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quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #298

 

Fica até difícil achar o MDC nessa multidão toda de argentinos. Mas a gente facilita a coisa pra vocês, até porque hoje tá bem fácil escutar com tanta coisa boa que tem: Al Di Meola, Tom Zé, O Rappa, Neneh Cherry, Toni Tornado, New Order e mais. Ainda, no quadro especial, uma lista sobre mulheres inspiradoras. Invadindo o obelisco, o programa levanta a taça hoje às 21h na tricampeã Rádio Elétrica. Produção, apresentação e reverências a Messi: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

sábado, 7 de março de 2020

"A Vingança de Jennifer", de Meir Zarchi (1978) vs. "Doce Vingança", de Steven R. Monroe (2010)




Na Semana da Mulher, nada mais apropriado que um Clássico é Clássico que traz à tona uma questão seríssima e, infelizmente, ainda muito frequente no nosso dia dia: a violência e os abusos contra a mulher. Para isso teremos um duelo de times que só são rivais dentro das quatro linhas, porque quando o que está em jogo são os direitos das mulheres, as equipes jogam do mesmo lado. Quando se trata de botar estuprador no seu devido lugar, a estratégia de ambos os times é a mesma: agressividade total!
Tanto "A Vingança de Jenniffer" (1978), quanto "Doce Vingança" (2010) contam, basicamente a mesma história. Uma jovem escritora se retira no interior, em uma casa de campo, para ter um pouco tranquilidade para escrever seu livro quando alguns rapazes lá da cidadezinha interpretam que, se ela uma mulher foi para um lugar daqueles sozinha e foi simpática com eles é porque, A) é vagabunda; B) é presa fácil ; C) tá pedindo; D) quer dar; E) merece ser estuprada ; F) todas as alternativas anteriores, e assim, não hesitam em violentá-la com requintes de crueldade. O grande erro deles foi achar que o jogo estava morto, ou melhor..., que ela estava morta. Dando o jogo por ganho, eles relaxam e ficam à mercê do contra-ataque fulminante da vítima.
Em ambas as versões, a protagonista, Jennifer, recupera-se dos ferimentos e vai buscar um a um dos seus agressores, numa marcação implacável homem a homem. Aí o jogo descamba pra violência! E se o juiz já tinha permitido tudo o que fizeram com ela, perdeu a moral pra coibir o revide e aí a pancadaria comeu solta!
O antigo, filme de baixo orçamento mas considerado por muitos um cult-movie, já impressionava, na época, pela intensidade da vingança de Jennifer, mas as "maldades" da nossa heroína no remake conseguem ser ainda mais impressionantes e sangrentas. Depois de tudo pelo que passou, a Jennifers Hills do novo filme torna-se quase uma sádica, tomando um gosto especial por cada vingança, sujeitando cada um a uma tortura equivalente à que ela passara, e repetindo, inclusive, a seus algozes, na hora de suas execuções, frases que os mesmos disseram a ela no momento do estupro. É bem verdade que ela se torna, de uma hora para outra, meio "ninja" demais, bolando um plano de assassina profissional e capturando e abatendo homens fortes e pesados, mas há de se levar em conta que a personagem é uma escritora e portanto, para bem de darmos um desconto pelo exagero, podemos considerar que ela é bem mais inteligente que aqueles capiais cabeças-de-ervilha, que é muito criativa para executar planos mirabolantes e que, julgando que ela estaria morta, os pegou todos desprevenidos... Vá lá, então.

"A Vingança de Jennifer" (1978) - Mortes

"Doce Vingança" (2010) - Mortes

"A Vingança de Jennifer" sai na frente pelo fato do filme ter sido idealizado pelo diretor Meir Zarchi após ter socorrido uma vítima de estupro em Nova York, o que confere uma boa legitimidade ao caráter do filme. Ou seja, não foi hipocrisia de macho que quer jogar pra torcida. No entanto, "Doce Vingança" vira o jogo pela qualidade técnica, uma vez que o antigo era bastante tosco, praticamente um time de várzea; pela narrativa que é muito deficiente no original e neste encaminha melhor cada situação; pela intensidade, de um modo geral, e pelas cenas da vingança especificamente. Embora a cena do estupro em si, seja mais impactante no remake, a sequência dentro da casa, em determinado momento fica longa e cansativa, e levando-se em consideração a época em que cada filme foi feito, a de 1978 leva uma pequena vantagem. Mas quando a nova Jennifer pega cada um dos taradões aí é que o bicho pega! Todas as desforras dela são das boas, mas a do garotão líder do grupo e a do xerife, que é um personagem de acréscimo em relação ao filme anterior, são as que levam a torcida à loucura. No caso do personagem Johnny, ela chega na cara do gol, dá "um corte" seco e marca um golaço! Chupa, machão!!! A antiga Jennifer também havia se utilizado de uma "jogada" parecida e até estava na banheira, mas como o juiz já estava pressionado por tanta permissividade na primeira metade do jogo, o gol foi validado. Mas é com o xerife, no finalzinho do jogo, em que acontece a grande jogada da partida: como uma bala, ela entra por trás da zaga e, sem piedade, enfia pra dentro com tudo! Tá lá no fundo!!! E a galera grita, "Ei, xerife, vai tomar....".
Fim de jogo!
"Doce Vingança" faz cinco gols: um pela qualidade, outro pela narrativa, outro pelo ritmo, outro pelo falador que teve que calar a boca, e outro pelo xerife que gostava de entradas por trás. "A Vingança de Jennifer" que saiu na frente pela coerência do tema e teve um gol irregular confirmado pela arbitragem, ainda fez o terceiro pela cena do abuso, mas o placar final ficou assim: 5x3 para o remake.
Ambos não são grandes filmes, é necessário dizer, mas eis aqui um caso em que o original, por mais limitado que seja, é, curiosamente reverenciado e cultuado como um clássico. O problema é que pegou um time mais preparado pela frente, com mais qualidade e, um palavra que está na moda no futebol, intensidade. "Doce Vingança" pode não alcançar o status de clássico, mas que tem  mais bola que seu antecessor, tem.

As duas Jennifer, a de 1978 (à esq.), Camille Keaton,
e (à dir.) a de 2010, Sarah Butler, ambas depois do brutal estupro.



Um jogo em que, na verdade, não existem vencedores nem perdedores.
Salvo, é claro, o exagero da reação da protagonista, algo intolerável em qualquer situação, de tirar a vida de outro ser humano, ainda mais de forma tão cruel, o recado que ambos os filmes dão é que é inaceitável que homens continuem a abusar, violentar e matar mulheres pelo mundo afora por acharem que estas estão "pedindo para serem estupradas", por conta de sua aparência, vestimenta, modos, disposição ou vulnerabilidade.
A grande "vitoriosa", no filme, se é que se pode assim chamar, diante de tanta violência, é a dignidade da mulher.
Achou que ia passar pela marcação da nossa heroína?
Machistas não passarão!




Cly Reis


quarta-feira, 27 de março de 2019

Música da Cabeça - Programa #103


Não é só porque estamos no finzinho do Mês da Mulher: é porque aqui elas estão sempre na nossa cabeça. Um programa (quase) todo feminino foi o que calhou esta semana, pois terá Liz Fraser, Marina Lima, Gal Costa, Maria Rita, Suzanne Vega, Lady Miss Kier e outras. Não será diferente no “Música de Fato”, no “Palavra, Lê” e no quadro móvel da semana, “Cabeção”. Tudo com a massiva presença delas. Seja homem ou mulher, o negócio é escutar o Música da Cabeça de hoje, às 21h, pela feminilíssima Rádio Elétrica. Produção e apresentação dela: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sábado, 10 de março de 2018

Elas metem medo




As canadenses irmãs Soska
nomes de destaque na nova cena feminina do terror.
Durante muito tempo, devo admitir, nutri uma série de restrições a filmes dirigidos por mulheres. Com exceção de algumas diretoras como Agnés Varda, Jane Campion, Agnieszka Holland, Sophia Coppola e mais uma que outra ou alguma obra eventual, de um modo geral torcia o nariz para filmes de realizadoras. Não por julgá-las menos capazes ou talentosas para a atividade, mas muito em função da própria identidade criada em torno de suas obras, fruto das limitações ou das imposições  estabelecidas pelos estúdios e da própria expectativa comportamental apregoada pela sociedade machista, que com seus dogmas como "isso não é coisa de menina", "mulher tem que ser comportada", entre outros tantos, acabou por padronizar o produto cinematográfico feminino tornando-o, muitas vezes, previsível e enfadonho.
Mas os novos tempos, o surgimento de um novo pensamento no tocante a gêneros e uma nova atitude feminina, associada à abertura, ainda que pequena, de oportunidades e confiança por parte de produtores fez surgir uma nova geração de cineastas "de saias" cheia de ideias, vigor e talento. Desatreladas dos padrões estabelecidos como "femininos", elas abordam, sim, assuntos pertinentes à sua condição de mulher, mas o fazem de maneira mais inventiva, ousada e reflexiva. No terror, por exemplo, estilo cujos princípios básicos sempre foram veementemente apartados das mulheres desde suas infâncias ("menina não vê essas coisas", "isso é muito nojento", "tem que ver filme de princesa"...), e no qual muito raramente figuravam até dez, quinze anos atrás, parece agora encontrar uma safra criativa, madura e livre dessas amarras estéticas e morais capaz de produzir bons trabalhos e imprimir sua identidade. Selecionamos, aqui, alguns destes filmes dirigidos por mulheres que mostram que elas começam a se destacar num dos gêneros até então mais predominantemente masculinos do cinema, com bons argumentos e trabalhos muitíssimo bem realizados. Podem começar a ficar com medo porque elas estão chegando.




1. "O Babadook", de Jennifer Kent (2014) - Um dos filmes de terror mais assustadores dos últimos tempos numa história repleta de símbolos e metáforas que aborda temas como perdas, a maternidade sozinha e estados psicológicos conflitantes e relação a um filho, com muita criatividade e inteligência.
Amelia perde o marido em um acidente de carro no dia em que está para ter seu bebê e a partir dali passa a, de certa forma, responsabilizar o filho pela perda e a todos os problemas decorrentes daquela ausência, nunca dedicando o amor e a dedicação que deveria a ele. O menino Samuel, com 6 anos, tem problemas de comportamento na escola, um temperamento difícil e uma mente muito inventiva e a mãe não lida nada bem com nenhuma destas situações tratando-o com indiferença, negligência e até raiva. Num dos raros momentos em que reúne paciência para dar alguma atenção ao garoto, resolve ler para ele e encontra na estante um livro que não conhecia chamado Mister Babadook e aí que os problemas começam de verdade pois o personagem do livro, um homem de capa, cartola, corpo esticado e unhas enormes, lembrando um figura de expressionismo alemão, começa a atormentar e ameaçar o garoto e a mãe e, pelas páginas do livro anuncia que não irá deixá-los em paz.
Talvez a criatura seja somente fruto da mente confusa e inventiva de Samuel, talvez seja realmente apenas um livro do mal, talvez o pai retornando do além, ou ainda, talvez seja nada menos do que o próprio estado mental de Amelia em relação ao filho e a projeção e materialização de sua negação a ele, da qual ela só conseguirá se livrar se conseguir lidar com isso.





2. "Raw", de Julia Ducournau (2016) - Terror forte, intenso, pesado, chocante, com cenas gráficas de canibalismo mas que não deixa de trazer assuntos interessantes à tona. Maturidade, sexualidade, autodescoberta e autoaceitação são alguns dos temas presentes em "Raw" , ótimo filme da francesa Julia Ducournau de apenas 34 anos.
Uma garota vegetariana que acaba de entrar na faculdade de veterinária, Justine, em um dos trotes pesados impostos pelos veteranos é obrigada a comer rim de coelho, mudando então drasticamente seu comportamento a partir deste momento, passando não somente a comer carne como a ter atitudes estranhas e assustadoras. A carne parece ter libertado a Justine que estava presa dentro dela. A verdadeira Justine. Uma pessoa que se escondia atrás do vegetarianismo, da virgindade, da pureza, de valores que na verdade talvez não tivessem a importância que ela queria fazer crer. Uma volta ao mais primário instinto do homem. O instinto animal.






3. "Boa Noite, Mamãe", de Veronika Franz e Severin Fiala (2016) - Um dos filmes mais perturbadores que já assisti. "Boa Noite, Mamãe" é tenso do início ao fim. Sua limpidez e calmaria, sem sustos ou sobressaltos, contrasta com a tensão presente no ar o tempo inteiro. Uma mulher volta para casa depois de uma cirurgia plástica no rosto mas seus dois filhos gêmeos, Elias e Lukas, têm dúvidas se aquela mulher que retorna é mesmo sua mãe. A atadura no rosto, sua atitude ríspida, sua indiferença e uma série de outros pequenos indícios fazem com que os garotos, num primeiro momento a confrontem e adiante, a mantenham prisioneira chegando a torturá-la física e psicologicamente em busca de uma confissão e da revelação do paradeiro da verdadeira mãe.
O filme muito bem dirigido pela austríaca Veronika Franz em parceria com Severin Fiala faz questão de deixar uma série de questões em aberto de modo a manter o espectador curioso e intrigado. O que houve com a mulher para que fizesse uma cirurgia plástica? Houve um acidente? Um incêndio? Os meninos teriam algo a ver com isso? Será por isso que a "mãe" proíbe isqueiros? Será por isso que ela ignora um dos gêmeos? E será que realmente são duas crianças?... Assista e tire suas próprias conclusões.






5. "Acorrentados", de Jennifer Lynch (2002) - Essa é filha de peixe! Tem seu talento, tem seu estilo, tem suas próprias ideias mas não dá pra ignorar que ter sido criada no lar de um dos mestes do cinema contemporâneo ajuda muito na formação. E no caso de Jennifer Lynch parece que não apenas na escolha do caminho como na linguagem, uma vez que faz a linha esquisitona do pai com temas sombrios, violentos, surreais e grotescos, o que já ficava evidente em sua estreia com o bizarro "Encaixotando Helena" de 1993. Em "Acorrentados" ela volta ao maníaco obsessivo e dominador desta vez com um taxista que sequestra uma mulher e seu filho na saída do cinema. Bob, o taxista, estupra e mata a mulher mas mantém o garoto de nove anos como prisioneiro e o faz permanecer assim por muitos anos, até a adolescência, acorrentado, sempre presenciando outros sequestros e crimes contra mulheres.
A violência contra a mulher e aquela ideia que muitos homens tem que por usar determinada roupa ou agir de tal maneira a mulher "está pedindo pra ser estuprada" são assuntos evidentes na abordagem da diretora, mas temas como violência doméstica na infância e traumas psicológicos ligados à família também aparecem principalmente no que diz respeito ao vilão Bob.
Esse não é exatamente um terror, mas vindo da família Lynch, no mínimo é de mexer com a cabeça de qualquer um.






6. "Garota Sombria Caminha Pela Noite", de Ana Lily Amirpur (2014) - Uma espécie de justiceira sobrenatural que vaga pelas noites iranianas colocando machões, abusadores e traficantes no seu devido lugar e que, numa dessas perambulações noturnas, topa com Arash, um rapaz envolvido com traficantes e cujo pai é viciado, que está exatamente tentando se afastar daquele universo envenenado de Bad City, a cidade fictícia onde vivem. O encontro dos dois, criaturas que de alguma forma precisam de algo que complete ou que justifique suas vidas, parece frear um pouco os ímpetos da garota e quem sabe, amenizar sua sede de sangue.
Típico cult movie. Preto e branco, cenas longas, diálogos breves, silêncios, quadros estáticos e ação mais psicológica do que prática. Muito interessante a direção de arte que, mesmo com orçamento baixíssimo, mistura elementos dos de épocas diferentes deixando indeterminado o momento em que acontece a ação, bem como a trilha sonora que reforça essa sensação de indefinição de tempo e local, com ênfase em música americana dos anos 80, mas com momentos de música clássica e canções regionais iranianas. Embora seja cheio de referências à cultura e ao cinema americano, "Garota Sombria Caminha Pela Noite", por seu ritmo, sua estética e dinâmica é um daqueles filmes para quem está interessado numa proposta diferente como filmes de arte e "filmes cabeça".





7. "American Mary", de Jen e Sylvia Soska (2012) - Terror com toques de fetichismo. "American Mary" conta a história de uma estudante de medicina que, ainda durante o curso, decepcionada com o universo da profissão que escolhera e vendo sua situação financeira cada dia pior, ao tentar a carreira de stripper sendo que em seu primeiro dia na boate, uma circunstância inesperada faz com que tenha que pôr em prática suas habilidades médicas. a partir dali entra para o ramo de cirurgias clandestinas de modificações corporais executando algumasoperações absolutamente bizarras.
O que começa como uma necessidade financeira que ela realiza cheia de relutância e até repugnância, transforma-se numa atividade sádica e prazerosa e um objeto de vingança. 
Forte, sangrento, sádico, "American Mary" de certa forma coloca em discussão os sonhos profissionais, a ética dentro de uma atividade, os caminhos que podem levar uma pessoa a realizar algo fora de seus padrões morais e mais uma vez, os abusos sexuais contra mulheres. Uma boa mostra do cinema das promissoras irmãs Soska que, sem dúvida, tem muito mais coisas interessantes a oferecer.







8. "O Convite", de Karyn Kusama (2015) - Will e sua namorada Kyra são convidados para um jantar com amigos do tempo de colégio e faculdade na casa da ex-esposa dele, Eden, depois de anos sem se verem e de terem superado, ambos, separados, à distância, a tragédia em comum da morte de seu filho. Eden, agora com um novo marido parece refeita e animada, no entanto o convite e o jantar parece esconder algo de muito suspeito que apenas Will parece perceber mas que é ignorado e subestimado pelos demais convidados supondo que a desconfiança de Will se dê em função de todo o trauma que sofrera.
Embora não seja brilhante, o filme tem o mérito de manter essa dúvida de estar ou não acontecendo alguma coisa estranha e o espectador vai sendo absorvido e cada vez mais envolvido na trama em grande parte graças à atuação do ator Logan Marshall-Green que, sendo o centro de observações dos fatos e das ações dos outros personagens, nos transmite todas as sensações com de maneira muito convincente.
O roteiro meio que escorrega lá pela metade, a justificativa toda em si não é das mais válidas, mas a cena final do filme é simplesmente inquietante.






9. "Quando Chega a Escuridão", de Katrhyn Bigelow (1987) - Este provavelmente é o mais fraco da lista mas vai apenas para destacar a diretora que seria a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor direção, aqui ainda em seu segundo longa. "Quando Chega a Escuridão" é uma espécie de terror road-movie- western de vampiros. Entendeu?
Tudo começa quando um rapaz, Caleb, conhece Mae e no fim da noite ela lhe pede uma carona para casa. Só que durante o caminho ela começa a demonstrar algum pânico pela inevitável chegada da manhã e aí, né, já sabemos porquê. Ele não escapa dos dentinhos dela e é lavado até um grupo de amigos da garota, saqueadores e baderneiros, todos vampiros, é claro, onde ele terá que passar por uma prova para entrar para a gangue uma vez que não é bem-vindo. 
O filme de Bigelow se distingue de muitos do gênero pelo caráter humano que ela confere às criaturas da noite, não mencionado, por exemplo, a palavra vampiro em momento algum do filme. O roteiro se perde um pouco em alguns momentos, a trama acaba corrida demais e o final fica um pouco em desacordo com o que foi todo o resto do filme mas mesmo assim é interessante observar o crescimento do cinema da cineasta. Com certeza que valeu pela experiência e aprendizado até chegar à estatueta dourada.





10. "O Cemitério Maldito", de Mary Lambert (1989) - Esse é um bônus! Outro que não é da nova geração mas serve bem para ilustrar o trabalho das mulheres no cinema de terror.
Uma família se muda para uma nova casa na beira de uma rodovia movimentada. Lá, o gato da família morre atropelado na estrada destino que muitos outros mascotes já vieram a ter, conforme conta Ju, o vizinho ao dr. Louis Creed, o novo morador. Sensibilizado pela tristeza que a morte do bichano causaria ao menininho, filho de Louis, o velhote revela que ali perto existe um antigo cemitério indígena no qual se crê que quem for enterrado lá volta à vida. O médico usa o artifício com o gato e o resultado é positivo apenas em parte pois o bicho volta à vida mas diferente do que era, muito mais agressivo e perigoso. Vendo, logo em seguida seu filho, Gage, ter o mesmo destino na movimentada estrada, Louis não hesita em enterrá-lo no cemitério dos bichos para trazê-lo de volta mas o retorno do filho é ainda pior do que o do animalzinho de estimação. 
Baseado no romance "O Cemitério" de Stephen King e roteirizado pelo mesmo, "O Cemitério Maldito" é um clássico do terror sendo frequentemente lembrado em listas de melhores pelos cinéfilos amantes do gênero. Destaque ainda para o tema musical do filme, "Pet Sematary" dos Ramones, que além da boa história, bom roteiro, maquiagem assustadora e climão aterrorizante, é mais um ponto a seu favor.




Cly Reis

quinta-feira, 8 de março de 2018

Mulheres, às armas

O rock morreu. O que temos hoje é um uma sombra daquele gigante capaz de abalar sociedades e apavorar conservadores. Um eco apenas daquele rompante capaz de nos fascinar, nos fazer levantar e nos estimular a desafiar o mundo. Se tanto, um sopro daquele furacão capaz de combater as injustiças e a desigualdade do planeta. O que vemos hoje vagando entre nós é uma entidade fraca e impotente que vive da reputação do que já fora mas que infelizmente parece sem forças para ressurgir da forma grandiosa que tivera outrora. Não se vê mais nos últimos tempos artistas no mundo pop-rock com o ímpeto e a gana que a prática de sua atividade naturalmente exigiria. Pode parecer papo de velho mas não se sente mais a energia que se sentia ao descobrir uma música ou uma banda nova. E não pensem que eu tenho a cabeça fechada porque eu dou chance, até demais. Até tem, é verdade, uma meia dúzia bandas e artistas que nos fazem sentir aquele brilho que o rock sempre nos proporcionou mas, de um modo geral, é tudo muito repetitivo e/ou inexpressivo.
Em grande parte essa estagnação se dá pela superficialidade que tomou a música de um modo geral. Não há uma motivação. O rock sempre bateu de frente com as imposições da sociedade e representou lutas diferentes para momentos distintos da nossa história nos últimos 60 anos. Incitou a que se lutasse pela liberdade de se ouvir o que se quisesse, depois para que se usasse o cabelos do comprimento que achassem melhor, para que se usasse a roupa que bem entendesse, a fazer amor com quem tivesse vontade, exigiu que se parasse com guerras estúpidas, reclamou da pobreza, do desemprego, do perigo nuclear, e hoje o que ele faz? Ele simplesmente diz sim para o primeiro contrato com uma grande gravadora ou para o primeiro milhão de visualizações na internet.
A impressão que dá é que falta uma causa por que lutar. Não que não elas não existam, a intolerância, a violência, a desigualdade e outros tantos motivos estão aí, mas parece que a juventude, que sempre foi a força motriz de movimentos ou agitações desistiu de fazer da música sua arma e simplesmente se conformou.
Talvez um segmento que canalizasse os anseios e as inconformidades de filões sistematicamente prejudicados dentro da sociedade tivesse capacidade e o poder para redimir o rock de sua presente passividade. E aí que penso que as mulheres, na condição de grupo mais efetivamente engajado e atuante nos últimos tempos, seria o que melhor teria condições de, com sua luta e reivindicações, trazer nova vida ao meio musical. Sei que existem outros filões igualmente desatendidos e discriminados mas creio que nenhum seria tão poderoso e legítimo quanto o feminino. Negros, por mais que tenham desempenhado papel fundamental em todas os períodos e estilos da música ocidental do último século, nunca tiveram uma representatividade marcante dentro do mundo do rock. Digo como um todo. Pode-se pinçar um nome aqui, outro ali mas a verdade é que na maioria das vezes a música negra não direcionou sua arte para o protesto. Há a música de periferia, é verdade, mas ela acaba sendo subvalorizada e quase ignorada enquanto clamor, na medida em que fica muito segmentada e muitas vezes desvinculada da realidade do consumidor final. Homossexuais penso que não seriam levados a sério como deveriam. Muito em função dos atuais ídolos e representantes deste grupo que quando não são inexpressivos são caricatos, e do público, que talvez carente de uma figura realmente representativa, abrace tais figuras de maneira quase messiânica. Sem falar que nas outras vezes em que o segmento LGBT teve alguma projeção maior na mídia, como na disco-music, por exemplo, não tirou o melhor proveito que poderia de um momento em que os olhos e ouvidos de grande parte da sociedade estavam voltados para eles. Creio que no caso de gays, essa tomada de assalto só funcionaria com um aglutinador, com um nome muito forte e com ascendência o bastante, como foi Bowie no início dos anos 70, quando fez com que, quem era, se assumisse, quem não era, quisesse ser e quem não era, simplesmente curtisse e respeitasse porque era muito bom.
Não! Nenhum outro grupo não teria a universalidade da mulher. Este engloba todos essas classes e todas suas causas: a da pessoa discriminada por sua cor, da pessoa que só quer ter o direito de amar quem ela quiser, da pessoa cujo povo é dizimada por guerras ou outros interesses, da pessoa que sofre violência doméstica, da pessoa que é abusada sexualmente, da pessoa que ganha menos no trabalho e todas as outras pessoas que se sintam de alguma forma violentadas em sua integridade enquanto ser humano.
No que tange especificamente à matéria musical, seria este o momento das mulheres finalmente assumirem um protagonismo no cenário rock uma vez que, embora sempre tivessem, em qualquer momento, grandes representantes e pioneiras, pelo contexto sócio-cultural que sempre as cercou, com exceção de uma ou outra que meteu o pé na porta e não quis nem saber, nunca puderam efetivamente serem as "donas do pedaço", fosse por limitações impostas, padrões comportamentais exigidos ou por uma idealização do feminino dentro do universo musical, o que, na maior parte das vezes levava a uma perda de identidade e de qualidade, fazendo do produto final algo totalmente fútil e descartável. Às vezes aparece uma Madonna, que nem é efetivamente ROCK mas que tem atitude de tal, e que se impõe um pouco acima disso tudo usando a indústria quando esta pensa que a está usando. Mas de resto, as demais parecem ser todas o mesmo "produto", posando de empoderadas enquanto apenas fazem o jogo que a mídia espera delas.
Não tenho nenhum indício de que algo nesse sentido esteja acontecendo ou por acontecer. Trata-se muito mais de um desejo do que de uma constatação. Mas imagino o quanto seria interessante essa troca: as mulheres com sua luta e inconformidade utilizando-se de um dos mais potentes e poderosos canais que o mundo já viu, ao mesmo tempo que, com seu grito e sua indignação, dão nova vida a esse colosso preguiçoso, pois no fim das contas esse fogo é tudo o que ele precisa uma vez que foi do que ele sempre se alimentou.
Alguns fãs de rock, especialmente os mais novos, podem não concordar com a minha afirmação julgando-me meramente um tiozão saudosista e desatualizado. Mulheres, frequentemente incomodadas quando homens opinam sobre assuntos que lhes dizem respeito julgando inaptos para tal por não estarem na pele delas, podem não aprovar minha proposição por partir ela de alguém do gênero oposto ou por considerá-la, no fundo, mais interesseira e preocupada com os rumos do rock'n roll enquanto instituição do que com as causas feministas. Que seja! Então reclamem de mim! Reclamem do que quiserem. Mas o façam com uma guitarra na mão.
Vamos lá. Sempre que se sentirem incomodadas por alguma coisa, saquem suas guitarras, liguem os amplificadores e soltem a voz. Vocês estarão salvando o rock! Ele precisa de vocês. Precisa de sua fúria, de sua raiva, de suas causas. E ele lhes promete em troca nada mais nada menos do que o mundo.
E então, o que vocês estão esperando? Garotas, balzacas, ninfetas, putas, pretas, fofas, nanicas..., às armas, senhoritas, às armas. Ou melhor, às guitarras.


Cly Reis