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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Exposição “Plano de Observação”, de José Damasceno – Santander Cultural – Porto Alegre/RS (23/05/2015)









Ilusão visual e dicotomia na obra de Damasceno
Numa passagem rápida pelo Santander Cultural, o qual não visitava fazia muitos meses, Leocádia Costa e eu vimos a exposição “Plano de Observação”, do badalado artista visual carioca José Damasceno. Um pouco por causa da própria badalação – muitas vezes exagerada ou até injustificável nesses histéricos tempos atuais –, além do fato de serem somente instalações – o que poderia ser apenas para mascarar a falta de aptidão em outras técnicas mais apuradas das artes plásticas, falta que também comumente se vê por aí –, confesso que fui com certa precaução.
Sem necessidade, pois a curta mas exuberante exposição de Damasceno é bastante assertiva e interessante por, justamente, transpor essas outras técnicas da arte (pintura, escultura, desenho) para o conceito 3D da instalação. Ou seja: aquilo que na maioria dos casos se espera de uma boa obra de instalação: poder enxergar a tradição da arte retransformada naquela composição visual moderna. No caso das obras de Damasceno, estas te colocam numa zona que a curadora da mostra, Lígia Canongia, diz com acerto no texto de abertura: “entre a realidade objetiva e uma perspectiva fantasmática”. Isso porque, escultor por princípio, ele cria espaços simbólicos que geram cruzamentos entre esses polos dicotômicos.
Na prática, é fácil entender tais atribuições teóricas. Basta observar por mais de um ângulo a obra
“Observation plan”, de 2003, composto por 30 mil lápis, todos de cor bege. Sim, são os lápis que, presos a uma placa branca de 17 metros de largura por 1,5 de altura, constroem, quando vistos de frente, formas que mais parecem pinturas “neo-rupestres”. No entanto, quando olhados de lado, tomam outra forma aqueles vários palitos que se projetam da parede como espinhos, gerando uma reidentificação por parte do observador da qualidade interna da obra.
Tal perspectiva metalinguística que a obra de Damasceno suscita é fortemente percebida nos outros sete trabalhos expostos, principalmente em “Monitor Crayion” (2012-2014), quadro no qual ele compõe a “pintura” justamente com aquilo que produz o traço: gizes de cera, dispostos de forma semialeatória sobre uma grande tela sustentada em madeira e aço. A sensação de ilusão visual se repete através do gigantismo de “Poco a Poco”, em que cinco desenhos abstratos são montados lado a lado apenas por adesivos de vinil preto redondos, os quais são perceptíveis em sua natureza bruta apenas quando mirados de perto.
Bastante interessante também é a crítica e sarcástica “Mass media para modelar”, uma sala de aula com “carteiras” e “quadro negro” onde os alunos são meras deformações inanimadas feitas de massas de modelar. Ainda, os volumes densos de “Cinemagma” (estopa, madeira e vidro, 2000), que invadem o salão central do espaço, criam uma sensação de estranheza e certo pavor, haja vista que, pelo menos a mim, remetem àqueles organismos gosmentos e radioativos dos filmes de terror B cujo crescimento e perigo são incontroláveis. “Monitor”, quadro feito apenas em lã, e “Parábola”, um interessante “desenho” composto em mármore que parece, ao mesmo tempo, o mapa de uma cidade medieval, uma trilha de peças de dominó e um entremeado de tecidos, impressionam antes de qualquer coisa pelo seu desenho, os quais dão origem aos outros formatos que dele decorrem.
Como a curadora descreve, José Damasceno nos leva a “uma topologia inesperada, em um movimento das dimensões ‘normais’ do tempo, do espaço e da representação”. De fato, pois, instigantes e significadas para além de seu próprio “corpo”, tudo na obra de Damasceno depende do “plano de observação” que o olhar de cada um dará.

Detalhe de Observaton Plan, remete às pinturas das cavernas

A impressionante e fantasmagórica Cinemagma

Metalinguagem no quadro feito com gizes de cêra colados

A instigante Mass Media Para Modelar

Quadro Monitor, feito em lã

Leocádia observando por outro ângulo a obra montada com lápis


texto e fotos: Daniel Rodrigues

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“Planos de Observação” de José Damasceno
onde: Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1028 – Centro Histórico – Porto Alegre/RS)
quando: até 26 de julho, terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 13h às 19h
entrada: gratuita