente filme de Spike Lee.

"Destacamento Blood", a história de quatro veteranos da Guerra do Vietnã: Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Eddie (Norm Lewis) e Melvin (Isiah Whitlock, Jr.) que, acompanhados do filho de Paul (Jonathan Majors), retornam ao Vietnã em busca dos restos mortais do líder de seu esquadrão (Chadwick Boseman).

Embora magnifico, o filme de Lee não é perfeito. Seu segundo ato é bem arrastado, apresentando alguns dos personagens, se aprofundando no interior dos mesmos, e também na relação de amizade do grupo “Blood”, o que acontece também no primeiro e terceiro ato, mas de maneira dinâmica. A repetição de atritos do grupo acaba tornando o longa ele um pouco arrastado em sua metade e um tanto meio repetitivo. Um ponto interessante, que vi algumas pessoas reclamando, é que o longa era “muito político”. Bom, meu filho, ou você não conhece Spike Lee ou você está olhando filmes de guerra da maneira errada! Para não dizer que todos filmes de guerra são políticos, vou dizer que 99,9% deles são, até mesmo “O Rambo”, OK? Entendo que por carregar essa carga política e de crítica social, quem for assistir deve estar por dentro, minimamente, de como se dá a luta por igualdade racial nos EUA e sua política, caso contrário, o longa não vai dialogar com você.

Aproveitando que estamos aqui falando sobre esse tema, e nesse ponto, na questão da crítica à política e às questões sociais é que o filme ganha muita força e mostra sua verdadeira face, se posicionando pela luta das vidas pretas. Superando até mesmo as camadas de filme de guerra, de ser uma homenagem a grandes clássicos do cinema que falam sobre o tema, como "Apocalypse Now" (o longa tem uma cena belíssima referente a este filme) e também aqueles mais violentos de guerra como o já mencionado “Rambo”, pois quando “Destacamento Blood” vai para violência, é tão violento e impactante quanto os dessa característica; superando ate mesmo sua estética diferenciada, com mudanças de enquadramento, do estilo de fotografia, mudança de tela que mudando de 4:3, de 16:9 o widescreen, tudo servindo a favor da narrativa, tudo isso, mesmo incrvelmente genial, é superado pela forte crítica que o filme aborda. 

Delroy Lindo, que presença!


Voltanda à camada do filme que fala de questões sócias, é lindo ver como ele apresenta as lutas dos movimentos negros e como elas se apresentam representadas em suas diversas formas de em cada personagem. Temos desde o mais revoltado, que sempre quer partir para o ataque; passando pelo sensato que tenta dialogar com todos para chegar em um acordo; ao mais jovem, que usa a educação como arma. O longa é sobre luta de pretos americanos, que estão sempre em luta, mas não é somente sobre essa luta. Como dito no filme “Quem vai para guerra, nunca volta dela”, e assim como soldados no Vietnã, estamos sempre em guerra, estamos lutando uma guerra cuja escolha de lutar não foi nossa mas que agora tornou-se o único meio de conseguirmos algo. Para conseguirmos, simplesmente um mínimo de respeito terá que ser através da luta e, não importa como fazer mas faz-se urgentemente necessário lutar. Como todos os membros do grupo dos “Bloods”, que mesmo com suas diferenças, conflitos, no final tem os mesmos objetivos, os movimentos negros também, tem vozes, discursos diferentes, mas no final todos marcham na mesma direção.

R.I.P. Chedwick Boseman, foi cedo demais.

No final das contas, esse longa é um grito por justiça, atenção, respeito, igualdade e é um grito com força e raiva. Tem um pouco de Malcolm X, Martin Luther King Jr., Muhammad Ali, George FloydSpike Lee e Chadwick Boseman, cujo personagem já tinha uma áura, um brilho, uma espiritualidade, uma presença de divindade, e que seu triste falecimento precoce só vai aumentar cada vez que você ver o filme outras vezes. Tem um meus candidatos ao Oscar de ator coadjuvante, Delroy Lindo, que além de uma atuação fortíssima e instensa, tem um monólogo maravilhoso, de arrepiar.

Como critica funciona, como obra cinematográfica funciona, como grito para luta e motivação, então... BORA LUTAR!!!

Black lives matter!


por Vagner Rodrigues

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