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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Cátia de França convida Juliana Linhares - 32º Porto Alegre em Cena - Teatro Simões Lopes Neto - Multipalco Theatro São Pedro - Porto Alegre/RS (16/09/25)

 

Desde a primeira vez que escutei Cátia de França alimentava a vontade de vê-la ao vivo. Anos atrás, isso era um desejo apenas remoto. Esta paraibana genial, dona de composições ímpares e de um estilo que agregava à geração nordestina um toque feminino e original, já era uma figura cultuada entre apreciadores da música popular brasileira com seu mitológico álbum de estreia, "20 Palavras ao Redor do Sol", de 1979. Para vê-la, talvez nem na sua Paraíba, tendo em vista que a carreira, distante do estrelato, trouxe alguns hiatos nestes mais de 40 anos em que lançou apenas outros seis trabalhos de estúdio, sendo a maioria por selos independentes.

Porém, como a "Fênix", título da espetacular e emblemática canção que abre o show em ritmo de baião-rock, Cátia renasceu. Em 2024, lança o já clássico disco "No Rasto da Catarina" e ressurge para um novo público e para os antigos amantes de sua música. Indicado ao Grammy Latino e tornado cult imediatamente, o disco, somado ao título que ela recebe de patrimônio cultural da Paraíba, enfim, motivam a que a artista venha pela primeira vez ao Rio Grande do Sul, aproveitando a programação do 32º Porto Alegre em Cena. 

E toda e expectativa não foi frustrada, tanto para nós da plateia, que vimos um show vibrante, melodioso e cheio de empoderamento, quanto para a própria Cátia, impressionada com o calor do público do Sul. Com o repertório do excelente "No Rastro...", entremeado por vários números do seu célebre trabalho inaugural, a apresentação contou ainda com a animada participação da potiguara Juliana Linhares, uma ótima cantora e performer que somou sua voz a da ídola Cátia, bem como cantou também músicas de seu repertório.

Num quase lotado e bastante empolgado Teatro Simões Lopes Neto, o há pouco inaugurado novo espaço do Multipalco Theatro São Pedro, Cátia, uma entidade negra de 78 anos, trouxe emocionantes execuções das novas canções, como a ótima reggae-xote-rock "Bósnia", composta nos anos 90 mas muito atual em um mundo de guerras da Ucrânia e Gaza. Outra que tocou, principalmente as mulheres presentes, foi "Negritude", manifesto negro e feminista de uma representante tomada de "lugar de fala", pois mulher, preta, nordestina, idosa e LGBT. A letra diz: "Já não tenho medo/ Minha pele agora é minha lei/ Meu cabelo é diferente/ A vasta mistura me torna mais gente".

Igualmente belas, "Espelho de Oloxá", parceria com as jovens musicistas Regina Limeira e Khrystal Saraiva, a impactante "Em Resposta", o blues-rock "Academias e Lanchonetes" e a sertaneja "Conversando Com o Rio", num rico arranjo. Também das recentes, a caribenha "Malakuyawa", sobre a sabedoria da velhice, o gostoso samba-soul "Indecisão" e a balada "Meu Pensamento II" (que ficaria muito bem na voz de Alcione, #ficaadica).

Das clássicas, "20 Palavras Girando ao Redor do Sol", tema principal do disco de 1979, arrasou. Da mesma forma, a balada filosófica "Kukukaya", sobre a criação da vida, e o arrasador forró "Quem Vai Quem Vem". Sob a atmosfera da poesia de João Cabral de Melo Neto, a qual perfaz todo aquele brilhante disco, Cátia ainda traz ao público porto-alegrense as parcerias "Ensacado", dela com Sérgio Natureza, e a feminíssima "Djaniras", esta, com Xangai e Israel Semente.

Cátia canta um de seus clássicos com a irreverente 
e talentosa Juliana Linhares, "Quem Vai Quem Vem"

Juliana dá sua contribuição com energia no palco e uma sincera reverência a Cátia, uma de sua referências musicais junto com Amelinha e Elba Ramalho - esta última, por sinal, com quem guarda semelhanças no timbre vocal. Além do xote tangueado "Tereco e Mariola", duas outras de seu repertório sacudiram o público em especial: o maracatu "Bombinha" e o cativante xote "Balanceiro", que teve seu refrão cantado pela galera: "Eu não posso mudar o mundo/ Mas eu balanço/ Eu balanço o mundo".

Para finalizar, Cátia e Juliana reservaram duas antigas: o irresistível baião "O Bonde" ("Óia lá vai o bonde") e, no bis, outra clássica: "Coito das Araras", com direito a Cátia tocando triângulo. Aí, a plateia já estava de pé antes mesmo de aplaudi-la por minutos.

A vontade de assistir ao vivo Cátia de França foi totalmente satisfeita. O que só veio a comprovar outra coisa que senti na música dela também desde a primeira vez que ouvi: que ela faz um dos sons mais modernos que a música brasileira já inventou. Nordestina, brasileira e universal. E resistente. Afinal, como a Fênix, Cátia renasceu das cinzas para "desassossego dos seus inimigos" e deleite de nós fãs.

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Começando o show com Cátia e sua competente banda

Uma entidade negra no palco

Cátia e banda somados agora à voz de Juliana Linhares

A espetacular "Coito das Araras", que encerrou brilhantemente o show de Cátia de França


Encerrando o belíssimo primeiro show da musicista paraibana no RS



texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Marmota Jazz - Theatro São Pedro.- Porto Alegre (5/12/2017)



Há uma crescente renovação nas hostes do jazz e da música instrumental não só no Rio Grande do Sul como no Brasil. Mas aqui esta renovação traz ventos de criatividade e densa criação musical. Foi o que vimos, no Theatro São Pedro, no show de lançamento do disco "A Margem", do Marmota Jazz, grupo formado por Leonardo Bittencourt aos pianos acústico e elétrico; Pedro Niederauer Moser, na guitarra; André Mendonça, no baixo acústico; e Bruno Braga, na bateria.

Notabilizada pela qualidade de seus integrantes e pela fineza nas composições e arranjos, a banda resolveu dar um passo à frente, incorporando elementos eletrônicos e distorções, especialmente na guitarra de Moser. A platéia lotada de jovens vibrou com as invenções do quarteto e aplaudiu de pé a performance. O novo repertório é complexo com os meninos viajando nos temas que se transmutam, seja nos tempos das composições, seja em suas harmonias. Para meu gosto pessoal e intransferível, preferiria que o guitarrista Pedro Moser não abusasse tanto dos efeitos. Como ele próprio me disse depois do espetáculo, "foi um show roqueiro”. Eu não diria isso, pois as novas tendências do jazz e da música instrumental fazem uso de todos os recursos, acústicos e/ou eletrônicos, em suas apresentações. Vide o caso do saxofonista do momento, Kamasi Washington, que se apresenta com teclados e DJ. Mas acredito que a experiência com os efeitos ainda será mais e melhor explorada no som do grupo.

Como eu estava num camarote central, no terceiro piso do TSP,, onde o som chegava embolado, não consegui entender o que disse o ator Marcos Contreiras em sua intervenção recitada durante uma das músicas novas. O Marmota também me lembrou as atuações das bandas fusion dos anos 70, como Return to Forever, Pat Metheny Group e Mahavishnu Orchestra, pela intensidade do trabalho e pela constante mudança de climas durante a mesma composição. Todos os integrantes tem seus momentos de brilho mas, além da guitarra "billfriseriana" de Moser, Leonardo Bittencourt mostrou toda a sua destreza ao piano acústico, Bruno Braga mesclou sutileza com intensidade na sua bateria e o baixista André Mendonça é a âncora do grupo. Enquanto os outros viajam, ele segura as pontas com um approach às vezes lírico, às vezes funcional. A inventividade do grupo conseguiu vencer as dificuldades e apresentou um espetáculo que lavou a alma dos que foram ver o lançamento do segundo disco.

texto: Paulo Moreira
foto: Marilene Bittencourt

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Vitor Ramil – Theatro São Pedro - Porto Alegre/RS (22/10/2017)



Vitor Ramil apersenta seu novo Campos Neutrais no São Pedro
Muito se falou sobre a excelência do disco e do show "Campos Neutrais" do grande Vitor Ramil. Ouvi o disco durante a semana e fui ao show no domingo, dia 22. O disco traz o rigor da gravação, do apuro técnico e da utilização dos recursos do Estúdio Audio Porto para nos deslumbrar. Já o show é a música viva, em contato com o público - sem conhecer o trabalho, em sua maioria - e respirando aquela atmosfera engendrada por Vitor, pelos percussionistas e pelo Quinteto Porto Alegre com os arranjos do Vagner Cunha.

Como me disse o próprio autor, os arranjos de sopros foram realizados após a gravação das percussões. A mistura orgânica entre os metais e ritmos percussivos chamou a atenção da minha amiga Beatriz Gil e aponta para um outro caminho melódico. As participações da sobrinha Gutcha e do genro Felipe Zancanaro são perfeitas. As letras percorrem os afetos - "Isabel", para a filha; "Ana", com a "ajuda" de Bob Dylan, para a esposa e companheira de sempre - mas também enfocam situações e narradores diversos.

Como o violinista rumo à morte em "Stradivarius" e a guarita da beira da praia em "Hermenegildo". A indignação com a política vem em forma poética em "Palavra Desordem". A importância das cidades da moradia, "Satolep Fields Forever", e da visita, "Duerme Montevideo" também está presente. Aliás, nesta última está o verso que resume bem as intenções de Vitor: "Viver é maior que a realidade". O conceito de Campos Neutrais está perfeitamente realizado, tanto no disco como no palco.


Paulo Moreira