Assisti de casa a cerimônia de premiação do 52º Festival deCinema de Gramado, o qual pude, ao menos por alguns dias, participar presencialmente de novo ao lado de Leocádia, assim como havíamos feito pela primeira vez em 2022. E desta, além do prazer de estar no maior e mais longevo festival de cinema do Brasil e de encontrar amigos e colegas, teve um sabor especial: foi o meu primeiro à frente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs), entidade a qual assumi a presidência há cerca de 2 meses. Isso fez com que, presentemente, pudesse integrar, também ineditamente, o júri do Prêmio Accirs aos curtas-metragens gaúchos, o chamado “Gauchão”, na Mostra Assembleia Legislativa ocorrida no primeiro final de semana do evento.
Juntamente com meus colegas de associação, Adriana Androvandi, André Bozzetti, Carol Zatt, Cristiano Aquino, Mônica Kanitz e Paulo Casa Nova, deliberamos este prêmio da crítica ao agora, uma semana depois, multipremiado “Pastrana”, de Melissa Brogni e Gabriel Motta, tendo em vista que o filme levou também Kikitos na Mostra de Curtas-Metragens Nacionais, incluindo o principal, o de Melhor Filme. O quase solitário destaque que demos a “Pastrana” na mostra gaúcha (recebeu apenas mais o singelo troféu de Melhor Produção Executiva), quando subi ao palco para entregar-lhes o certificado e nosso livro, foi, de certa forma, chancelado na mostra nacional, que, além do grande prêmio, conferiu ainda o reconhecimento por Fotografia e Montagem a esta homenagem para Allysson Pastrana, skatista de downhill, que faleceu em 2018 durante uma competição.
vídeo da cerimônia de entrega da Mostra de Curtas Gaúchos - Prêmio Accirs
Mas existe ainda mais um fator de especialidade a esta nova participação minha em Gramado. Havia composto o júri da crítica na 49º edição, em 2021, alto da pandemia da Covid-19, o que obrigou a que todo o festival fosse virtual, inclusive a contribuição do grupo do qual estive. Desta feita, no entanto, outra felicidade me aproximou diretamente dos filmes, que foi integrar a comissão de seleção dos curtas-metragens nacionais, empreitada que encarei entre junho e julho ao lado de três competentes mulheres: a atriz e diretora Fernanda Rocha, do Rio de Janeiro; a professora da UFMS Daniele Siqueira, do Mato Grosso, e a cineasta, professora e minha colega de Accirs Daniela Strack.
Cartaz do excelente "Pastrana", conquistas nas mostras gaúcha e nacional |
Ainda sobre os pagos daqui, do Prêmio Sedac/Iecine de Longas-Metragens
Gaúchos – que celebrou a produção indígena “A Transformação de Canuto”, de
Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, com o prêmio de Melhor Filme –, não
assisti a nenhum deles por não estar mais em Gramado quando de suas exibições,
o que desejo fazer em breve assim que estes começarem a rodar nas salas de
Porto Alegre. Já em relação aos documentários, que foram exibidos apenas no
Canal Brasil e não no Palácio dos Festivais, dois deles perdi, mas vi o
vencedor, “Clarice Niskier: Teatro dos pés à Cabeça”, de Renata Paschoal, embora
um doc de estrutura convencional, pareceu-me merecedor num primeiro momento.
Por fim, os longas brasileiros. Foi-me possível conferir
apenas dois concorrentes quando em Gramado: “O Clube das Mulheres de Negócios”,
de Ana Muylaert, que levou somente Prêmio Especial do Júri pelo conjunto do
elenco, mas que, a meu ver, se credenciava a, quem sabe, Trilha Sonora ou Atriz
(Cristina Pereira); e “Estômago 2: O Poderoso Chef”, de Marcos Jorge, uma
coprodução Brasil-Itália totalmente equivocada capaz de deturpar e diminuir o
excelente filme original, de 2007, um cult do cinema nacional. Roteiro confuso,
inconsistente e banal, que compromete todo o filme, desde seu ritmo narrativo
até as atuações, a ponto de apagar aquele que deveria ser o personagem
principal, o chef de cozinha agora presidiário Raimundo Nonato, vivido pelo
ator João Miguel.
Cena de "Oeste Outra Vez", grande vencedor do ano |
Os outros longas não tive, assim como os gaúchos dessa
metragem, a oportunidade de assistir, mas ao que parece, pela reação geral, a
redenção dos erros de avaliação foram os prêmios da crítica, para “Cidade;
Campo”, de Juliana Rojas, e a escolha do grande filme do ano de Gramado: o goiano "Oeste
Outra Vez", de Erico Rassi, que realmente se destaca diante dos outros nas
poucas cenas que vi. O faroeste à brasileira, que traz uma narrativa centrada
em um universo masculino rural, conquistou também os prêmios para Melhor
Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante, para Rodger Rogério.
Enfim, uma premiação com altos e baixos (como são na
maioria), mas que, independentemente disso, não tira de mim a alegria de ter
participado de forma tão mais consistente do Festival de Gramado.
A clássica foto final com os premiados |
Confira, então, os premiados da edição de 2024:
LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor filme: ‘Oeste Outra Vez”, de Erico Rassi
Melhor direção: Eliane Caffé, por “Filhos do Mangue”
Melhor ator: João Miguel e Nicola Siri, por “Estômago 2: O Poderoso Chef”
Melhor atriz: Fernanda Vianna, por “Cidade; Campo”
Melhor roteiro: Bernardo Rennó, Lusa Silvestre e Marcos Jorge, por “Estômago 2: O Poderoso Chef”
Melhor fotografia: André Carvalheira, por “Oeste Outra Vez”
Melhor montagem: Karen Akerman, por “Barba Ensopada de Sangue”
Melhor ator coadjuvante: Rodger Rogério, por “Oeste Outra Vez”
Melhor atriz coadjuvante: Genilda Maria, por “Filhos do Mangue”
Melhor direção de arte: Fabíola Bonofiglio e Massimo Santomarco, por “Estômago 2: O Poderoso Chef”
Melhor trilha musical: Giovanni Venosta, por “Estômago 2: O Poderoso Chef”
Melhor desenho de som: Beto Ferraz, por “Pasárgada”
Prêmio especial do júri: “O Clube das Mulheres de Negócios”, de Anna Muylaert
Júri popular: “Estômago 2: O Poderoso Chef”, de Marcos Jorge
Júri da Crítica: “Cidade; Campo”, de Juliana Rojas
CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor filme: “Pastrana”, de Melissa Brogni e Gabriel Motta
Melhor direção: Lucas Abrahão, por “Maputo”
Melhor roteiro: Adriel Nizer, por “A Casa Amarela”
Melhor ator: Wilson Rabelo, por “Ponto e Vírgula”
Melhor atriz: Edvana Carvalho, por “Fenda”
Melhor trilha musical: Liniker, por “Ponto e Vírgula”
Melhor fotografia: Livia Pasqual, por “Pastrana”
Melhor montagem: Bruno Carboni, por “Pastrana”
Melhor direção de arte: Coh Amaral , por “Maputo”
Melhor desenho de som: Felippe Mussel, por “A Menina e o Pote”
Prêmio especial do júri: “Ponto e Vírgula”, de Thiago Kistenmacher
Júri popular: “Ana Cecília”, de Julia Regis
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Maputo”, de Lucas Abrahão
Menção honrosa
“Ressaca”, de Pedro Estrada
“Via Sacra”, de João Campos
“Navio”, de Alice Carvalho, Larinha R. Dantas e Vitória Real
LONGAS-METRAGENS DOCUMENTAIS
"Clarice Niskier: Teatro dos pés à Cabeça”, de Renata Paschoal
LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
Melhor filme: "A Transformação de Canuto", de Ariel Kuaray Ortega e Ernseto de Carvalho
Melhor Direção: Ariel Kuaray Ortega e Ernseto de Carvalho, por "A Transformação de Canuto"
Melhor Ator: Fabrício Benitez, por "A Transformação de Canuto"
Melhor Atriz: Cibele Tedesco, por "Até que a Música Pare"
Melhor Roteiro: Thais Fernandes, Rafael Corrêa e Ma Villa Real, por "Memórias de um Esclerosado"
Melhor Fotografia: Camila Freitas, por "A Transformação de Canuto"
Melhor Direção de Arte: Adriana do Nascimento Borba, por "Até que a Música Pare"
Melhor Montagem: Jonatas Rubert e Thais Fernandes, por "Memórias de um Esclerosado"
Melhor Desenho de Som: Kiko Ferraz, por "Memórias de um Esclerosado"
Melhor Trilha Musical: André Paz, por "Memórias de um Esclerosado"
Júri Popular: "Infinimundo", de Bruno Martins e Diego Müller
CURTAS-METRAGENS GAÚCHOS - PRÊMIO ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE CINEMA
Melhor filme; "Chibo", de Gabriela Poester e Henrique Lahude
Melhor direção: Rodrigo Herzog, por "Está Tudo Bem"
Melhor atriz: Jéssica Teixeira, por "Noz Pecã"
Melhor ator: Victor Di Marco, por "Zagêro"
Melhor roteiro: Victória Kaminski e Rubens Fabrício Anzolin, por "Posso Contar nos Dedos"
Melhor fotografia: Eloísa Soares, por "Cassino"
Melhor direção de arte: Denis Souza, Victoria Kaminski e Nadine Lannes Maciel, por "Posso Contar nos Dedos"
Melhor trilha sonora: Edneia Brasão e Pedro Erler, por "Não Tem Mar Nessa Cidade"
Melhor montagem: Marcio Picoli e Victor Di Marco, por "Zagêro"
Melhor desenho de som: Fábio Baltar, por "Flor"
Melhor produção executiva: Graziella Ferst e Marlise Aúde, por "Pastrana"
FILMES UNIVERSITÁRIOS - PRÊMIO EDINA FUJII – CIA RIO
“A Falta que Me Traz”, de Laura Zimmer Helfer e Luís Alexandre, da
Universidade de Santa Cruz do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário