Que coisa genial! Filme com tantos símbolos, significados, e tudo colocado de uma maneira tão cinematográfica, que você se joga dentro dele como se tivesse saltado de uma montanha.
Em "Decisão de partir", longa do sul-coreano Park Chan-wook, diretor do clássico "Oldboy", um detetive (Park Hye-il) se apaixona por uma misteriosa viúva (Tang Wei) após ela se tornar a suspeita número um em seu último caso de assassinato.
Já vou logo avisando: de alguma forma você pode terminar o filme frustrado por não entregar o final que você quer (eu, por exemplo, achava que ia ser outra coisa o final), mas de maneira alguma isso diminui a obra. O longa, por mais que tenha uma premissa bem simples, é repleto de detalhes e alguns são bem explícitos, como o lance do olhar do casal e a obsessão do diretor em mostrar closes nos olhos. O fato de haver muitos momentos assim pode não agradar a muitos, ainda que seja possivelmente, o grande charme do filme.
As cenas de interação do casal são o ponto alto filme. Não há um momento dos dois em telas que você não fique preso nos diálogos, olhares, gestos. Conforme o crime vai se solucionando, maior fica a tensão sexual do casal e, por alguns momentos você até deixa de querer saber a solução do crime, mas sim, se algo vai acontecer entre os dois.
Park Hae-il( HaeJoon) e Wei Tang (SeoRae)... Não tenho palavras para falar sobre as atuações, o que acontece quando os dois estão em cenas juntos! É algo forte que prende o espectador desde a primeira cena quando estão juntos no interrogatório. (Meu casal... não pera, não quero, ou quero), a forma como um olha para outro, simplesmente é algo!
Cada fala, cada cena, tudo é muito bem pensado, escrito e filmado. Um longa que não entendo como não ganhou uma atenção maior. Às vezes a gente é pego de surpresa ao assistir um filme, o que não foi o caso aqui, pois já entrei com uma baita expectativa e, no entanto, todas foram atingidas.
Prepare-se para mergulhar em olhares que dizem muita coisas, solidão, amor, tristeza, às vezes alegria... Quando você faz esse mergulho, acaba percebendo que o que a investigação, o que longa propõe, vai além dos crimes, mas sim, pretende chegar até onde vão as relações pessoais criadas, a interpretação de símbolos.
Acredito que uma das mensagens que o filme pode passar, na minha humilde opinião, é de olhar mais para a vida como um todo, olhar bem tudo que temos ao nosso redor, não focar unicamente em uma coisa, por que se não conseguimos conquistar o que queremos, uma enorme frustração pode ser gerada, e não é fácil lidar com frustrações ou coisas inacabadas.
O casal de protagonistas tem grande atuação e é simplesmente mágico, juntos, na tela.
Foram anunciados, ontem, os premiados na 75º edição do Festival de Cinema de Cannes e o vencedor da cobiçada Palma de Ouro foi o filme "Triangle of Sadness", do diretor sueco Ruben Östlund. O diretor já havia sido premiado no festival, em 2017, por 'The Square: A Arte da Discórdia" e dessa vez apresenta uma espécie de comédia bizarra que se passa em um cruzeiro de magnatas, no qual os acontecimentos vão tomando rumos inusitados.
Destaque também para o prêmio de melhor direção, dado a Park Chan-wook, do lendário "Oldboy" e para o fato de, no ano seguinte à Palma de Ouro ter sido entregue a uma mulher, Julia Ducournau, o Grand Prix, outro dos principais prêmios do festival, ter ido para as mãos de outra, Claire Denis, por "Stars at Neon", mesmo dividindo a honra com Lukas Dhont, do filme "Close".
Confira abaixo, todos os vencedores nas demais categorias:
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Palma de Ouro: 'Triangle of Sadness', de Ruben Ostlund
Grand Prix: 'Stars at Noon', de Claire Denis e 'Close', de Lukas Dhont
A tripulação, com seus percalços,
no filme vencedor do prêmio principal.
Prêmio do júri: 'The Eight Mountains', dirigido por Felix van Groeningen, Charlotte Vandermeersch e EO, de Jerzy Skolimowski
Melhor atriz: Zar Amir Ebrahimi, Holy Spider
Melhor ator: Song Kang-ho, por 'Broker'
Melhor diretor: Park Chan-wook, por 'Decision to Leave'
Melhor roteiro: 'Boy From Heaven', de Tarik Saleh.
Melhor Curta-metragem: 'The Water Murmurs'
Prêmio especial do 75º ano de festival: 'Tori And Lokita', de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
De repente o cara está, ali, assistindo a um filme, numa boa, e percebe que uma cena não foi interrompida desde que começou. E ela vai, muda direção, volta no mesmo ponto, entram outros personagens, e se alonga e se alonga e o cara que está ali vendo aquilo vai ficando cada vez mais sem fôlego com aquilo que vê. Assim são os planos-sequência, cenas mágicas, um balé cimatográfico minuciosamente coreografado em que diretores usam de todo seu recurso técnico para imitar a realidade de uma maneira ainda mais fiel do que o fazem usualmente, praticamente nos levando para dentro do filme. Selecionamos aqui, sem ordem de preferência, alguns planos-sequência que, seja por sua técnica, duração, dinâmica, significado, são marcantes e tem lugar de destaque na história da sétima arte:
1. "O Jogador", de Robert Altman (1991) - Este é um dos planos-sequência de que mais gosto. A entrada e o passeio pelo pátio dos estúdios de uma produtora de cinema, passando por diversas situações curtas envolvendo atores, produtores, entregadores, roteiristas, culminando na chegada à sala onde o produtor, Tim Robbins, que, na trama principal, virá a ser ameaçado por um roteirista rejeitado, conversa com Brian de Palma (interpretando ele mesmo) sobre mais um roteiro esdrúxulo de Hollywood. Cena absolutamente fantástica que deixa o espectador nada menos que fascinado. A mim, pelo menos, sempre deixa.
2. "O Segredo de Seus Olhos", de Juan José Campanella (2009) - Este é um caso interessante pois fui assistir ao filme por causa do plano-sequência. É verdade que ele já vinha sendo bastante elogiado, era cogitado para disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro (o que não só acabou se confirmando, como venceu o prêmio) mas a informação de que o filme tinha uma cena sem cortes de mais de sete minutos num estádio de futebol foi decisiva para que eu fosse ao cinema. O plano, que tem alguma trucagem, é verdade, começa no alto, no céu, descendo direto para dentro do campo no estádio do Huracán, deslocando-se para as arquibancadas e à descoberta, em meio à multidão de torcedores, do homem procurado pelo protagonista, Benjamin Espósito (Ricardo Darín), passa a uma frenética perseguição com direito a gol, correria pelos corredores do estádio, pulo de um muro alto e até invasão de campo . Ótimo filme que mistura policial, romance e drama histórico da ditadura argentina.
3. "Nostalgia", de Andrei Tarkovski (1984) - Eis aqui um plano-sequência bem pouco convencional, sem maiores complexidades, aparentemente muito simples mas que é muito bem executado emocionalmente, como aliás é característico de Andrei Tarkovski. O poeta exilado Andrei Gorchakov, sabendo da morte, do autoflagelo em Roma do "louco" Domenico, a quem conhecera na pequena cidadezinha de Bagno Vignoni, antes de deixar o lugarejo, finalmente tendo entendido as atitudes daquele homem mal compreendido por todos e o que queria lhe dizer em suas complexas conversas, resolve cumprir uma tarefa que Domenico deixara inacabada e que percebia agora ser de extrema importância simbólica para não só para o amigo com para ele mesmo também: atravessar terma natural da cidade de um lado a outro com uma vela acesa. A fonte termal está temporariamente vazia, é verdade, o vento apaga a vela, ele volta acende de novo, cobre com a outra mão, cobre com o casaco mas não abandona o intento num ato de fé, respeito, humildade e generosidade. Nove minutos de silêncio com a câmera apenas acompanhando lentamente o protagonista de um lado a outro do tanque com algum mínimo movimento ao fundo dos moradores do lugar alvoroçados por verem o forasteiro repetindo o gesto do maluco da cidade. Poucos diretores fariam de uma cena tão simples algo tão emocionante.
4. "Filhos da Esperança", de Alfonso Cuarón (2006) - Que cena, senhoras e senhores! Praticamente filmada toda dentro de um carro, alternando ora entre o ângulo de visão do assento do carona, ora a dos passageiros do banco traseiro, e entre a visão do motorista, a cena, depois de um pequeno momento inicial de descontração, mantém a tensão o tempo inteiro. É carro incendiado bloqueando a estrada, é coquetel-molotov, é perseguição com o carro andando de ré, é tiro, é batida policial, tudo na maior perfeição técnica numa cena incrível de alto grau de dificuldade para ser realizada, dirigida por Alfonso Cuarón, que é bem chegado num plano-sequência, mas com grandes méritos para Emmanuel Lubezki, o premiadíssimo diretor de fotografia, que sempre propicia essa dinâmica aos diretores com quem trabalha.
5. "Gravidade", de Alfonso Cuarón (2013) - Eu não disse que ele gosta de um plano-sequência? Alfonso Cuarón novamente com a contribuição fundamental da cinematografia de Emmanuel Lubezki, está à frente de mais este grande filme que, por sinal, lhe rendeu o Oscar de direção e nos traz, entre algumas tantas sequências mais curtas, uma incrível cena ininterrupta de quase treze minutos. Tem montagens, trucagens técnicas, é verdade, mas inegavelmente é uma cena contínua de mais de oito minutos na qual, assim como em "Filhos da Esperança", o ângulo de visão se modifica continuamente, passando pelo rosto de um personagem, pelas costas de outro, por baixo da nave, pelo reflexo do capacete, tudo tendo como pano de fundo o planeta Terra sempre mudando para o espectador entre dia e noite, oceano e continente, alvorada e poente, enquanto gira em sua rotação infinita e enquanto a nave orbita em torno dela. Da tranquilidade da visão da Terra observada do espaço, a situação de um grupo de astronautas que faz manutenção externa no telescópio de sua nave se complica quando destroços de um satélite que explodira são lançados em direção a eles em alta velocidade. A cena é impressionante, angustiante, continuamente tensa e realizada com primor por Cuarón. * Como não encontramos a cena toda, do início ao fim, vai ela aqui em dois segmentos, sendo o segundo, mais especificamente, o do momento da colisão. "Gravidade" - 1 "Gravidade" - 2 6. "Os Bons Companheiros", de Martin Scorsese (1990) - Cena emblemática do grande filme de Martin Scorsese. A sequência, apresentada como tal, sem interrupção, serve para nos introduzir ao universo dos mafiosos que protagonizam a ação. Ao partir do exterior de uma casa de espetáculos, circular entre os clientes que esperam na fila para entrar no lugar, adentrar clandestinamente pela cozinha, expôr toda a intimidade venal do protagonista, Ray Liotta, com manobristas, porteiros, seguranças, cozinheiros, garçons, até vê-lo conseguir um lugar com visão privilegiada de frente para o palco, o diretor nos oferece uma certa cumplicidade deixando nos "participar" daquele ambiente contaminado por trocas, favores, dinheiro e interesses.
7. "Boogie Nights - Prazer Sem Limites", de Paul Thomas Anderson (1998) - Este ótimo filme tem, na verdade, dois belos planos-sequência. Um deles bem parecido com o mencionado acima, de "os Bons Companheiros", de Martin Scorsese, por quem, é inegável que o diretor Paul Thomas Anderson fora bastante influenciado, em especial no filme em questão, uma espécie de "Touro Indomável" pornô. "Boogie Nights" acompanha a trajetória da revelação Dirk Diggler dentro da indústria do cinema pornográfico paralelamente às de outros elementos que fazem parte daquele mundo como diretores, atrizes, empresários, etc. Uma destas pessoas é Little Bill (William H. Macy), um assistente de direção, marido de uma estrela pornô que, constantemente traído por ela (veja a ironia da coisa!), na festa de ano novo, na casa do diretor, depois de se deparar com a esposa mais uma vez na cama com outro e, como de costume, ser humilhado por ela, resolve dar fim a seus dias de corno manso protagonizando o outro grande plano sem cortes do filme ao qual me referi. A cena que inicialmente parece alegre pela comemoração do reveillón, transita pelo cômico ao vermos mais uma vez aquele personagem sonso sendo chifrado, ganha ares de expectativa quando ele sai do quarto onde estava a esposa, de curiosidade quando ele vai até o carro, por um momento parece nos fazer relaxar quando achamos que ele resignado simplesmente vai ligar o carro e ir embora da festa, surpreende-nos quando percebemos que na verdade fora pegar uma arma no porta-luvas, torna-se tensa quando ele retorna ao local da traição, e ganha cores finais de tragédia com o insperado desfecho. Grande cena em que Paul Thomas Anderson dirige magistralmente não somente sua cena e como também as emoções do espectador.
8. "Oldboy", de Park Chan-wook (2003) - Este drama policial de vingança coreano inspirado em um mangá japonês tem um das cenas de luta mais incríveis de todos os tempos no cinema e o que é mais legal é que ela é feita de uma tacada só. Quando o protagonista Dae-su descobre onde fora aprisionado por quinze anos, volta ao lugar para obter pistas de quem fizera aquilo com ele. Embora consiga informações com uma certa "facilidade" (a custo de uma certa persuasão violenta), é lógico que o pessoalzinho de lá não ia facilitar em nada a saída do nosso herói daquele prédio. Aí é que a coisa fica feia! Uma porrada de capangas do dono do lugar armados de tacos de beisebol, paus e barras de ferro se amontoam à frente de Dae-su num estreito corredor para impedir sua passagem. Impedir a não ser que... A não ser que Dae-su enfrente aquele monte de gente. E é o que ele faz. Armado inicialmente apenas com um martelo, nosso herói parte pra porrada e, apesar de solitário com a vantagem dos anos ociosos que teve no cativeiro quando, sem nada melhor para fazer e já planejando uma vingança, tratou de treinar e aprender lutas na TV. Como se fosse num desenho animado, a câmera se coloca paralelamente à luta como se estivesse dentro da parede, acompanhando o ir e vir da horda que ataca covarde e atabalhoadamente aquele único homem. É pancadaria pura!!! Além do fato de não ter interrupções, a cena ganha em realismo pela intensidade, pelo desgaste físico dos lutadores que cansam, descansam, caem, levantam, se ferem, mancam, numa espécie de espontaneidade ensaiada que apesar do exagero, quase convence e arrebata em cheio quem assiste à cena. Um dos melhores filmes de ação dos últimos tempos, admirado por Quentin Tarantino e, não por acaso, vencedor do prêmio do júri em Cannes em 2004 no ano em que este presidiu a mesa do festival.
9. "Breaking News - Uma cidade em alerta", de Johnie To (2004) - E permanecemos no oriente, mais especificamente em Hong Kong com essa preciosidade que é o plano-sequência de abertura do policial "Breaking News" do diretor Johnnie To. Devo admitir que não assisti a este filme, só topei com essa sequência por aí, pela internet e fiquei simplesmente fascinado. Meu Deus, que cena incrível! Cuidada nos mínimos detalhes. Cada posição de câmera, cada deslocamento, cada movimento dos personagens, de figurantes... É um reflexo num espelho, é um rosto num retrovisor, é um jornal caindo num para-brisa, detalhes que fazem do PS de "Breaking News" algo digno de verdadeira admiração.
10. "A Marca da Maldade", de Orson Welles (1958) - Uma das cenas desta técnica mais famosas e emblemáticas do cinema. Cena que é uma verdadeira bomba-relógio. A ação começa com uma bomba sendo acionada e colocada debaixo de um carro que parte e ao qual passamos a acompanhar enquanto ao seu redor desenrolam-se situações corriqueiras como a de um casal conversando, que no caso é o do detetive Vargas (Charlton Heston) e sua esposa (Janeth Leigh), prestes a cruzarem a fronteira do México para os Estados Unidos. Numa coreografia mágica de elementos em cena e um magistral jogo de luz e sombras, embalados pela precisa trilha sonora de Henry Mancini, depois de estabelecida a tensão pela existência de uma bomba e a expectativa pelo momento de sua explosão pelo entra e sai do carro no enquadramento, a cena só é interrompida pela explosão que desencadeia então toda a ação do filme. Obra prima do genial Orson Welles. considerado por muitos um os melhores filmes de todos os tempos e seu plano-sequência, como não poderia deixar de ser, um dos mais lembrados e cultuados entre os cinéfilos.
10+1. "Festim Diabólico", de Alfred Hitchcock (1948) - Se já é bom um plano-sequência de três, de cinco, de dez minutos, o que dizer então de um de uma hora e vinte? Sim, um filme inteiro sem cortar. Poderia mencionar aqui o bom e eletrizante "Victoria", o oscarizado 'Birdman" mas prefiro ficar com o pai de todos quando o assunto é cena contínua. Hoje em dia com os recursos técnicos é "moleza" fazer um PS tão longo, queria ver fazer quando ninguém tinha feito. "Festim Diabólico", de Alfred Hitchcock, praticamente inaugurou a prática, e isso lá em 1948, sem as condições técnicas mais adequadas para o intento uma vez que os rolos de filme da época não permitiam que se rodasse todo o filme de uma vez só. Se, infelizmente, a tecnologia não acompanhava a cabeça de um gênio, o que fazer? Hitchcock, sempre que necessário, aproximava então a câmara de algum fundo escuro, como as costas de algum personagem, é trocava o rolo. "Ah, mas então não é um filme inteiro sem cortes!". Tá bom. Pode não ser, mas então são dez planos sequência orquestrados de maneira não menos brilhante com os atores por vezes servindo de cinegrafistas, com a câmera passando de mão em mão para se reposicionar; com o fundo da cena, na janela, de um fim de tarde para o anoitecer; com as paredes do cenário se movendo sobre rodas para dar espaço para as câmeras retornarem às suas posições, e tudo isso sem falar na capacidade de fazer de um assassinato quase banal, por motivo fútil, algo extremamente instigante e envolvente. Amém, Hitchcock, amém!
O baú, com o cadáver, que serve ao mesmo tempo de mesa para a pequena festa e de caixão.
Ao fundo, no cenário mutável da janela, a tarde vai caindo.
"Festim Diabólico" - filme completo Poderia citar aqui mais um monte de planos-sequência incríveis, cada um admirável por suas próprias razões, seja pela complexidade, pela emotividade, pela duração, pela técnica, pelo ritmo, pela estética, ou qualquer outro motivo, mas acredito que os 11 citados acima além de comporem uma boa síntese do uso desta técnica, contém elementos que, particularmente, me fizeram um apreciador deste recurso no filmes. Em todo caso, aí vão mais alguns que poderiam estar na lista e que merecem menção: a cena que o policial, Sam Rockwell, ganhador do Oscar pelo papel, invade a agência de publicidade no recente "Três anúncios para um crime", de Martin McDonagh; a abertura do fraco "A Fogueira das Vaidades", de Brian de Palma; a sequência "mágica" da morte do personagem de Jack Nicholson na cama do hotel em "O Passageiro - Profissão: Repórter" de Michelangelo Antonioni; a surpreendentemente boa cena de fuga e luta com zumbis no fraco mas eletrizante "Dead Rising: Watchtower", de Zach Lipovski, baseado no game de mesmo nome; a curta mas não menos linda e bem executada cena do incêndio de "O Espelho", de Andrei Tarkovski; a abertura e os créditos do premiado filme brasileiro "Durval Discos", de Ana Muylaert; a cena do carro rodeando Norma Bengel na praia, no clássico nacional "Os Cafajestes", de Ruy Guerra; e a cultuada cena do filme tailandês 'O Protetor", de Prachya Pinkaew, que demorou quatro dias para ser filmada. Tem muito mais, é claro. Se o seu preferido não estiver aqui ou sentir falta de algum outro que mereça ser mencionado, não fique constrangido e indique nos comentários.
Tipo da refilmagem que... pra que? Pra dar características mais ocidentais, pra redimensionar o protagonista, pra fazer muito dinheiro? Pode ser, embora ache que não tenha alcançado sucesso em nenhum dos objetivos. Mas só pode ter sido algo assim, porque se era pra fazer melhorar, fracassaram estrondosamente. 'Oldboy", filme coreano de Park Chan-wok, de 2003, sensação no festival de Cannes do ano seguinte quando venceu o prêmio de Grande Prêmio do Júri, é uma daquelas pequenas novas obras de arte do cinema. Ainda que tenha alguns problemas de amarração, uma certa confusão na primeira parte, o longa não deixa de ser intrigante e sedutor em momento algum. O drama de um homem, Dae-Su, aprisionado misteriosamente por quinze anos tomando conhecimento lá, de dentro de seu cativeiro, que sua esposa fora assassinada e que ele, incrivelmente, é acusado do crime, e que sua filha, que tinha três anos quando fora preso, está viva, aproxima-nos do protagonista e faz com que nos solidarizemos com ele. Mas os mistérios vão se abrindo, se descortinando e começa a vir à tona que Dae-Su teria cometido um ato muito grave. Mas o que teria sido tão sério para tamanha vingança? Não vou revelar porque para quem não assistiu, seria um spoiler imperdoável, mas o fato é que Park Chan-wok nos mantém envolvidos e interessados o tempo inteiro com uma direção ágil, dinâmica, cheia de ousadias, sacadas de edição e uma fotografia notável, muito próxima à linguagem de quadrinhos que, a propósito é a inspiração de "Oldboy", originado de um mangá japonês.
Aí, dez anos depois, aparece uma refilmagem pelas mãos de Spike Lee e a gente pensa que ele vai fazer a coisa certa mas, não, pelo contrário, não só ele não dá nenhuma contribuição, como consegue piorar tudo. Diante de uma obra praticamente irretocável, Lee, possivelmente na intenção de dotar sua versão de alguma originalidade e autoralidade, faz algumas escolhas bem discutíveis. Nada que comprometesse a trama em si, que permanece basicamente a mesma, mas mexe com alguns elementos que, se não eram chave, faziam parte de todo um charme da história original. Novamente sem dar spoiler, mas a forma como seu protagonista, no caso Joe Ducett (Josh Brolin), conhece a garota; o personagem central do motivo de sua punição, a reação de Joe quando descobre a verdade; a mudança do final; todas são, opções de roteiro,e por consequência de direção, no meu ponto de vista, extremamente equivocadas e que só contribuíram para desvalorizar a mal-sucedida tentativa norte-americana de refilmar este novo clássico do cinema.
Cena da luta - Oldboy (2003)
Cena da Luta - Oldboy, Dias de Vingança (2013)
Diretor por diretor, embora não conheça a fundo a obra do coreano, Spike Lee tem uma filmografia mais badalada com alguns títulos de indiscutível importância no cinema moderno, mas aqui, no seu Oldboy, parece aquele técnico que pensou mal o jogo, entrou com um esquema estapafúrdio e, não deu três minutos, já saiu tomando gol. E aí, amigo, com um adversário cheio de graça, cheio de molecagens, não deu mais pra buscar.
Oldboy 2013 leva outro pelo fato de tomar a liberdade de fazer as pequenas alterações mencionadas anteriormente; outro por conta da fotografia do original que com seus quadros estáticos, parecendo quadrinhos, causam uma sensação, ao mesmo tempo de admiração e inquietação no espectador; toma mais um na comparação da famosa cena da luta, um plano sequência de tirar o fôlego que, na refilmagem parece artificial, excessivamente americana, diante da naturalidade, da maestria, da técnica, da gana com a qual é feita na coreana. Já tá 4x0!
Oldboy de Spike Lee parece não entender o que está se passando em campo e leva outro só por causa daquele vilão inexpressivo e excessivamente afetado vivido por Sharlto Copley. Nesse caso, não que original fosse muito melhor, mas é que o da segunda versão é inqualificável.
Completamente perdido em campo, o novo Oldboy leva mais um pelo fato de ter mexido com um elemento, que se não era fundamental, era muito significativo no final e que quem viu o filme sabe do que se trata, mas que eu corto a língua de quem revelar. E no finalzinho, o bom diretor norte-americano numa jornada infeliz, ainda vai buscar mais uma no fundo da rede por ter se metido de pato a ganso em tentar refazer, imitar, superar, igualar a pequena joia de Park Chan-wook. A violência gráfica com cenas chocantes, explícitas, ainda que não representem ganho em relação ao original, garantem, no entanto, um golzinho de honra, uma vez que caracteriza um diferencial válido na refilmagem. Mas ficamos por aí... Parecia um pesadelo. Parecia a Alemanha em 2014. Um estrondoso 7x1 do Velho Oldboy sobre o Novo. Muito justo o placar. Um banho de bola... ou melhor, de cinema.
Dae-su e Ducett, em busca de vingança com martelo em punho.
Park Chan-wook, técnico dos Garotos de 2003, apesar da esmagadora vitória é expulso pelo juiz da partida por sair da área técnica e reclamar demais da arbitragem.
Hipnotizante, uma historia que foge da realidade, para falar a verdade bem maluca, com personagens bem estereotipados mas que funcionam muito bem. Não posso falar muito do filme por que ele merece ser visto. "Oldboy" um roteiro inteligente e cheio de reviravoltas que irão fazer você ficar de boca aberta.
Sem saber por quem e nem porquê, Oh Dae-su (Min-sik Cho) fica preso em um quarto durante 15 anos. Ao sair daquele lugar procura entender o que se passou em sua vida. Mesmo afastado de tudo, Oh Dae-su foi acusado de matar sua mulher e agora quer vingança, custe o que custar.
O inicio do filme pode parecer meio confuso e pode ser bem difícil absorver os primeiros 15 minutos mas passado o susto inicial, (não o da violência, porque essa só aumenta) você já consegue entender o filme, e se identificar com Oh Dae-su. Aliás, este é um aspecto bem interessante do filme (para alguns), estilo violento exagerado com cenas tão fortes que fazem por vezes você virar o rosto para outro lado, ao melhor estilo Tarantino (detalhe: este filme ganhou o prêmio do júri em Cannes no seu ano de lançamento. Sabem que era o presidente do júri? Ele mesmo, Tarantino).
Dae-su (Min-sik Choi), nem preciso falar nada.
Min-sik Choi no papel de Oh Dae-su, tem uma atuação formidável conseguindo transmitir toda loucura de um homem que fica preso por muitos anos. Tudo funciona no personagem para o torná-lo carismático. Oh Dae-su, não agrada apenas pelas ótimas cenas de luta, como na MARAVILHOSA sequência da luta com o martelo (assim que ele pegar o martelo, você só para de olhar para a tela depois que ele largar o martelo, ok?), mas também pelos dramas que passa. Enquanto você esta distraído com a ação frenética e sangue jorrando, o filme tenta mostrar a influência da televisão na vida das pessoas. Oh Dae-su, passa praticamente 24 horas por dia, enquanto esta preso, assistindo à TV, e através dela aprende a lutar. É a sua janela para mundo como para muitos também é a internet .
Oh Dae-su e Mido: que casal! ops...que dupla.
É um filme de formação. Oh Dae-su, tem apenas uma certeza: a vingança. O resto são dúvidas, o que aconteceu com sua filha? Por que ele estava preso? O que mudou no mundo? E vamos acompanhando essa formação do personagem, psicológica e física. Falando assim por cima, Oh Dae-su parece um personagem unidimensional que só pensa em vingança, mas não é, neste processo de descobrir o homem que lhe tirou a liberdade, muitas coisas acontecem que eu não vou revelar. Kang Hye Jung está ótima como Mi-do, de aparência frágil e delicada mas de personagem muito forte, acaba se tornando uma grande aliada de Oh Dae-su. Não tem tanta evolução como o personagem principal, mas é igualmente importante no desenrolar da trama. O vilão é ótimo, mas não vou falar muito dele porque se você não viu filme vai estragar sua experiência (Ei, psiu! Se viu, chega aqui pertinho. Que FDP esse Lee Woo-jin, não é?)
Park Chan-wook tem uma direção competente a excelente narrativa. Nada no filme é por acaso, tudo que esta em cena tem algum sentido, uma importância, como as asinhas no começo do filme, por exemplo. Prepare-se para ficar hipnotizado por "Oldboy", só não saia por aí dando spoilers. Cuide muito bem da sua língua.