Dois bons times! Jogo muito equilibrado. Se de um lado temos a ousadia e o pioneirismo dos franceses em bancarem, ainda nos anos 70, um filme sobre um casal de homossexuais que vivem juntos com naturalidade, do outro temos a qualidade da produção norte-americana, com o acréscimo de um elenco de primeira.
Os esquemas de jogo são praticamente idênticos: o dono de uma boate drag é surpreendido pelo filho, que tivera num passado remoto, com a notícia de que este pretende casar. Além do desgosto do matrimônio ser com uma mulher, a futura esposa é ainda, filha de um influente político. Só que para causar boa impressão ao futuro sogro conservador e de modo que a união seja permitida, o pai do futuro noivo, que é casado com outro homem, deverá fingir ser hétero e encenar uma vida "normal", "respeitável" e "tradicional" em um jantar de apresentação das famílias. A única diferença nisso tudo é que um se passa em Saint-Tropez e o outro em Miami.
Embora o time francês tenha uma ótima atuação, a equipe norte-americana ganha nos detalhes: tem uma fotografia mais impressionante, a cargo do oscarizado Emmanuel Lubezki, uma direção de arte que foi indicada ao Oscar, uma trilha mais empolgante repleta de clássicos da disco-music, e as "americanices", que normalmente incomodam e desvalorizam as refilmagens, aqui funcionam super bem com clichês, exageros e palhaçadas que dão um tom mais leve e gostoso à adaptação. Isso sem falar nas atuações individuais! Por mais que Hugo Tonazzi esteja muito bem no papel de Renato, o dono da boate, Robin Williams, Armand, no remake, está espetacular. Gene Hackman, como o senador conservador também é show, Diante Wiest como sua esposa, suaviza graciosamente as situações embaraçosas, Calista Flockhart, que viria a ser Ally McBeal, na famosa série de TV, faz uma filha muito mais interessante que a italiana Luisa Maneri, e o empregado Agador "Spartacus" é mais cômico que seu igual francês, Jacob. Mas quem rouba cena mesmo é Nathan Lane como Albert, o parceiro de Armand. Com uma atuação inspirada, o ator nos arranca as melhores risadas com seu jeito excessivamente afetado. A cena do jantar, então, quando finge ser uma mulher mesmo, a mãe do garoto, é absolutamente hilária! A encenação de casal hétero, as gafes da "esposa", as trapalhadas do mordomo, os contratempos..., tudo é de não parar de rir e não tirar os olhos da tela até o desfecho da situação, por sinal, não menos engraçado, no qual o pai da noiva tem que driblar a imprensa para não ser visto em um ambiente que acabaria com sua carreira política.
"A Gaiola das Loucas" (1978) - trailer
"A Gaiola das Loucas" (1996) - trailer
Colocando assim, parece que o original tem muito poucas virtudes, o que não é verdade. Além de ser muito bom filme, muito bem feito e contar com boas atuações, "A Gaiola das Loucas", de 1978, tem o grande mérito do rompimento, de tratar do assunto do homossexualismo, de casais do mesmo sexo vivendo juntos, de maneira tão natural e direta, numa época em que, por mais que a cultura disco estivesse bombando pelo mundo, o tema ainda representava uma barreira e um sério tabu.
Mas, por incrível que pareça, 18 anos depois, o discurso não perdia o valor e em 1996, na refilmagem, ainda era (e ainda é) relevante, reafirmar que o indivíduo tem o direito de amar quem quiser e viver com quem bem entende. Ambos os filmes podem parecer meio caricatos, estereotipados mas na verdade, o exagero dos personagens, dos figurinos, dos trejeitos, mais do que qualquer coisa, pretendem salientar que cada um tem o direito de viver sua vida do jeito que achar melhor, seja no jeito de vestir, de andar, onde e com quem morar, e de ser quem é sem ter que disfarçar ou fingir para agradar alguém ou atender convenções sociais.
Mas, por incrível que pareça, 18 anos depois, o discurso não perdia o valor e em 1996, na refilmagem, ainda era (e ainda é) relevante, reafirmar que o indivíduo tem o direito de amar quem quiser e viver com quem bem entende. Ambos os filmes podem parecer meio caricatos, estereotipados mas na verdade, o exagero dos personagens, dos figurinos, dos trejeitos, mais do que qualquer coisa, pretendem salientar que cada um tem o direito de viver sua vida do jeito que achar melhor, seja no jeito de vestir, de andar, onde e com quem morar, e de ser quem é sem ter que disfarçar ou fingir para agradar alguém ou atender convenções sociais.
Ambos os times saem vitoriosos na luta contra o preconceito, homofobia, desigualdade, intolerância e conservadorismo, mas no confronto direto entre eles, "A Gaiola das Loucas" de 1996 leva pequena vantagem. 3x2, no placar final.
Os dois casais: Albin e Renato, à esquerda; e Albert e Armand, à direita. Nathan Lane desequilibra a favor do filme mais recente e praticamente decide o jogo. |
O original tem o mérito da coragem, do rompimento, da originalidade,
mas o remake ganha na produção, na escalação e
nos desempenhos individuais
e ainda mantém a relevância, muitos anos depois.
por Cly Reis