Porém, como a "Fênix", título da espetacular e emblemática canção que abre o show em ritmo de baião-rock, Cátia renasceu. Em 2024, lança o já clássico disco "No Rasto da Catarina" e ressurge para um novo público e para os antigos amantes de sua música. Indicado ao Grammy Latino e tornado cult imediatamente, o disco, somado ao título que ela recebe de patrimônio cultural da Paraíba, enfim, motivam a que a artista venha pela primeira vez ao Rio Grande do Sul, aproveitando a programação do 32º Porto Alegre em Cena.
E toda e expectativa não foi frustrada, tanto para nós da plateia, que vimos um show vibrante, melodioso e cheio de empoderamento, quanto para a própria Cátia, impressionada com o calor do público do Sul. Com o repertório do excelente "No Rastro...", entremeado por vários números do seu célebre trabalho inaugural, a apresentação contou ainda com a animada participação da potiguara Juliana Linhares, uma ótima cantora e performer que somou sua voz a da ídola Cátia, bem como cantou também músicas de seu repertório.
Num quase lotado e bastante empolgado Teatro Simões Lopes Neto, o há pouco inaugurado novo espaço do Multipalco Theatro São Pedro, Cátia, uma entidade negra de 78 anos, trouxe emocionantes execuções das novas canções, como a ótima reggae-xote-rock "Bósnia", composta nos anos 90 mas muito atual em um mundo de guerras da Ucrânia e Gaza. Outra que tocou, principalmente as mulheres presentes, foi "Negritude", manifesto negro e feminista de uma representante tomada de "lugar de fala", pois mulher, preta, nordestina, idosa e LGBT. A letra diz: "Já não tenho medo/ Minha pele agora é minha lei/ Meu cabelo é diferente/ A vasta mistura me torna mais gente".
Igualmente belas, "Espelho de Oloxá", parceria com as jovens musicistas Regina Limeira e Khrystal Saraiva, a impactante "Em Resposta", o blues-rock "Academias e Lanchonetes" e a sertaneja "Conversando Com o Rio", num rico arranjo. Também das recentes, a caribenha "Malakuyawa", sobre a sabedoria da velhice, o gostoso samba-soul "Indecisão" e a balada "Meu Pensamento II" (que ficaria muito bem na voz de Alcione, #ficaadica).
Das clássicas, "20 Palavras Girando ao Redor do Sol", tema principal do disco de 1979, arrasou. Da mesma forma, a balada filosófica "Kukukaya", sobre a criação da vida, e o arrasador forró "Quem Vai Quem Vem". Sob a atmosfera da poesia de João Cabral de Melo Neto, a qual perfaz todo aquele brilhante disco, Cátia ainda traz ao público porto-alegrense as parcerias "Ensacado", dela com Sérgio Natureza, e a feminíssima "Djaniras", esta, com Xangai e Israel Semente.
Juliana dá sua contribuição com energia no palco e uma sincera reverência a Cátia, uma de sua referências musicais junto com Amelinha e Elba Ramalho - esta última, por sinal, com quem guarda semelhanças no timbre vocal. Além do xote tangueado "Tereco e Mariola", duas outras de seu repertório sacudiram o público em especial: o maracatu "Bombinha" e o cativante xote "Balanceiro", que teve seu refrão cantado pela galera: "Eu não posso mudar o mundo/ Mas eu balanço/ Eu balanço o mundo".
Para finalizar, Cátia e Juliana reservaram duas antigas: o irresistível baião "O Bonde" ("Óia lá vai o bonde") e, no bis, outra clássica: "Coito das Araras", com direito a Cátia tocando triângulo. Aí, a plateia já estava de pé antes mesmo de aplaudi-la por minutos.
A vontade de assistir ao vivo Cátia de França foi totalmente satisfeita. O que só veio a comprovar outra coisa que senti na música dela também desde a primeira vez que ouvi: que ela faz um dos sons mais modernos que a música brasileira já inventou. Nordestina, brasileira e universal. E resistente. Afinal, como a Fênix, Cátia renasceu das cinzas para "desassossego dos seus inimigos" e deleite de nós fãs.
🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶
![]() |
| Começando o show com Cátia e sua competente banda |
![]() |
| Uma entidade negra no palco |
![]() |
| Cátia e banda somados agora à voz de Juliana Linhares |
![]() |
| Encerrando o belíssimo primeiro show da musicista paraibana no RS |





.jpeg)