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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Elmore James (Elmo James) - "The Sky is Crying" (1965)


 

"Elmore sempre será 
o cantor e guitarrista de blues
 mais emocionante e dramático
 que eu já tive a chance 
de ver se apresentar."
George Adins
escritor e fotógrafo,
amigo de músicos e
frequentador da cena blues 
dos anos 50 e 60


Ele é considerado o "Rei da Slide Guitar"! Sabe aquela escorregada do dedo pelas cordas da guitarra com um tubo de metal? Pois é. Isso é o slide guitar. Não que ele tenha inventado a técnica, mas poucos a utilizaram como ele nenhum outro bluesman a tornou tão popular. Outra contribuição técnica de Elmore James foi a que, de certa forma, ele foi meio que um precursor da distorção na guitarra. Não a inventou, não chegou a usá-la efetivamente, e, na verdade, o recurso só veio a ser criado bastante tempo depois, mas Elmore, apaixonado pelo instrumento, curioso e inventor, trabalhando numa oficina de aparelhos eletrônicos, desenvolveu algumas técnicas e fez alguns experimentos que aprimorarem o som da guitarra e tornaram seu som singular dando o primeiro passo na direção de intervenções de outros elementos no som final do instrumento.

Só por aí já vê-se porque Elmore James é considerado um dos nomes mais influentes não somente do blues como da música, num todo. Mas no que diz respeito especificamente ao estilo que veio da alma dos negros do Mississipi, Elmore James, com seu vocal rascante e seus acordes hipnóticos, se destaca entre os pioneiros da popularização do blues, ainda nos anos '30, passando de coadjuvante de nomes como Sonny Boy Williamson e Howlin' Wolf, para quem tocara integrando suas bandas, a protagonista, reconhecido pelo estilo e pelos sucessos, especialmente por "Dust my Broom", inúmeras vezes regravada ao longo dos tempos na história da música. A canção, uma variação de "I Believe I Dust my Broom", de Robert Johnson, carrega, até por isso mesmo, uma certa controvérsia quanto à sua autoria, influência ou inspiração original. Quem teria "copiado" de quem? Polêmicas à parte, o fato é que era bem comum numa época muito primeva, muito amadorística, sem direitos autorais, que artistas incorporassem uma coisinha aqui outra ali de algo que ouviram em outra cidade, que gravaram com um parceiro, conheceram por acaso, etc. Mas, no caso específico..., quem se importa? São duas excelentes versões e a de Jones, certamente é  das mais conhecidas e cultuadas. Mas muito se engana quem acha que o repertório de Elmore James não se limita a "Dust my Broom". A fantástica "The Sky is Crying", a contagiante "Rollin' and Trumblin'", de Sonny Boy Williamson, a intensa "I'm Worried" com seu riff estridente, e a instrumental "Bobbie's Rock", são apenas algumas que também merecem todo a atenção e a consequente admiração do ouvinte.

Elmore gravou em uma época em que albuns não eram comuns e cantores  normalmente gravavam compactos, assim, não existe, efetivamente, nenhum registro seu de longa duração em seu auge. No entanto, a coletânea "The Sky is Crying", lançada pouco depois de seu falecimento, em 1965, traz algumas das mais importantes canções gravadas por ele e alguns de seus maiores sucessos.
Ouvindo Elmore James a gente entende porque adjetivos como lenda, mestre, gênio são atribuídos a caras como ele. E aí não resta muito a dizer além do óbvio: Lenda! Mestre! Gênio!


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FAIXAS:
1 The Sky Is Crying 2:47
2 Dust My Broom 2:54
3 I Held My Baby 2:50
4 Fine Little Mama 2:32
5 Bobbie's Rock 2:09
6 I Can't Stop Lovin' You 2:33
7 I Done Somebody Wrong 2:20
8 Rollin' And Tumblin' 2:30
9 One Way Out 2:25
10 My Bleeding Heart 3:05
11 I'm Worried 2:44
12 Standing At The Crossroads 2:56

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Ouça:
Elmore James - The Sky is Crying



por Cly Reis


sábado, 12 de setembro de 2015

Howlin' Wolf - "Howlin' Wolf" ou "The Rockin' Chair Blues" (1962)



"Seus olhos se iluminavam e você podia
ver as veias se incharem no seu pescoço
e, irmão, sua alma inteira
se concentrava naquela canção.
Ele cantava com a danada da alma."
Sam Phillips,
da gravadora Sun Records,
descrevendo Howlin' Wolf



Um uivo de lobo.
Uma voz potente.
Um homem transfigurado em animal no estúdio.
Assim era Chester Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin' Wolf, um dos maiores nomes do blues de todos os tempos. Artista de admiráveis qualidades vocais, exímio manejo da guitarra e performances arrasadoras em shows, Wolf que começara na Sun, gravadora que revelou Elvis Presley, teve, no entanto, seu período de maior sucesso pelo famoso selo Chess, de Chicago, curiosamente levado pelas mãos do, sabidamente um arquirrival, Muddy Waters.
Rivalidades à parte, cada um com seus talentos, muitos diga-se de passagem, havia espaço para os dois na Chess. A maioria dos músicos do staff da gravadora gravavam as canções do baixista da casa e compositor Willie Dixon, mas poucos como Wolf tiraram tanto proveito desta parceria. Saíram das maos de Dixon alguns dos maiores sucessos de Howlin' Wolf e diga-se de passagem, em contrapartida, são dele algumas das melhores interpretações das músicas de Dixon.
Wolf já havia gravado um disco desde sua chegada à Chess mas que ainda trazia heranças da Sun Records, sua antiga gravadora, e contava apenas com as composições do próprio cantor, mas foi com o disco conhecido popularmente como "The Rockin' Chair Blues" que Wolf alçou voo definitivamente no universo do blues muito em função das composições de Dixon e de seu dedo na produção.
O disco abre com a excitante "Shake For Me", uma incitação à libido e já traz na sequência o clássico "The Red Rooster" cantado de maneira arrastada por Wolf com o acompanhamento de por uma slide guitar matadora do próprio cantor. A música ganharia inúmeras versões posteriores, nas quais ganharia o diminutivo pela qual é mais conhecida ("Little"), dentre elas a suingada de Sam Cooke, a suja do Jesus and Mary Chain e a maliciosa dos Rolling Stones.
"Who's Been Talkin'", um blues lento, quebrado com um toque latino é uma das duas, apenas, de autoria do próprio cantor no disco, e ""Wang Dang Doodle", que a segue é pegada, cheia de embalo, com uma guitarra vibrante e um refrão contagiante.
Outra que já foi regravada incontáveis vezes, por Etta James, Who, pelo Cream de Eric Clapton, mas que tem na versão deste blueseiro do Mississipi, a primeira, diga-se de passagem, uma de suas melhores interpretações, é a magnetizante "Spoonful",  mais uma das obras-primas de Dixon imortalizada pelo vocal singular do Lobo.
Na chorosa "Going Down Slow" onde o vocalista praticamente apenas declama a letra, o que destaca-se mesmo, desde a introdução martelada, é o piano; já em "Back Door Man", Howlin' Wolf retoma o protagonismo e encarna o personagem soltando ganidos arrepiantes numa canção que é uma espécie de assombração sensual e sedutora e que cuja versão, talvez, mais conhecida seja a da banda The Doors gravada logo em seu álbum de estreia.
Bem ritmada, embalada, impetuosa, "Howlin' for My Baby" (que também é conhecida com a variação de "... My Darling"), talvez a melhor tradução da fusão de estilos do blues do Delta para o de Chicago, encaminha com grandiosidade o final do disco para que "Tell Me", a outra composição de autoria de Wolf no disco, um gostosíssimo blues com uma levada apaixonante de harmônica  se encarregue de fechar de forma magistral.
Um daqueles caras para o qual a alcunha lenda do blues cabe perfeitamente, ainda mais reforçada pelo nome sugestivo que carregava, pelas performances insanas no palco, pelo feitiço que impunha às mulheres e pelos uivos quase animalescos que emitia em suas interpretações. Seria aquela figura na verdade uma criatura entre o home e o lobo? Teria ele, como o outro legendário Robert Johnson, feito algum pacto sinistro cujo preço seria que dividisse sua forma entre o humano e o bestial, metamorfoseando-se depois de determinada hora, em determinados dias, em dada fase lunar? Ficaria ele assim, mesmo em sua forma humana com traços do animal o que explicaria seus grunhidos, uivos e rosnados característicos e sua forma gigantesca e quase gutural? Bobagem, bobagem. Mas, ei... Alguém aí ouviu um uivo?
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FAIXAS:
  1. "Shake for Me" – 2:12
  2. "The Red Rooster" – 2:22
  3. "You'll Be Mine" – 2:25
  4. "Who's Been Talkin'" (Howlin' Wolf) – 2:18
  5. "Wang Dang Doodle" – 2:18
  6. "Little Baby" – 2:45
  7. "Spoonful" – 2:42
  8. "Going Down Slow" (St. Louis Jimmy Oden) – 3:18
  9. "Down in the Bottom" – 2:05
  10. "Back Door Man" – 2:45
  11. "Howlin' for My Baby" – 2:28
  12. "Tell Me" (Howlin' Wolf) – 2:52
* todas as faixas compostas por Wilie Dixon, exceto as indicadas
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Ouça: