J. Kay comandou o showzaço da Jamiroquai em POA |
Ingresso de algum dos afortunados que assistiram o show bem de perto naquela noite |
A vinda do grupo, aliás, se deu justamente no momento de
maior sucesso mundial da banda, motivado pelo estouro do seu terceiro álbum, “Travelling
Without Moving”, de um ano antes. Sabe aqueles discos que mais de 80% das
faixas se tornaram hits? É o caso deste, um dos poucos casos desse fenômeno nos
anos 90, ajudado, inclusive, pela fase áurea da MTV, que rodava seus
videoclipes em looping. Resultado: uma paulada atrás da outra. "Virtual
Insanity", "Alright", "Cosmic Girl" e a faixa-título
do disco que motivou a turnê, por exemplo, incendiaram a galera, que sacolejou
aos montes mesmo espremida pelas poltronas. Isso porque, o espaço definitivamente
não foi o ideal: um Teatro do Sesi com cadeiras fixas que impediram o público
de dançar num show claramente apto a isso. Afinal, provinciana, Porto Alegre
não tinha nada melhor em termos de aparelho cultural - dois espaços que poderiam
ter recebido o show, o Teatro Bourbon Country, inaugurado em 2007, ainda nem
existia e o Araújo Vianna só seria reaberto 15 anos depois.
A grande Jamiroquai no seu auge no show de SP dias antes para o mesmo Free Jazz |
Isso tirou a naturalidade da plateia, claro, mas não suficientemente para apagar o brilho daquela noite. Afinal, Jason Kay e Cia., indiferentes a este problema, mandaram ver numa apresentação competente e empolgante. Além dos sucessos, teve direito a outros temas conhecidos e/ou queridos do público não apenas do disco de então, mas também dos ótimos “Emergency On Planet Earth” (1993) e “The Return Of The Space Cowboy” (1994), considerados por muitos dos fãs seus melhores trabalhos. São exemplos "Space Cowboy", jazz-soul muito inspirada na brasileira Azymuth; bem como “Hooked Up”, que abriu o show em alta numa rotação funk, e a fantástica “Too Young To Die” (“Do-do-do-do-do, da-da-do, da-da-do-do”), ambas do primeiro disco. Teve direito, ainda, a solo de Wallis Buchanan de didjeridu (“Didjital Vibrations”), aquele instrumento de sopro dos aborígenes australianos que a Jamiroquai adotou desde sempre.
Funk, jazz, AOR, disco, rap, rock, dance. A Jamiroquai é
tudo isso e mais um pouco, o que pude conferir ao vivo na minha própria cidade
em quase 2 horas incendiárias. Não lembro como foi o retorno de volta em plena
madrugada de um domingo considerando que cerca de 27 km distanciavam minha casa
do teatro e que pegar um táxi seria uma fortuna (provavelmente, mais caro do
que o próprio ingresso que havia pago). Mas cheguei em segurança, com certeza – se
não, nem estaria aqui relembrando disso tudo. Nesse aspecto, morar numa quase província haveria de ter as suas vantagens.
(10/10/97/SP)