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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Marmota Jazz - Theatro São Pedro.- Porto Alegre (5/12/2017)



Há uma crescente renovação nas hostes do jazz e da música instrumental não só no Rio Grande do Sul como no Brasil. Mas aqui esta renovação traz ventos de criatividade e densa criação musical. Foi o que vimos, no Theatro São Pedro, no show de lançamento do disco "A Margem", do Marmota Jazz, grupo formado por Leonardo Bittencourt aos pianos acústico e elétrico; Pedro Niederauer Moser, na guitarra; André Mendonça, no baixo acústico; e Bruno Braga, na bateria.

Notabilizada pela qualidade de seus integrantes e pela fineza nas composições e arranjos, a banda resolveu dar um passo à frente, incorporando elementos eletrônicos e distorções, especialmente na guitarra de Moser. A platéia lotada de jovens vibrou com as invenções do quarteto e aplaudiu de pé a performance. O novo repertório é complexo com os meninos viajando nos temas que se transmutam, seja nos tempos das composições, seja em suas harmonias. Para meu gosto pessoal e intransferível, preferiria que o guitarrista Pedro Moser não abusasse tanto dos efeitos. Como ele próprio me disse depois do espetáculo, "foi um show roqueiro”. Eu não diria isso, pois as novas tendências do jazz e da música instrumental fazem uso de todos os recursos, acústicos e/ou eletrônicos, em suas apresentações. Vide o caso do saxofonista do momento, Kamasi Washington, que se apresenta com teclados e DJ. Mas acredito que a experiência com os efeitos ainda será mais e melhor explorada no som do grupo.

Como eu estava num camarote central, no terceiro piso do TSP,, onde o som chegava embolado, não consegui entender o que disse o ator Marcos Contreiras em sua intervenção recitada durante uma das músicas novas. O Marmota também me lembrou as atuações das bandas fusion dos anos 70, como Return to Forever, Pat Metheny Group e Mahavishnu Orchestra, pela intensidade do trabalho e pela constante mudança de climas durante a mesma composição. Todos os integrantes tem seus momentos de brilho mas, além da guitarra "billfriseriana" de Moser, Leonardo Bittencourt mostrou toda a sua destreza ao piano acústico, Bruno Braga mesclou sutileza com intensidade na sua bateria e o baixista André Mendonça é a âncora do grupo. Enquanto os outros viajam, ele segura as pontas com um approach às vezes lírico, às vezes funcional. A inventividade do grupo conseguiu vencer as dificuldades e apresentou um espetáculo que lavou a alma dos que foram ver o lançamento do segundo disco.

texto: Paulo Moreira
foto: Marilene Bittencourt

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Vitor Ramil – Theatro São Pedro - Porto Alegre/RS (22/10/2017)



Vitor Ramil apersenta seu novo Campos Neutrais no São Pedro
Muito se falou sobre a excelência do disco e do show "Campos Neutrais" do grande Vitor Ramil. Ouvi o disco durante a semana e fui ao show no domingo, dia 22. O disco traz o rigor da gravação, do apuro técnico e da utilização dos recursos do Estúdio Audio Porto para nos deslumbrar. Já o show é a música viva, em contato com o público - sem conhecer o trabalho, em sua maioria - e respirando aquela atmosfera engendrada por Vitor, pelos percussionistas e pelo Quinteto Porto Alegre com os arranjos do Vagner Cunha.

Como me disse o próprio autor, os arranjos de sopros foram realizados após a gravação das percussões. A mistura orgânica entre os metais e ritmos percussivos chamou a atenção da minha amiga Beatriz Gil e aponta para um outro caminho melódico. As participações da sobrinha Gutcha e do genro Felipe Zancanaro são perfeitas. As letras percorrem os afetos - "Isabel", para a filha; "Ana", com a "ajuda" de Bob Dylan, para a esposa e companheira de sempre - mas também enfocam situações e narradores diversos.

Como o violinista rumo à morte em "Stradivarius" e a guarita da beira da praia em "Hermenegildo". A indignação com a política vem em forma poética em "Palavra Desordem". A importância das cidades da moradia, "Satolep Fields Forever", e da visita, "Duerme Montevideo" também está presente. Aliás, nesta última está o verso que resume bem as intenções de Vitor: "Viver é maior que a realidade". O conceito de Campos Neutrais está perfeitamente realizado, tanto no disco como no palco.


Paulo Moreira