Desagradavelmente bom. É o que posso dizer de “Titane”.
Um violento acidente de carro
deixou longos e duradouros efeitos colaterais: uma criança carrega uma placa de
titânio em seu crânio; uma modelo de showroom de carros começa a ter atração
sexual por seus produtos; depois de um tempo, uma gravidez inesperada se
transforma em um massacre aterrorizante e um bombeiro se reencontra com um
homem brutalmente queimado que diz ser seu filho perdido.
Um filme que vai direto para te chocar. Ele quer deixar você desconfortável e, devo admitir que em várias cenas fiquei. Se sua vibe é aquela famosa “Vou ver um filme para desligar o cérebro”, esquece! Impossível isso. A diretora, Julia Ducournau, do também chocante "Raw", quer seu cérebro bem ligado.
Muitas vezes, na minha opinião, "Titane" tenta chocar até demais e se prolonga em algumas cenas para este objetivo, contudo, quando decide ir direto ao ponto, mesmo com todo seu “horror” desconfortável, ele só tem acertos. E quando vai para uma direção de autoaceitação, de se respeitar, de se compreender mesmo com seus defeitos, acerta mais ainda e , nisso, tanto Agathe Rousselle, como Alexia, com sua fixações e fetiches (e crimes também), quanto Vincent Lindon, como Vincent, que nos é apresentado injetado hormônios no próprio corpo para manter a virilidade, trazem essa carga de tentar se adequar e se aprovar, ambos com suas tragédias e suas histórias.
Entre acertos e erros, “Titane”, vencedor da última Palma de Ouro em Cannes, se sai bem com muito mais pontos positivos que negativos. É desconfortável na medida certa mas tem a capacidade de gerar algumas boas reflexões. Um longa que daqueles que continua na sua cabeça por dias.
Peque o carro e vá ver o filme. Vrumm! Vrumm!
E isso é só o começo... |
por Vagner Rodrigues